Wilson Witzel é afastado do mandato de governador por suspeita de corrupção

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ESTADO/VOLTA REDONDA

Oitenta e três mandados de busca e apreensão foram cumpridos, além de 13 mandados de prisão, sendo três alvos que já estavam presos e dez em liberdade. Uma investigação aponta que Wilson Witzel seria o líder de um esquema de desvios na saúde, teor da Operação Tris In Idem, deflagrada nesta sexta-feira, 28, pela Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República. O afastamento do governador foi determinado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Dos mandatos de prisão cumpridos está o presidente do PSC, Pastor Everaldo, o advogado Lucas Tristão, ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico; e o médico e ex-prefeito de Volta Redonda Gothardo Lopes Netto. Ao todo oito estão em Benfica, um em São Paulo e Gothardo ficou em Volta Redonda porque foi hospitalizado.

Um dos alvos de mandados de busca e apreensão foi também o vice-governador Claudio Castro, assim como o presidente da Alerj, Andre Ceciliano. A primeira dama Helena Witzel também foi denunciada pela Procuradoria Geral da República por corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro.

A operação foi feita com base na delação do ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, em outras ações. Essa operação indica que Witzel também se cercou de integrantes de dentro e de fora do governo para dar continuidade ao esquema de corrupção, a exemplo de Sérgio Cabral, que está preso.

MEIO MILHÃO

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o escritório de advocacia da primeira-dama Helena Witzel recebeu R$ 554,2 mil entre 13 de agosto de 2019 e 19 de maio deste ano de quatro entidades de saúde ligadas a membros da organização criminosa.  Seria uma espécie de operacionalização da “prática de corrupção e posterior lavagem de capitais”. Parte desse valor, cerca de R$ 74 mil, foi parar diretamente nas contas do governador.

Primeira-dama e o governador – Foto: Divulgação

Segundo os investigadores, ela tinha casos praticamente inexpressivos antes do marido tomar posse, em janeiro de 2019. Ela teria contratos ligados a empresas de Mario Peixoto e Gothardo Netto. Quatro no total que passaram a render a primeira-dama R$ 60 mil mensais.

A PGR apreendeu um email escrito pelo governador orientando os interessados a redigir contrato com o escritório da Helena. Ela participa de um processo de execução fiscal da família de Gothardo, dona do Hospital Infantil e Maternidade Jardim Amália Ltda (Hinja), em Volta Redonda. O processo já tinha como advogado Lucas Tristão. Do hospital a primeira-dama recebeu R$ 112,6 mil, além dos outros contratos com as demais empresas – DPAD serviços diagnósticos LTDA (R$ 112,6 mil), Cootrab Cooperativa Central de Trabalho (R$ 59,4 mil) e Quali Clínicas Gestão e Serviços de Saúde (R$ 102,2 mil).

Nas investigações, Pastor Everaldo é citado na delação premiada do ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, por conta de sua influência no Palácio Guanabara. Santos disse que o presidente do PSC era quem mandava na saúde.  Os dois filhos dele também foram presos, Felipe Pereira e Laércio Pereira. Houve pedido de prisão de Wilson Witzel, mas não foi aceito pela Justiça. O argumento era de que o grupo estava ainda agindo desviando recursos e lavando recursos em plena pandemia de Covid-19.

OPERAÇÃO DA PF

Na operação, participam aproximadamente 380 Policiais Federais nos Estados de Alagoas, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Sergipe, São Paulo e Piauí, além do Distrito Federal. Também existem ações de cooperação policial internacional com medidas sendo cumpridas no Uruguai. Além disso, foram determinadas, pela Justiça, outras medidas diversas da prisão, tais como suspensão do exercício de função pública, proibição de contatos e de acesso a determinados locais.

Os investigados responderão, na medida de suas participações, pelos crimes de organização criminosa, da Lei 12.850/2013; peculato, corrupção ativa e corrupção passiva, previstos no Código Penal Brasileiro; e “lavagem de dinheiro”, da Lei 9.613/1998.

CITADOS EM INVESTIGAÇÃO SE MANIFESTAM

Na manhã de ontem o governador afastado falou à imprensa. Ele disse estar indignado com a operação e que está sendo perseguido pelo presidente Jair Bolsonaro e pela subprocuradora Lindora Araújo, do MPF.  “Mais um circo sendo montado. Bolsonaro que já declarou que quer o Rio de Janeiro, já me acusou de perseguir a família dele”, declarou, sugerindo ser vítima de perseguição. Ele esta afastado do cargo por 180 dias.

“Desafio a apresentar qualquer papel que indique vantagem ilícita por minha parte. Reafirmo que não tenho absolutamente medo da delação desse canalha, Edmar (Santos). O processo penal brasileiro está se transformando em um circo com essas delações mentirosas, que estão sendo produzidas e usadas politicamente”, disse.

A defesa de Gothardo disse em nota que desconhece as razões e fundamentos legais que motivaram a decisão da decretação da medida prisional e que não possui meios para apresentar maiores esclarecimentos no momento.

Em nota, a defesa do Pastor Everaldo afirmou que ele sempre esteve à disposição de todas as autoridades e reitera a sua confiança na Justiça. A defesa dos seus filhos disse que “a prisão temporária que recai sobre os filhos do Pastor Everaldo é extremamente injusta e desnecessária”.

Os demais citados não se manifestaram através de suas defesas.

SEIS GOVERNADORES AFASTADOS OU PRESOS

Segundo informações, desde 1987, o Estado do Rio só teve dois governadores que não foram afastados ou presos: Benedita da Silva e Brizola. Seis estão na lista negativa: Moreira Franco, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e agora Witzel.

PEDIDO DE IMPEACHMENT TEM AVAL DO STF PARA CONTINUAR

Na tarde de ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, decidiu manter a tramitação do processo de impeachment do governador afastado. Foi revogada por Moraes uma decisão do presidente do Supremo, Dias Toffoli, que tinha determinado que a Alerj formasse uma nova comissão especial para discutir o processo. Ele afirma na decisão que não houve irregularidade na formação da primeira comissão.

Dois nomes da linha sucessória também são investigados

Ontem, o vice-governador Cláudio Castro, governador já em exercício, convocou uma reunião com a cúpula da segurança do Rio de Janeiro.  Apesar de ter assumido interinamente, Castro é um dos citados na operação, assim como o presidente da Alerj, André Ceciliano, com mandados de busca e apreensão.

De acordo com a PGR, os dois nomes na linha sucessória do Poder Executivo podem ser afetados. A procuradoria informou que ambos participaram da montagem do esquema criminoso para desviar recursos do Poder Legislativo. A delação de Edmar Santos aponta esse desvio acontecia sob pretexto de financiar secretarias municipais de Saúde. No entanto, os valores eram direcionados aos bolsos dos deputados estaduais, segundo a investigação. Foi apontado que foram repassados R$ 100 milhões dos duodécimos da Alerj para os cofres estaduais e não houve prestação de contas do estado.

Castro disse que está com sua consciência tranquila e à disposição para esclarecimentos.  Já André Ceciliano, em nota, disse desconhecer as razões de busca e apreensão em seu nome e que está à disposição para esclarecimentos.

Governador em exercício Cláudio Castro também tem seu nome envolvido – Divulgação

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