Sem Spoiler – Barbie

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O filme da boneca perfeita chegou ao cinema, mas será que ela é perfeita mesmo? Vem ver o que eu achei!

Por Yuri Melo 

 Fazia muito tempo que eu não via um filme furar todas as bolhas como Barbie está fazendo, ontem a cidade estava rosa pro filme e isso é algo incrível e um grande mérito do filme, mas será que esse marketing todo vai ser totalmente positivo pro filme? Na minha opinião não, é claro que inicialmente é maravilhoso, sessões lotadas e o mundo todo falando do filme, mas muitas pessoas estão indo achando que vão ver um filme completamente diferente, achando que vão ver uma nova versão de Legalmente Loira ou algo assim e acabam se deparando com uma obra complexa, profunda e que nos faz questionar a sociedade que vivemos e eu acredito que isso faça com que a bilheteria cai muito nas próximas semanas.

Antes de começar a falar do filme vou pontuar uma situação que acho importante, ao entrar na sessão me deparei com um mundo rosa lindo, várias pessoas vestidas como a Barbie e isso foi muito legal, porém o longa metragem da boneca cutuca muito a ferida da futilidade, da beleza por beleza vazia e com isso vi muitas pessoas que estavam ali como “fãs” da Barbie indo embora no meio do filme, dizendo que o filme é chato e sim é muito chato quando alguém ou algo mexi em defeitos que sabemos que temos, é incomodo, mas se a gente simplesmente vira as costas e sai, infelizmente não aprendemos nada. Então Barbie acaba tirando do cinema as mesmas pessoas que se diziam super fãs, o problema é que essas fãs abraçam uma ideia retrógada de futilidade e beleza que as bonecas representavam.

Pegando o gancho sobre a ideia que as bonecas representavam, o filme trata exatamente disso, como que uma ideia pode mudar tudo e uma ideia errada pode aprisionar por anos homens e mulheres. O roteiro é muito hábil em nos fazer entender as ligações entre o filme e a barbielandia e o nosso mundo, como que todos nós ficamos admirando as “barbielandias” alheias como se aquilo fosse possível e real. Ele tem um ar de pinóquio, com a ideia de um boneco que “quer” se tornar real e com isso usa a ingenuidade dos personagens pra ter alguns diálogos bem expositivos, mas de certa forma isso não me incomodou não, até porque muito do que é expositivo no filme é propositalmente, como se o casal roteirista disse “é isso e ponto” pra não ter mal entendidos! Além disso, obviamente o filme tem um ar de lacração, mas a direção e o roteiro foram brilhantes ao transformar a lacração em um artificio narrativo dentro da história.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

 

 

 

 

 

Sobre a direção, Greta Gerwig mostra o porquê é uma das maiores da geração e conduz o filme com uma maestria fantástica, ela sabe exatamente a história que quer contar e o como quer contar, além de ter feito um filme com muitas camadas que sem dúvida vai ficar melhor e mais profundo a cada vezes que reassistir. A diretora disse que não queria ver outra pessoa fazendo esse filme porque ninguém iria contar como ela contou, e estava certíssima, a sensibilidade pra mostrar todas as camadas e complexidades dos personagens e do mundo, o olhar atendo e curioso aos paralelos com nossa realidade, a metalinguagem e o humor muito bem encaixado, sem dúvida nenhuma faz esse filme ser uma aula de direção.

E com essa direção e roteiro afiados o filme ainda faz referências a filmes clássicos que tem homens em situação de protagonismo como 2001, Matrix e Harry Potter, tendo dentro disso subtextos muito bem-feitos e profundos, com destaque pra referência a Matrix que ainda gera uma rima visual com o final do filme perfeita! O humor do filme é extremamente bem encaixado, com piadas sutis que arrancavam aquele sorriso gostoso do rosto e por mais que o filme tenha aquele ar meio galhofa, essa sem dúvida é só a primeira camada.

As atuações da dupla principal, Margot Robbie e Ryan Gosling são sem dúvida nenhuma a cereja do bolo, eu acredito que vamos ver eles no Oscar do ano que vem! Margot da vida a uma Barbie estereótipo que por mais que tenha sido feita pra ser bidimensional ela tem uma gama de curiosidade e uma inteligência elevada. A loira consegue nos comunicar muito com o olhar e os trejeitos que criou para a personagem, seria muito fácil desandar para algo caricato demais, porém ela conseguiu manter uma personagem interessante que nos faz ter empatia com sua jornada. Enquanto Ryan cria um Ken que necessita de atenção, mas não pode mostrar isso, que sofre, mas tem que parecer forte, que não tem lugar no mundo, mas precisa parecer encaixado, tudo isso muitas vezes sem falar uma palavra, simplesmente fantástico! Todo o restante do elenco cumpre bem o seu papel, não se destacam muito mas também não atrapalham nada.

Em quesitos técnicos, um destaque pra direção de arte que criou um mundo incrível com referências lindas a quem brincava com as bonecas! Fotografia também está muito bem, e eu acredito que veremos ela disputando o peladão dourado também, pois ela nos ajuda a imergir no filme e tem um olhar muito curioso e delicado sobretudo o que está acontecendo, sabendo bem a hora de fechar nos personagens e nos dar aquela sensação de intimidade e quando nos mostrar um quadro maior e nos imergir naquele mundo, de fato gostei bastante. Trilha e efeitos sonoros ajudam muito o filme a caminhar também, mas não tem o objetivo de se destacar tanto. Figurino, cabelo e maquiagem também dão um show a parte!

Pra mim a única parte que destoou do filme foi o núcleo dos executivos da Matel, por eles estarem no mundo real achei as interpretações caricatas demais e tirando o primeiro arco deles, depois eles ficam sem função no filme e a direção não sabe o que fazer com eles. Acredito que de fato o único ponto que me incomodou foi esse.

Barbie é uma deliciosa explosão que nos faz refletir sobre a nossa sociedade e as prisões que nós mesmo criamos. Um filme que depois que você sai da sessão ainda rende boas horas de conversa com os amigos e nos coloca pra pensar, tendo questões que nos fazem rever os nossos pensamentos, sem dúvida homens e mulheres verão o filme de maneira bem diferentes!

VALEU MUITO O VALOR DO INGRESSO!

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