Polícia Civil abre inquérito para apurar racismo propagado em grupo de mensagens de estudantes de Resende

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RESENDE

O delegado titular da 89ª Delegacia de Polícia (DP) confirmou nesta quinta-feira, dia 5, que foi instaurado inquérito policial para investigar o envio de mensagens racistas propagadas, no último final de semana, por estudantes do Ensino Médio de um colégio particular tradicional no município. O caso repercutiu nas redes sociais.

As mensagens de cunho racistas foram enviadas em um grupo de WhatsApp criado por estudantes. No grupo intitulado “pretolandia da pas de já” e que teria mais de 64 pessoas, os alunos enviavam mensagens, durante uma festa realizada fora da escola, manifestando palavras racistas como: “preto é sujo” “branco é limpo”, “odeio preto escravizado”, “criola mulher empregada” “preto é sujo, igual a lixo”.

De acordo com o delegado Ronaldo Aparecido, o caso foi registrado na terça-feira, dia 3. “Já estamos apurando. Todos os envolvidos na denúncia estão prestando depoimento. Os autores adolescentes poderão responder por ato infracional de crime de racismo e ameaças”, explicou o delegado.

No grupo intitulado “pretolandia da pas de já” e que teria mais de 64 pessoas, os alunos enviavam mensagens, durante uma festa – Redes Sociais

REDES SOCIAIS

O envio de mensagens no aplicativo de mensagem chegou as redes sociais e as rodas de conversa de Resende. “É lamentável que em pleno século 21, ainda existam pessoas que pensam assim, isso vem de berço, educação em casa, com certeza os pais pensam do mesmo jeito, tem que serem punidos e servirem de exemplo para os demais”, disse uma internauta.

“Meu Deus, é lamentável esse tipo de atitude. Esperamos que seja tomada as devidas providências. Vejo essas atitudes e lembro que o racismo é a prova do quanto ainda somos primitivos”, comentou outra internauta.

“Não acreditei quando vi na internet o que havia acontecido. Nunca imaginaria que estudantes, em pleno século 21, ainda propagam falas racistas. Isso é um crime e precisa sim, ser apurado. Embora não tenha ocorrido dentro da escola tem que tomar uma atitude, já que os estudantes carregam o nome da instituição”, disse uma universitária, mãe de uma estudante de escola particular durante uma roda de conversa com outros pais de alunos.

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Nas redes sociais, a direção do colégio, informou por meio de Nota de Esclarecimento, que diante das mensagens que têm sido veiculadas em grupos fechados e também nas redes sociais, no dia 2, por meio da Coordenação Pedagógica, tomou conhecimento do caso. “Assim que tomamos conhecimento dos fatos, fomos atrás de informações que pudessem nos ajudar a melhor elucidar o caso, para que pudéssemos tomar as devidas providências”, informa a nota.

A unidade de ensino disse que aguarda a apuração do caso. “Assim que tivermos um posicionamento, tomaremos as medidas cabíveis de acordo com o nosso regimento escolar”, afirma a instituição salientando que as mensagens foram propagadas fora da escola e que a história da unidade é de respeito, acolhimento e carinho com toda a população negra da cidade de Resende e região. “Nesse sentido, a dor que essas mensagens causaram em muita gente também é sentida por todos nós e continuaremos a nossa missão de educar nossas crianças e jovens para formarmos uma sociedade mais justa, igual e fraterna. No anseio que tudo se resolva o quanto antes, deixamos nosso pedido de desculpas e um abraço fraterno a todos que se sentiram prejudicados com essa situação e que as bênçãos do nosso Deus e nossa padroeira Nossa Senhora da Conceição recaiam sobre nós nesse momento tão difícil”, informa.

OAB RESENDE ACOMPANHA O CASO

A Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, da 18ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Resende está acompanhando o caso. O advogado Derik Roberto da Silva Rosas, presidente da Comissão, disse que já foram realizadas reuniões com lideranças do movimento negro para definir o que será feito sobre a denúncia. “As responsabilidades dos adolescentes podem ser resumidas em três esferas: administrativa, civil e infracional. Na esfera administrativa, estaremos notificado o colégio para sabermos as medidas que serão tomadas de acordo com o seu Regimento Interno, principalmente àquelas de caráter educativo, já que nossa intenção não é apenas buscar a sanção dos adolescentes. Em relação a responsabilidade civil, estamos em contato com a presidente da OAB Resende, Andréia Valente, para avaliar a possibilidade de uma ação civil pública em face dos pais dos adolescentes que poderão ser condenados, na forma do art. 932, I, do Código Civil a título de danos morais coletivos que serão revertidos para um fundo de luta antirracista.  No que se refere a responsabilidade infracional, estamos analisando a possibilidade de representação ao Ministério Público para que seja averiguado a conduta análoga ao crime de racismo, tipificado no art. 20 da Lei 7.716,/89”, enumerou o advogado.

O presidente da Comissão Derik Roberto ainda explicou que o caso envolvendo os atos de racismo praticado pelos estudantes pode ser classificado naquilo que o Professor doutor Adilson Moreira, especialista em Direito Antidiscriminatório, como racismo recreativo. “Ou seja, práticas racistas camufladas em tom de humor utilizadas para perpetuar a discriminação. Muitos dos alunos envolvidos no ocorrido, provavelmente, estão convencidos de que não são racistas e estavam apenas ‘brincando’ ou ‘trolando’ alguém. Isso porquê o problema não é só a piada, mas como o conteúdo da piada determina o tratamento das pessoas negras em todos os contextos. Essas piadas expressam um estereótipo da pessoa negra, e como esse estereótipo a coloca na posição de alguém que não pode ter respeito social”, destacou.

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