Jornal divulga áudios exclusivos da tentativa de extorsão contra prefeito

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ITATIAIA

Desde sexta-feira estão presos o advogado Marcelo Tavares e o professor de Educação Física e presidente do Instituto Brasileiro de Transparência e Cooperação (IBTC) de Resende, José Luis de Carvalho Vargas. Eles foram presos em flagrante pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão ligado ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPERJ). O flagrante foi feito por um crime de extorsão contra o prefeito de Itatiaia Eduardo Guedes, o Dudu (MDB). Gravações que serviram para fechar todo o caso pelas autoridades foram conseguidas com exclusividade pelo A VOZ DA CIDADE. Elas demonstram que o alvo principal das chantagens era o prefeito. A dupla solicitava altos valores, sob ameaça de entrar com ações judiciais contra a prefeitura e o chefe do Executivo. No sábado, o Tribunal de Justiça negou o pedido de habeas corpus para Marcelo.

As gravações demonstram que o vereador de Itatiaia, João Márcio Albino Silva (PRB) foi essencial para o prosseguimento do plano, juntamente com o promotor Dr. Fabiano Rosemberg. O prefeito contou que o vereador foi ao seu encontro e contou que os dois, José Luis e Marcelo tinham o procurado dizendo que iam entrar com uma ação na justiça por conta de contratos emergenciais de recolhimento de lixo urbano em Itatiaia. Com isso, procuraram o Ministério Público, que após ser informado sobre o que estava acontecendo, teria orientado como proceder. Foi uma semana coletando provas, como ligações gravadas, áudio de conversa via WhatsApp e mensagens de texto, até que o encontro para a entrega do dinheiro fosse marcado para a última sexta-feira. A prisão em flagrante aconteceu no Graal Itatiaia, quando parte dos R$ 80 mil foi entregue. Chegou-se a falar do valor de até R$ 200 mil como pagamento.

Marcelo Tavares chegando na delegacia de Itatiaia – Redes Sociais

José Luis de Carvalho Vargas – Redes Sociais

AÚDIOS

Na maioria dos áudios as conversas acontecem entre o vereador e José Luis. Em um dos registros, em um local público, o presidente do IBTC mostra várias fotos ao vereador, como forma de intimidar, ao lado de pessoas que ele qualifica como poderosas. Duas delas, com um promotor com um chefe de inteligência do Gaeco, com quem ele dizia ter ligação. Por ironia do destino, quem efetua a prisão é o Gaeco dias depois.

Nessa conversa, José Luis fala que Marcelo é o terror das prefeituras. Enumera processos já feitos por ele, contra o ex-prefeito de Resende José Rechuan. Fala ainda, com ódio, do atual prefeito de Resende, Diogo Balieiro Diniz. “Diogo está f.. comigo. Ele foi me bloquear, não quis me receber… Se ele continuar vamos tornar ele (sic) inelegível por seis meses. Denunciei merenda escolar. Vamos fazer pressão política, perda dos direitos políticos dele por oito anos, tudo porque não sabe negociar. Se abrir um diálogo está tudo certo, se não, sou franco atirador”, disse José Luis.

De acordo com as investigações do MPERJ, o atual e o ex-prefeito de Resende, Diogo e Rechuan, respectivamente, além do atual chefe do Poder Executivo de Porto Real, Ailton Marques, também teriam sido vítimas das extorsões.

‘MINHA PALAVRA’

Preocupado com o fato de Marcelo Tavares querer pedir mais do que R$ 80 mil ao prefeito depois de entregue o dinheiro, o vereador João Márcio, fala com José Luis que diz: “Empenho minha palavra, se acertar com ele a situação está resolvida”, afirma. E completa: “O juiz geralmente dá de 5% a 10%. Ele falou que ia pedir um valor x, eu pedi para ele: o grupo já está f… você vai arregaçar com a administração pública, faz por mim (o valor)”. A ação seria em torno de R$ 6 milhões e Marcelo disse ao vereador que receberia na Justiça R$ 600 mil, mas aceitava R$ 80 mil.

“A peça está pronta… se eu fosse o Dudu não arrumava essa sarna para se coçar agora. Se não me der essa resposta hoje vou interpretar como negativo, vou falar para tocar o pau”, fala o presidente do IBTC de Resende em outro trecho.

OS R$ 200 MIL

Em outra ligação entre João Márcio e José Luis, o processo já está protocolado na Justiça. “Mando para você às 10 horas o processo. Foi protocolado agora… Você encaminha para ele (Dudu)  conhecer o processo. Disse que queria conhecer e vai conhecer pela via judicial. Esse processo para ser retirado tem que ser antes de chegar ao MP, tem 24 horas para fazer isso, mas já está protocolado. Tem que conversar com o autor (Marcelo) porque a história mudou de figura… Isso vai pra uns 200 contos agora”, fala José Luís. Nessa hora o vereador João Márcio exclama: “De R$ 80 mil para R$ 200 mil?”. E José Luís continua: “E tem mais, hein. Tem mais cinco processos n essa história aí. Ele (Dudu) perdeu uma oportunidade de fazer negócio com um cara sério. Não quis. Devia ter acertado isso e os outros. Perdeu negócio”, falou.

Com o processo protocolado, chega a hora de João Márcio ligar para Marcelo Tavares, o advogado. Na ligação, Marcelo dá o tom de querer resolver tudo e se mostra disponível para retirar o processo na Justiça. “Pode ficar tranquilo que resolvo. Queríamos ter evitado isso, mas o homem (Dudu) está postergando”, disse. João Márcio fala que não conseguem os R$ 200 mil e Marcelo completa: “Não, esquece, a gente mantém o outro preço. Mas precisa ser hoje. Fala com ele aí que vai ter um parceiro. Vê se consegue acertar isso hoje”, pede. O vereador fala de uma entrada de R$ 40 mil e o restante depois e Marcelo concorda.

Em um encontro entre João Márcio e Marcelo Tavares eles tratam do dinheiro e Marcelo está preocupado com a desistência do prefeito. João Márcio fala que isso não acontecerá e que os R$ 40 mil serão entregues na sexta, e o restante, R$ 20 mil em cada semana. “Tá fechado assim então? Sexta-feira os R$ 40 mil, mais R$ 20 mil na próxima sexta e R$ 20 mil na outra”, questiona o advogado, dizendo até que estaria disposto a fazer parceria na prefeitura. “Posso atender menos no meu escritório e vou para lá (procuradoria). Não quero sacanear, quero resolver”.

FLAGRANTE

Marcado o local do encontro para entrega do dinheiro, agentes da Gaeco esperaram no Graal de Itatiaia. Lá, apreenderam uma bolsa plástica na cor vermelha, tendo em seu interior dois envelopes com a logomarca da prefeitura. Em cada envelope havia R$ 10 mil, o dinheiro que a dupla tinha recebido por Dudu e João Márcio no interior do restaurante. Na saída do restaurante os agentes abordaram José Luiz e Marcelo Tavares, que receberam voz de prisão em flagrante.

Marcelo Tavares, segundo informações, teria sido levado preso para Benfica e José Luis para a Casa de Custódia em Volta Redonda.

Na sexta-feira, o prefeito Eduardo Guedes se manifestou ao A VOZ DA CIDADE. “Não concordo com esse tipo ação em querer extorquir para conseguir vantagens. Quando eu soube de tudo que aconteceu procurei os advogados e fomos até o Ministério Público buscar orientação. Tenho certeza do que estou fazendo e agindo dentro da legalidade com as minhas ações frente ao Executivo. Não fiz contrato emergencial. Se tivesse agido de forma errada poderia ter feito até o tapa-buraco que tanto a população precisa. Poderia até ter sanado o problema emergencial da cidade, mas estaria com um grande problema na Justiça. Mas, eu zelo pelo dinheiro público e a transparência dos meus atos”, disse o prefeito.

Negado pedido de habeas corpus a Marcelo Tavares

No último sábado, dia 27, o desembargados Marcelo Castro Anátocles da Silva Ferreira, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, indeferiu o pedido de habeas corpus do advogado de Marcelo Tavares, Nilo Sérgio Gomes. O jornal teve acesso ao documento. Nele o advogado arquimenta que o Marcelo é primário e de bons antecedentes, “possuiu trabalho lícito, advogado militante há mais de 20 anos, família constituída e endereço certo no distrito da culpa”. Pediu a liberdade, revogando a prisão cautelar.

O desembargador entendeu que a competência para o julgamento sobre a legalidade ou a necessidade da prisão é do órgão colegiado, “somente sendo possível a sua antecipação provisória pelo relator nas hipóteses de flagrante ilegalidade, o que não se verifica neste caso”.

 

 

 

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