Vidas negras importam

0

O assassinato abominável e covarde do jovem congolês Moïse Kabamgabe, de 24 anos, é um episódio bárbaro e desumano. Ele foi espancado e morto com socos, chutes e pauladas na noite do dia 24 de janeiro, em um quiosque na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. A vítima teria ido ao estabelecimento cobrar uma dívida de R$ 200 reais, valor referente a duas diárias de trabalho.
Um jovem negro, que saiu com a sua família do Congo, fugindo de uma realidade de miséria, guerra e violência, acreditou que em nosso país encontraria acolhimento e oportunidades.
Sem perceber, estamos desenvolvendo o péssimo hábito de normalizar e banalizar os atos violentos. Os dias passam, outro caso surge e tudo se transforma em estatística. Enquanto isso, diversas famílias são dilaceradas emocionalmente e precisam aprender com o sofrimento a viver sem pessoas queridas e amadas.
A maioria das mortes por arma de fogo em nosso país é de pessoas negras. Talvez nem mesmo no Congo ou em países que ainda vivem cenários de guerra civil, a situação é tão alarmante. Conviver com a violência, como se fosse algo normal, precisa ser alterado e substituído por uma postura de indignação. A esperança de tantas vítimas não pode morrer com elas.
Para combater a uma pandemia viral, criamos diversas ações de enfrentamento. E diante de uma epidemia de violência, que também mata todos os dias, o que estamos fazendo? Diversas pessoas presenciaram a morte do congolês, algumas inclusive, participaram do assassinato. Faltou empatia e sobrou ódio.
Assim como ele, jovens negros convivem com o racismo todos os dias. São julgados e definidos pela cor da pele. A indiferença não cabe mais, o discurso de manutenção de um sistema preconceituoso deve ser cessado. Precisamos falar sobre isso e enxergar criticamente a desigualdade estrutural que se manifesta diante dos nossos olhos. Vidas negras importam sim, ontem, hoje e sempre!

Deixe um Comentário