Sassaricando – Oscar Nora

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Foto: Divulgação/Internet

1964. Peru e Argentina jogavam no estádio Nacional de Lima, no Torneio Pré-Olímpico. A Argentina vencia por um a zero quando o juiz anulou um gol do Peru, gerando revolta e violenta confusão entre a polícia e boa parte dos 54 mil torcedores presentes. Vários deles tentaram sair do estádio, mas com os portões fechados, muitos acabaram pisoteados. Saldo: 318 mortos e mais de 500 feridos.
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1989. Nottingham Forest x Liverpool disputavam a semifinal da Copa da Inglaterra. O estádio Hillsborough estava superlotado, mas cerca de 5 mil torcedores sem ingresso tentavam invadir o estádio. Incapaz de controlar o bando humano, a polícia acabou abrindo os portões. No tumulto formado, os invasores acabaram pisoteando crianças, mulheres e idosos que já estavam lá dentro. Saldo: 96 mortos e mais de 200 feridos.
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1995, Pacaembu. O Palmeiras venceu o São Paulo e conquistou a taça da Supercopa de Futebol Júnior. Os palmeirenses invadiram o campo para festejar o título e aproveitaram para provocar os são-paulinos, ainda no estádio. Pronto, virou pancadaria com pedaços de paus e pedras de uma obra. Saldo: 102 feridos entre torcedores e policiais feridos. Pior; Marcio Gasparin da Silva, 16 anos, foi assassinado a pauladas.
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2018, no Egito, briga entre as torcidas do Al-Masri e do Al-Ahli deixou 70 mortos, vários deles por sufocamento, e 188 feridos; 2018, Buenos Aires, o ônibus do Boca Juniors foi violentamente atacado antes da final da Libertadores, contra o River Plate; 2022, 12 de fevereiro. Centenas de torcedores do Palmeiras se reúnem alegremente nas proximidades do Allianz Parque, mas a perda do título mundial para o Chelsea, por 2 a 1, gerou ódio, brigas e um torcedor morto.
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México, sábado passado, torcedores do Atlas e do Querétaro brigam violentamente. Covardemente, desnudaram e espancaram até pessoas desacordadas; Belo Horizonte, domingo passado, o jogo entre Cruzeiro e Atlético Mineiro nem havia começado, mas nefastas lideranças das torcidas organizadas dos dois clubes se engalfinharam. Saldo: mais de 20 feridos e um morto.
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Passando pelos recentes ataques aos ônibus conduzindo jogadores do Bahia, Grêmio e São Paulo, constatando que todas as medidas já tomadas pelas autoridades se mostram ineficazes, chega-se à conclusão de que a sociedade formada pelo ser humano sempre foi violenta. Exemplo marcante dessa realidade está na história: os duelos entre gladiadores no Coliseu Romano. Box, esgrima, artes marciais, são variantes modernas
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Penso que o pesquisador português José de Souza Teixeira, professor de Letras e Ciência Humanas, tem um bom argumento para explicar esse festival de violência, quando cita termos que exprimem o teor belicoso do esporte: batalha, duelo, ataque, massacre, capitão, matador, formação, bomba. Para ele, as torcidas organizadas têm uma estrutura típica de exército, com hierarquia, disciplina própria, regras de conduta, uniformes, bandeiras e gritos de guerra.
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Ainda que bem analisada, precisamos encontrar solução para conter a violência dos torcedores. Abandonar apelidos de jogadores como “guerreiro”, “fera”, “matador” pode ser um bom início. Nossos épicos narradores abandonarem metáforas como “explodiu na trave”, “detonou toda a defesa”, “rasgou pela direita” também pode ser uma boa sugestão. Ou será que vai ficar chato?
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