Jogador volta-redondense fala como está vida após guerra na Ucrânia

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UCRÂNIA/VOLTA REDONDA

LARA SALLES

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Pouco mais de um ano após o início da guerra entre Ucrânia e Rússia o jogador volta-redondense que morava no país bombardeado conversou com o A VOZ DA CIDADE para falar como está a vida após a volta para o Brasil. Luan Martins estava morado havia seis meses em Kharkiv, na Ucrânia, quando os confrontos começaram. Foram quatro dias em meio à guerra e ao caos. Luan relembrou o caso e mandou um recado para os jogadores brasileiros que conseguiram sair da guerra no Sudão, após mais de uma semana de espera. Agora, terão que recomeçar a vida em busca de um novo clube.

Luan Martins era jogador do Volta Redonda quando recebeu uma proposta para jogar no time de Volchansk, na Ucrânia. “Joguei no Volta Redonda de 2019 a 2020. Em 2021 fui emprestado para o America, no Rio de Janeiro e lá conheci um dos jogadores do time que me indicou para jogar como meio atacante no Volchansk. Em agosto de 2021 me mudei para cidade de Kharkiv, na Ucrânia, e comecei a jogar no time”, contou.

Semanas antes da guerra Luan estava sendo transferido para outro time, também na Ucrânia, mas na cidade de Mariupol. “Essa oportunidade mudaria minha vida profissional e financeira. Fui para Mariupol, treinei cinco dias no clube e no sexto dia precisei voltar para Kharkiv porque estava com suspeita de Covid”, disse.

Dias depois que Luan voltou para cidade de Kharkiv a guerra começou no país e a cidade de Mariupol foi completamente destruída. No final, o exame de covid-19 havia dado negativo. “Só depois fui entender o livramento de Deus. A cidade de Mariupol foi 99% atingida e era para eu estar lá. Deus me livrou dessa cidade para eu poder estar vivo hoje”, falou, lembrando que a guerra começou no dia 24 de fevereiro.

Luan destacou que foram dias de desespero, muitas pessoas com medo nas ruas, mercados cheios, falta de comida em prateleiras e diversos bombardeios. Ele estava com quatro brasileiros em um apartamento e lá ficaram por dois dias. “Descobrimos que tinha um bunker subterrâneo embaixo do nosso apartamento e quando ouvíamos os barulhos de bombas e da sirene ficávamos lá embaixo. Depois desses dois dias fiquei sabendo pelo grupo da embaixada brasileira no Telegram que teria um trem para cidade de Lviv, só que nesse mesmo dia a milícia russa estava nas ruas e atirando em todos que passavam. Foi um dia muito perigoso, mas não teve outro jeito, essa era nossa oportunidade de sair do país”, lembrou.

Nesse dia o grupo conseguiu chegar à estação e pegar o trem. Ao passarem por Kiev, receberam a informação de que teria um ataque aéreo, ficaram parados dentro da locomotiva sem luz por oito horas e depois foram mais 10 horas de viagem até Lviv.

Chegando, o grupo de brasileiros embarcou para Uzhhorod, onde fica a fronteira para Eslováquia. “Tivemos que ficar quase 10 horas na fila para conseguir passar a fronteira e chegar no outro país. O frio era de -4º, com sensação de –20º. Estávamos há 36 horas sem comer e também não tínhamos o que beber. O que me deixou muito triste também foi ver várias mulheres com os filhos, muitos até recém-nascidos, tentando deixar o país”, disse.

Na Eslováquia, receberam apoio de um casal brasileiro e após três dias receberam uma doação anônima com o valor da passagem para retornarem ao Brasil.

RECOMEÇAR…

Após retornar para o Brasil em março de 2022, Luan só conseguiu uma oportunidade para jogar em setembro, e mesmo assim foi uma contratação temporária. “Ficar muito tempo parado para um jogador é muito ruim porque os clubes cobram que o atleta esteja ativo e quando eu voltei para o Brasil não consegui entrar em nenhum outro time. Só em setembro do ano passado que fui contratado pelo Resende, para jogar a Copa Rio, mas perdemos e o time foi desclassificado. Em dezembro participei de outro campeonato pelo Barra Mansa e em janeiro de um outro pelo Azuriz, no Pará. Agora estou esperando uma nova oportunidade”, disse.

Apesar dos desafios no Futebol, Luan não esconde a alegria ao informar que será pai. “Hoje estamos bem, continuo morando em Volta Redonda com a minha esposa e o meu filho que nascerá daqui a um mês. Deus sabe de todas as coisas”, alegrou-se.

JOGADORES NO SUDÃO

Assim como Luan, o jogador Paulo Sérgio que é casado com a barra-mansense Blanca Bullos e outros oito atletas brasileiros estavam vivendo em um país que entrou em guerra. Na última semana Paulo deixou o Sudão, onde acontece desde o dia 14 uma guerra entre paramilitares e as forças do governo. Na quinta-feira, dia 27, Paulo Sérgio estava em Londres e tinha previsão de chegar ao Brasil na manhã desta sexta-feira.

Luan está acompanhando pela internet a trajetória dos atletas na volta ao Brasil e mandou um recado para eles. “Confia em Deus e em tudo dai graça. Eu sou cristão, acredito em Deus e creio que Ele tem um plano para tudo, um propósito pra cada coisa. Agora que vocês já saíram do Sudão, a situação vai melhorar”, falou.

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