Encontro Regional de Produtores Rurais discute medidas para ‘frear’ as perdas geradas pelo excesso de importação do leite

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SUL FLUMINENSE/BARRA MANSA
Com o objetivo de buscar soluções para a crise do leite, acentuada pela alta importação do produto pela Argentina, produtores rurais de diversos municípios da região participaram na tarde desta sexta-feira, dia 15, do primeiro Encontro Regional de Produtores Rurais. O evento, que teve como tema ‘Leite: vamos enfrentar essa crise juntos’, aconteceu no Parque Natural Municipal de Saudade, onde estiveram presentes o subsecretário da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento, Felipe Brasil e o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Glauco Carvalho, além de lideranças do setor.
De acordo com Felipe Brasil, o problema relacionado a desvalorização do leite vem ocorrendo em âmbito nacional e neste ano, inclusive, o debate está envolvendo uma série de questões relacionadas à importação de leite e à questões fiscais que foram discutidas no encontro. “O que a gente pretende como Governo do Estado e como Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento é ouvir essas demandas e promover uma certa interlocução direta com o nosso secretário, Flávio Ferreira, para que ele possa trabalhar isso internamente junto ao governo e a Alerj. Hoje é um dia para promovermos essa união entre os produtores e o Poder Público. Temos a presença de técnicos da Emater, da Embrapa e da Defesa Agropecuária Estadual e a ideia é a gente ouvir e levar daqui esse apelo, todas as reivindicações”, disse o subsecretário.
O presidente da Associação de Produtores Rurais de Resende, Alberto Figueiredo, explicou que hoje, no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) existe perto de um milhão de produtores de leite, que produzem cerca de 35 bilhões de leite, por ano. Em determinadas épocas do ano, quando a produção cai, as indústrias que trabalham com leite e produtos lácteos importam de outros países para suprir a demanda. “Essa importação sempre girou em torno de 2% a 3% do que nós produzimos. Neste ano isso passou para 10%, porque os produtores da Argentina estão sendo subsidiados e isso fez com que o leite de lá chegasse aqui com um preço que nós conseguimos competir. A lei da oferta e da procura está desequilibrada e isso baixou ao nível que está menor do que o custo de produção. Daí a crise; os produtores não estão conseguindo pagar a conta no fim do mês. Não estamos conseguindo pagar funcionários, medicamentos, nem alimentação, nem produtos para melhorar a qualidade do leite”, esclareceu o produtor.
O prefeito de Rio Claro, Babton Biondi, esteve presente no encontro e disse ter feito questão de participar porque, tudo o que foi discutido, segundo ele, tem um peso muito grande para o município, onde a produção leiteira é um setor importante para a economia. “A representatividade desse setor para Rio Claro é muito grande e posso afirmar que pessoas próximas vivem da produção de leite há muito tempo, passando de geração para geração. Uma atividade que exige comprometimento e que hoje está desvalorizada, fazendo com que os produtores não tenham condições mínimas para trabalhar. Se a gente não der apoio para que essa atividade se mantenha, isso vai aumentar o desemprego na cidade. Rio Claro tem sofrido com essa questão da desvalorização do preço do leite e, no âmbito municipal, podem contar com nosso apoio. Nós também estamos levando essa demanda para deputados da região, que são mais próximos, para que essa situação chegue no estado e, quem sabe, no Ministério da Agricultura”, ressaltou Biondi.
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Rural de Barra Mansa, Carlos Roberto de Carvalho, o Beleza, os produtores já vinham sofrendo uma situação delicada dentro do campo há algum tempo, no entanto, essa crise com o excesso de importação de leite foi o estopim para a categoria. “O governo abriu a importação do leite e tem produtor que já está secando animais porque não está sendo compensatório tirar leite. O produto realmente está mais barato no mercado, pode ser que esteja bom para o consumidor agora, mas lá na frente ele vai pagar isso quatro vezes mais, com certeza. Muitos donos de empresas do ramo estão tendo que diminuir o valor de seus produtos para tentar minimizar as perdas geradas pela alta importação”, contou Beleza, ao ressaltar que no encontro foi elaborado um plano e um projeto de lei que serão levados para os governos nacional e estadual visando resguardar os produtores e buscando evitar a abertura do mercado.

PRESSIONAR AUTORIDADES
Para um dos organizadores do evento, o produtor rural de Rio Claro, Joaquim Ribeiro, o objetivo do encontro é pressionar as autoridades a darem segmento às reivindicações da categoria. “Sempre passamos por crises, por altos e baixos, mas essa está sendo a pior porque a importação em excesso está desvalorizando o nosso produto. No encontro fizemos a proposta dois abaixo-assinados e da criação de uma comissão para dar segmento às nossas cobranças e interesses”, informou o produtor.
Um dos abaixo-assinados, segundo ele, tem por finalidade propor ao governo estadual a modificação da legislação tributária para que se torne mais vantajosa para o varejista adquirir o leite produzido no território do Estado, assim como o que vem de outras unidades do país, como forma de melhorar a remuneração do produtor. O outro ser· encaminhado para a Câmara dos Deputados sugerindo que a legislação nacional crie tarifa compensatória, obrigatória de importação, sempre que o país de origem de produtos alimentícios pratique subsídio aos respectivos produtores ou manipule artificialmente o valor da respectiva moeda local.
O pecuarista, Demerval Martins Coelho, de 90 anos, nasceu em uma família de produtores rurais e fez questão de participar do encontro que, segundo ele, é uma ‘ponta de esperança’ para que a essa crise com a desvalorização do produto tenha uma solução. Morador de Rio Claro, ele ressalta que já chegou a produzir até 400 litros de leite, por dia, e que hoje esse número não passa de 80. “A dificuldade está para todos, mas nunca foi assim, nunca passei por isso. O custo da produção e a venda estão se igualando e não sobra nem para custear com a medicação dos animais. Caso seja preciso, tem produtor tirando do próprio bolso”, lamentou.
Também estiveram presentes no evento a vereadora Paola da Pizzaria, o assessor do Estado de Agricultura, Luciano Moretti, o gerente Técnico Regional da Emater, Ricardo Oliveira Silva, o presidente do Sindicato Rural de Resende, Alberto Figueiredo, o secretário de Desenvolvimento Rural de Barra Mansa, o assessor do deputado estadual, Munir Neto, Rodolfo Levenhagem, e os organizadores do evento, Edriana Martins Ferreira e José Martiniano

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