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Suspeito de manter família em cárcere privado por mais de 20 anos se entrega

Por Mônica Vieira
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VALENÇA

No domingo, dia 9, José do Carmo João, de 60 anos, se entregou na 91ª Delegacia de Polícia (DP) de Valença. Ele é suspeito de manter em cárcere privado a mulher e duas filhas por 22 anos em uma casa simples, de condições precárias, em uma área rural no distrito de Pentagna. As informações foram confirmadas pelo delegado titular da 91ª DP, Flávio Narcizo. O homem aguarda transferência para a Cadeia Pública Franz de Castro, a Casa de Custódia, em Volta Redonda. Segundo o policial, a mulher chegou a falar durante o resgate que já tinha perdido a esperança de sair da casa.

“Ele passou dias dormindo no mato. Ficou com fome e com medo de uma onça que rondava seu esconderijo. Se entregou aqui na delegacia domingo pela manhã”, disse ao A VOZ DA CIDADE o delegado, explicando que o homem, na delegacia, preferiu somente falar em juízo.

Sobre o caso, que teve grande repercussão em todas as mídias, o delegado, quando questionado se as vítimas entendiam o que estava ocorrendo e se pensaram em pedir ajuda, ele explicou que o caso é complexo por envolver uma condição humana muito diferente da realidade do que a maioria que vive em área urbana. “Elas não sabiam sequer como sair dali. Não sabiam onde ficava a estrada, não sabiam que direção tomar rumo a cidade. Foram inseridas numa realidade paralela. A menina de 19 anos nasceu na casa e dela nunca saiu. As pessoas associam o cárcere a uma prisão, a uma tranca. O cárcere é não possuir a liberdade de escolher, a liberdade de poder ir no quintal, de falar com outras pessoas”, completou o policial, frisando que as meninas, nem sequer entenderam no dia que foram resgatadas.

Flávio destacou que a mãe por outro lado entendia. “Ela disse a seguinte frase: eu já tinha perdido a esperança de sair daqui, achava que ia morrer aqui”, disse o delegado Flávio destacando que esse comentário da mulher não foi feito durante o depoimento, mas sim durante relato aos policiais que fizeram o primeiro contato com elas.

José era foragido da Justiça pelo crime de homicídio qualificado desde 2006; agora, também passa a ser investigado pelos crimes de cárcere privado, porte ilegal de armas, abandono material e intelectual e ameaça.


O CASO

O fato foi descoberto dia 29 do mês passado, após a polícia ser chamada para averiguar denúncia de ameaça do homem a vizinhos. Ao notar a chegada dos agentes, ele foi visto correndo para uma área de mata e não foi mais localizado.

“Segundo investigações, as filhas do suspeito nunca frequentaram a escola e também eram desestimuladas a receber atendimentos de saúde. A esposa contou ainda que a filha mais nova nasceu em casa porque o marido a impedia de fazer pré-natal e também a proibiu de ser assistida no momento do parto”, disse em nota o Disque Denúncia, que chegou a divulgar na última semana um cartaz com a foto de José, por meio do Portal dos Procurados.

Os policiais descobriram que o suspeito possui um mandado de prisão em aberto, expedido pela 2ª Vara Criminal de Barra do Piraí, pelo crime de homicídio qualificado, expedido desde 2006.

No imóvel, foram apreendidas uma espingarda calibre .28 e várias munições.

A família conta ter ficado nessa situação por cerca de 22 anos; os parentes achavam que todas já estavam mortas. Elas estão recebendo apoio e cuidados de familiares e de assistentes sociais, por meio da Prefeitura de Valença.

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