Nova cepa da Covid-19 é identificada em cidades do Rio e pneumologista alerta para número de casos ainda maior

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SUL FLUMINENSE

A mortalidade vista em Manaus da nova cepa de Covid-19 assustou o Brasil e logo alarmou as pessoas sobre a rapidez com que a doença se espalha e sua força no organismo. A afirmação de cientistas de que essa nova mutação se espalharia pelo país se tornou verdadeira e até a última segunda-feira, dia 15, foram registrados 170 casos  em dez estados, incluindo no Rio de Janeiro. O médico pneumologista, Gilmar Zonzin, falou ao A VOZ DA CIDADE sobre a nova variante do vírus chamada de P.1 identificada recentemente em Petrópolis, Belford Roxo e também na capital. O médico destacou que o número de infectados pode ser ainda maior do que o divulgado, já que sua identificação é mais difícil.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o momento três variantes do SARS-CoV-2 estão sob a atenção dos cientistas: B.1.1.7 (britânica), 501Y.V2 (sul-africana) e P.1. (brasileira). Além disso, elas estariam se espalhando rapidamente. A britânica já está em 80 países, a sul-africana em 41 países e a brasileira, identificada até o momento em dez.

Gilmar Zonzin explicou o que de fato seria essa mutação e como ela ocorre. “Quando um vírus entra no corpo de uma pessoa, ele usa a estrutura da própria célula do hospedeiro para fazer sua multiplicação. Durante esse processo pode-se gerar mudanças que fazem com que o vírus mantenha o mesmo perfil de virulência e transmissibilidade, ou se modifique, isso depende de quais regiões do vírus são alteradas nesse mecanismo de multiplicação e como essa partícula viral modificada se comporta em comparação a anterior. Obviamente uma partícula viral mais apta a multiplicação e transmissão vai ser predominante, fazendo com quem lidemos com o vírus cada vez mais habilidosos no processo de transmissão”, disse.

O médico contou ainda que essas variantes podem causar diversas consequências. “O que acontece é que toda vez que o vírus sofre uma mutação essa variante pode produzir absolutamente nada, ou pode realizar alterações que piorem ou melhorem o cenário em relação à infecção para o ser humano. Sendo mais ou menos transmissivo, mais ou menos agressivo. Isso é natural. Porém o maior problema é que as variantes mais aptas à sobrevivência seriam as variáveis com maior capacidade de transmissão. Além disso, é muito ruim ter um vírus como a Covid-19 que se multiplique tão rápido, pois aumenta a chance de aparecer variantes mais aptas, agressivas ou com mais capacidade de transmissão do ponto de vista da virologia”, esclareceu.

A grande questão seria que a nova variante estaria conseguindo atingir pessoas que até então não haviam sido contaminadas pela Covid-19. Ou seja, a mutação poderia estar gerando uma facilidade maior de contaminação, até mesmo para os mais jovens que antes apresentavam uma resistência maior a contaminação.

De acordo com o médico, a identificação da nova cepa do vírus só é realizada através de uma análise laboratorial mais específica, então o número de pessoas com a variante pode ser maior do que o registrado. “A identificação dessa cepa depende de uma tecnologia que só esta disponível em alguns laboratórios, então não tem como mapear isso de forma muito fácil. Vem se coletando amostra, por exemplo, dos pacientes que saíram de Manaus e foram para outros Estados para realizar um estudo e  ver qual a variante essas pessoas estariam apresentando, porém, não é uma coisa que se faz diariamente”, explicou.

VARIANTES X VACINAÇÃO

Apesar das especulações, não se tem nada confirmado de que a nova variante encontrada seja mais letal e não imunizada com a vacinação. Sobre o assunto, os pesquisadores da Universidade de Oxford informaram que a vacina desenvolvida pela universidade em parceria com a farmacêutica AstraZeneca é eficaz contra a variante britânica. Já a Pfizer e Moderna anunciaram que suas vacinas, ambas com tecnologia de RNA mensageiro, conseguiram neutralizar duas variantes do coronavírus em laboratório: a britânica e a sul-africana. Já o Instituto Butantan, que desenvolve a CoronaVac, usa um método de produção que pode representar uma vantagem, pois  contém não só o trecho da proteína S, mais ainda diversas partes do vírus – no qual o corpo humano produz anticorpos variados, podendo significar uma resposta a diversas variantes.

Zonzin conta que por esse motivo existem vários aspectos a serem levados em conta. “Quando você tem essa nova variante existem algumas modificações em algumas porções de sua estrutura de partícula viral e as vacinas, quando são construídas, visam estimular o organismo a reagir contra diversas porções da partícula viral e não uma isoladamente então o vírus para ser totalmente capaz de driblar totalmente a resposta humana imunológica seja a vacina ou infecção previa, precisaria ter modificação em vários elementos de sua estrutura da partícula viral que fizesse com que o organismo não tivesse capacidade de reconhecê-lo e gerar uma resposta imune mais rápida e mais intensa. Então como as mutações são aleatórias e parciais, você tem uma tendência básica a não ter um prejuízo total da capacidade de resposta à vacina, porém, pode sim ter uma mudança na velocidade dessa resposta”, explicou.

Ainda de acordo com ele, apesar da vacina é fundamental que as pessoas continuem seguindo as medidas de prevenção contra a doença, utilizando máscaras, por exemplo, para evitar além da contaminação, a velocidade do desenvolvimento dessas variantes. “O grande efeito que se espera da vacina é reduzir o risco de doença grave e potencialmente fatal. A possibilidade de ter-se mutação em cima de mutação é uma realidade, por isso, insistimos para que as pessoas sigam rigorosamente as medidas de prevenção contra a doença, para evitar a propagação e o desenvolvimento de mutações”, contou.

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