Incêndio do Ninho do Urubu que matou dez adolescentes completa um ano hoje

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VOLTA REDONDA/RIO
Há um ano, famílias de dez adolescentes, entre 14 e 16 anos, tiveram suas vidas mudadas. Hoje, 8, completou um ano do incêndio no Ninho do Urubu, o centro de treinamento do Flamengo, que além dos mortos deixou três jovens jogadores feridos. A reparação ao núcleo familiar dos atletas vem sendo tratada na esfera cível, e as responsabilidades sobre o incêndio, na criminal, que depende de novos esclarecimentos pedidos pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro à Polícia Civil. E neste mês novos desdobramentos devem acontecer, com novas ações apresentadas pelo MP, Defensoria Pública e defesa das famílias das vítimas. E uma dessas famílias é de Volta Redonda, a de Arthur Vinícius Barros da Silva Freitas.
A maioria dos atletas conseguiu sair com vida, mas morreram naquele dia Athila Paixão, de 14 anos, Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, de 14 anos, Bernardo Pisetta, de 14 anos, Christian Esmério, de 15 anos, Gedson Santos, de 14 anos, Jorge Eduardo Santos, de 15 anos, Pablo Henrique da Silva, de 14 anos, Rykelmo de Souza Vianna, de 16 anos, Samuel Thomas Rosa, de 15 anos, e Vitor Isaías, de 15 anos.
Arthur, de Volta Redonda, faria 15 anos justamente no dia em que foi enterrado, em sua cidade natal. Foi para comemorar o aniversário do colega que vários meninos dormiram na concentração naquela noite. A mãe, Marília Barros, se apega hoje a fé. Ela lamenta não ouvir mais a voz do filho nem receber o seu abraço. Cita que ficaram as recordações, mas a dor nunca mais passará.
INCÊNDIO
O incêndio foi a maior tragédia da história do Flamengo. Passado um ano ainda não foram apontados culpados e poucos acordos foram selados – três famílias e o pai de Rykelmo Viana aceitaram a proposta do clube. As demais famílias fazem reclamações em relação ao Flamengo por falta de diálogo. Um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado ocasionou o incêndio dentro do contêiner onde dormiam os atletas.
Oito pessoas haviam sido indiciadas pela polícia por homicídio e tentativa de homicídio com dolo eventual no fim do primeiro semestre do ano passado, antes de o MP pedir investigações adicionais à Polícia Civil, que foram concluídas em agosto. O caso voltou ao MP e continuou até dezembro, quando foram solicitadas à polícia informações sobre fatos novos adicionados ao inquérito.
O prazo para a polícia devolver novamente o caso à promotoria é de 45 dias e acaba neste mês. A partir das provas colhidas e reunidas em 11 volumes de inquérito, o Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor do MP-RJ deve oferecer denúncia criminal à Justiça. Assim como o MP-RJ, parte das famílias desses adolescentes também havia decidido aguardar a conclusão do inquérito para entrar na Justiça com ações individuais contra o Flamengo. Somente uma mãe de vítima processou o clube até agora, a mãe de Rykelmo. Ela, que é separada do pai, José Lopes Viana, pede ainda a anulação do acordo do clube com o ex-marido.
AÇÕES
Numa primeira decisão, em dezembro, o Flamengo teria que pagar R$ 10 mil mensais a cada uma das famílias de mortos ou feridos na tragédia. Antes da decisão o valor pago era de R$ 5 mil. Um acordo coletivo chegou a ser elaborado, com uma indenização de R$ 2 milhões a cada um dos núcleos familiares das vítimas, além de uma pensão mensal de R$ 10 mil a cada uma das famílias até a data em que as vítimas completem 45 anos. O Flamengo recusou a proposta e partiu então para negociação individual.
RECONHECENDO RESPONSABILIDADE
Na semana passada, o Flamengo publicou em suas redes sociais que a tragédia foi a maior da história do clube e reconhece sua responsabilidade, independente da culpa. “Para nós do Flamengo, nos aparenta ter sido um lamentável acidente, mas temos responsabilidade como guardiões dos adolescentes”, disse o vice-presidente geral e jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee de Abranches. No vídeo, além de Dunshee, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, e o CEO, Reinaldo Belotti, respondem a perguntas de uma jornalista da equipe de comunicação do clube durante cerca de 28 minutos. Rodolfo Landim contou na entrevista que pretende homenagear as vítimas do incêndio com uma área dedicada a eles na futura capela de São Judas Tadeu, padroeiro do clube, que será construída no Ninho do Urubu.
CPI NA ALERJ
Na sexta-feira, 7, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o incêndio no Ninho do Urubu, da Assembleia Legislativa do Rio, ouviu familiares das vítimas e um ex-presidente da agremiação. O presidente do time, Rodolfo Landim, que havia sido convocado, não compareceu à CPI e poderá ser conduzido de forma coercitiva à próxima sessão.
O presidente da CPI, deputado Alexandre Knoploch (PSL), determinou que, se ele ou o vice-presidente jurídico do clube, Rodrigo Dunshee, não comparecerem, Landim será levado sob força policial.
O único a comparecer foi o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello.

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