Aumento da criminalidade em Porto Real e Quatis tem relação com o tráfico de drogas

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Carlos Henrique

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PORTO REAL / QUATIS

O tráfico de drogas está por trás de praticamente todos os crimes de homicídio registrados em Porto Real e Quatis no ano de 2017. É o que afirma o delegado titular da 100ª Delegacia de Polícia, Marcelo dos Santos Haddad, que desde 2015 comanda as investigações nas duas cidades. Segundo o delegado, que está na Polícia Civil há 27 anos, e passou por todas as delegacias da região Sul Fluminense, duas facções criminosas controlam o tráfico nos dois municípios: Comando Vermelho e o Terceiro Comando.

Em decorrência do tráfico, o índice de alguns crimes registrados em 2017, como os homicídios, por exemplo, foi quase três vezes maior do que o ano anterior. Em 2016 foram registrados nove homicídios, já em 2017 esse número chegou a 25 mortes. “Para o padrão das duas cidades, o número de homicídios teve um crescimento muito grande de um ano para o outro”, comenta Marcelo Haddad.

A última grande operação para coibir o tráfico aconteceu no dia 19 de dezembro, em Quatis, quando após troca de tiros com policiais do 37º Batalhão da Polícia Militar, cinco homens foram presos, sendo um deles morador da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Na operação, foram apreendidos quase um quilo de cocaína, mais de 370 pedras de crack, 596 sacolés de maconha e dois tabletes da mesma droga todos com a inscrição “Feliz Natal Quatis – É CV” (Comando Vermelho), além de armas e munições.

Apesar de um dos presos nessa operação ser do Rio de Janeiro, ele morava há cerca de seis meses em Quatis. A maioria dos integrantes das facções é da região. Os outros quatro criminosos são de Resende.

O delegado destaca que a Polícia Civil tem intensificado as investigações, instaurando inquéritos para apurar crimes e apresentando diversos pedidos de prisão de suspeitos à Justiça. “Temos buscado atuar inclusive de forma ostensiva nas ruas mesmo não sendo nossa atribuição”, disse o delegado, destacando o trabalho conjunto com a PM.

Nesse trabalho investigativo que o delegado e sua equipe realizam em Porto Real e Quatis foi possível mapear os bairros mais violentos e que a presença do tráfico é mais forte. Em Quatis, os bairros situados acima da linha do trem como Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santo Antônio, Água Espalhada, Alto Paraíso, entre outros. Em Porto Real, bairros como Freitas Soares, Jardim das Acácias e BNH são apontados pela Civil como sendo onde as ocorrências de crimes tem maior incidência.

Outro dado levantado é sobre o aumento do número de mulheres e menores no crime. No caso das mulheres, entre outros motivos, o crescimento de sua participação pode estar relacionado ao envolvimento amoroso com traficantes ou por ele estar preso e ela tendo a necessidade de manter as despesas da casa acaba dando continuidade ao tráfico no lugar do companheiro. Já o crescimento de menores no crime, se deve a legislação. “Eles não estão sujeitos a lei penal. Por isso fica mais fácil a sua utilização na criminalidade” explico Haddad.

COLABORAÇÃO DOS MORADORES

De acordo com o Inspetor-chefe do Grupo de Investigação Complementar (GIC) da 100ª DP, Vlamir Gomes dos Santos, a participação dos moradores para elucidação dos crimes por meio do Disque-Denúncia tem sido importante para o trabalho das polícias Civil e Militar. Foi o caso da prisão da quadrilha em Quatis e o crime registrado como latrocínio (assalto seguido de morte) sofrido por um casal de idosos no bairro Jardim das Acácias, ocorrido em julho, um crime de grande repercussão na cidade onde foi possível chegar ao autor do crime por meio de informações passadas pelos moradores.

Possivelmente, o assaltante levaria os pertences da casa para trocar por drogas. Isso reforça a afirmação de que o número de homicídios está relacionado ao tráfico, mesmo que indiretamente.  “Foi por causa de informações de moradores do bairro que viram o autor do crime nas proximidades da casa dos idosos que foi possível efetuar a sua prisão rapidamente”, lembra Vlamir, acrescentando que para facilitar a comunicação e a troca de informações foi criado um grupo no WhatsApp que tem como membros representantes do Conselho de Segurança do município. A população também pode colaborar com a polícia fazendo denúncias pelo telefone 3353-1033. “O aparelho não possui bina para identificar a chamada e o morador também não precisa se identificar”, garante o inspetor, também com 27 anos de Policia Civil e há três na 100ª DP. Em Quatis, porém, Vlamir afirma que há uma grande dificuldade de obter informações nos locais de crime ou até mesmo pelo telefone do Disque-Denúncia. “A população é conivente com crime que acontece no seu próprio bairro e não denuncia. Isso acaba por dificultar o trabalho das polícias. Temos muita dificuldade de mudar essa mentalidade dos moradores”, lamenta o policial.

Mas mesmo com as dificuldades atuais que o Estado vem passando e que afetam a segurança pública, o delegado Marcelo Haddad faz um balanço positivo do trabalho da Polícia Civil ao longo de 2017, afirmando que todos os inquéritos abertos foram concluídos e encaminhados à justiça e que existem outros em curso mas preferiu não citá-los para não atrapalhar as investigações. “Mas a população pode ter a certeza de que a Polícia Civil trabalha 24 horas para trazer a tranquilidade e segurança a população dos dois municípios. Acreditem e colaborem com o nosso trabalho para que possamos tirar das ruas esses criminosos que só fazem mal a sociedade”, finalizou o delegado.

 

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