SUL FLUMINENSE
A rotina diária do trabalhador em seu ambiente de atividade exige muitas vezes o esforço físico e repetitivo. Situações que podem gerar lesão e o consequente afastamento por licença médica da empresa. Segundo levantamento mais recente do Ministério da Saúde, as Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) são as doenças que mais acometem os trabalhadores.
A constatação é do estudo Saúde Brasil 2018, do Ministério da Saúde, que utilizou dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Neste período, as duas doenças representaram 67.599 casos entre os trabalhadores brasileiros. Houve crescimento de 184% no período, passando de 3.212 casos em 2007 para 9.122 em 2016.
Para reduzir a ocorrência de lesões em trabalhadores a ergonomia é cada vez mais utilizada pelas empresas. No Sul Fluminense, cresce o serviço profissional para atendimento aos empregados. Referência regional em ergonomia, Cleiciane de Medeiros alerta que o problema deve ter o engajamento tanto de patrões quanto dos funcionários. Natural de Barra Mansa, a fisioterapeuta, especialista em ergonomia e terapias integrativas atua em empresas multinacionais há 20 anos. “A LER e o DORT são danos decorrentes da utilização excessiva do sistema que movimenta o esqueleto humano e da falta de tempo para recuperação entre outros fatores. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas, de aparecimento quase sempre em estágio avançado, que ocorrem geralmente nos membros superiores. São sintomas como dor, sensação de peso e fadiga. A ergonomia auxilia a adaptação do trabalho ao trabalhador, nos aspectos físico e psicossocial. Atua em projetos, produção e produtos. A ergonomia era desconhecida, hoje integra a rotina das empresas e sendo prevista nas novas normas da legislação da atividade industrial”, informa.
Com o desenvolvimento tecnológico, muito do que há 20 anos representava risco de lesão, atualmente foi amenizado por novas técnicas ou uso de máquinas na linha de produção. A profissional explica a NR17. “A Norma Regulamentadora 17 (NR17) regulamenta a ergonomia e estipula as condições de trabalho saudáveis para o colaborador. A legislação conta ainda com o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP), com o advento da Lei 11.430, de dezembro de 2006. O NTEP estabelece o nexo de causa presumida em ramo de atividade e doença. Se o trabalhador recebe o diagnóstico interligado com a atividade ergonômica no ambiente de trabalho, cabe ao empregador provar a causa e consequência”, argumenta Cleiciane Medeiros.
Pra definir se uma doença é do trabalho ou não, é preciso a análise ergonômica do trabalho e uma avaliação médica. “Há 20 anos falávamos de ergonomia e ninguém sabia, hoje é uma realidade em todo o país e nas indústrias da região. Com nossa dedicação os industriários exemplificar as melhorias contínuas de ergonomia no seu ambiente de trabalho”, analisa a fisioterapeuta, especialista em ergonomia e terapias integrativas.
SISTEMA INFORMATIZADO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O Sistema Informatizado da Administração Pública (eSocial) contém informações protegidas visando controlar a saúde do trabalhador. Ele seria implantado em 2019, mas o prazo foi prorrogado. Várias indústrias foram mobilizadas a programar o acompanhamento com profissional de ergonomia colaborando para a saúde dos empregados e melhor rendimento da empresa. “O número total de especialistas é significativamente maior e isso favorece uma análise melhor. O eSocial prevê este acompanhamento nas empresas, pois a ergonomia é complexa, precisa ser analisado todo o contexto social de interação do corpo. Não apenas o físico, mas também a mente, o espírito e o emocional. O ser humano é integral e a ergonomia analisa esta integração no ambiente de trabalho”, analisa Cleiciane.
LESÃO ENTRE HOMENS E MULHERES
Conforme levantamento da Previdência Social e do Ministério da Saúde, a LER e a DORT acometem principalmente as mulheres. Estes casos representam 51,7% das ocorrências, sendo a faixa etária de 40 a 49 anos a mais afetada. Entre as áreas do corpo prejudicadas pelas lesões na rotina de trabalho, a especialista revela estatísticas que indicam os ombros, coluna e punhos como mais frequentes. “São dados que mostram que o trabalho na indústria também gera impacto nas mulheres, tanto quanto nos homens. Atualmente, com o advento da Indústria 4.0 e toda tecnologia envolvida, as trabalhadoras permanecem em suas atividades. Desempenham funções semelhantes às dos homens, algumas mantendo o mesmo esforço físico e utilizando mecanismos de força na produção. Há fábrica que até ampliaram a presença feminina em seu quadro de funcionários”, comenta a ergonomista.
Segundo a Previdência Social, as profissões com maior índice de afastamento são: Faxineiro, Operador de Máquina Fixas, Alimentadores de Linha de Produção e Cozinheiro. No caso da DORT, as lesões ocorrem mais em membros superiores, como ombro, punhos, dedos, cotovelos e coluna.
RISCOS DA LOMBALGIA E USO DO CELULAR
A fisioterapeuta alerta ainda para os riscos da lombalgia, pois os cuidados devem ser mantidos em período integral tanto em casa quanto no ambiente de trabalho. “Profissionais liberais, dona de casa, estudantes, todos devem cuidar da saúde da coluna. Conforme estatística mundial, de cada 10 pessoas, de 8 a 9 delas terá alguma dor na coluna uma vez na vida. Ao varrer a casa, por exemplo, é preciso manter a postura, pois o esforço pode afetar a coluna. Esse desgaste é preocupante, pois os cuidados devem ser tomados desde criança, quando se evita portar a mochila de material escolar pesada, por exemplo”, comenta Cleiciane.
Outra orientação para trabalhadores é o uso do celular. Cada vez mais comum na rotina da sociedade, muitas pessoas portam o aparelho de forma errada: geralmente abaixo da linha de visão tendo a cabeça abaixada e o aparelho distante dos olhos ou próximo demais. “É comum no ambiente da indústria e na sociedade em geral o uso do celular. Temos constatado que até adolescentes e as crianças apresentam dores de tendinite de mão, braço, dedos e punhos. Sugiro que todos utilizem algum tipo de suporte, evitando segurar o aparelho durante longos períodos. O esforço estático é maior e causa fadiga nos membros superiores. É importante também manter o braço apoiado e ter o celular na linha de visão correta, reduzindo a inclinação constante da coluna cervical”, adverte Cleiciane.
VANTAGENS DA ERGONOMIA
Nas fábricas, a ergonomia favorece o lucro, desempenho da produção. Ela melhora a eficiência e a qualidade do trabalho do funcionário. “A concorrência é alta e quem tem produto de melhor qualidade ganha mercado, deixa de perder dinheiro com o afastamento médico de funcionários. Criando projeto e tendo a produção consentida, rodízio de tarefas e meios de prevenção de LER/DORT evitamos a doença ocupacional”, justifica a fisioterapeuta.
Para os funcionários, a dica é cuidar da própria saúde, evitando burlar normas de segurança e de saúde do trabalho. “A primeira medida é a de eliminação de risco, depois as medidas de controle (rodízio de tarefa, ginástica laboral, etc.). Às vezes, burlar normas pra tentar acelerar a produção prejudica a saúde. A síndrome de Bournot, o estresse do trabalho, a pressão no trabalho pelo mercado econômico é um fator negativo. A depressão também pode vir a ser uma das maiores doenças de afastamento no futuro, no mundo. Portanto, é preciso ter cuidado com a saúde mental pela redução biomecânica e física”, observa a ergonomista.
Segundo funcionários assistidos pela ergonomista, as atividades promovem recuperação física e de autoestima. “Há dois anos eu desenvolvi uma doença articular que me atrapalhava nas operações do trabalho e fiquei afastado durante quase dois anos. No meu retorno comecei uma atividade com a Cleiciane. Isso me fortaleceu muito emocionalmente. Sentia muitas dores, inflamação nas articulações, dificuldade para abrir uma garrafa de água. A cada sessão que eu participava saia mais confiante, fortalecido emocionalmente. Cheguei a desenvolver as operações mais tranquilo, mais seguro. Hoje, posso executar qualquer operação que não tenho receio nenhum”, afirma o industriário Cristiano Cristão, citando que o conhecimento que adquiriu ajudou também no ambiente familiar, associado com as medicações que utiliza. “A disciplina aumentou. Um trabalho muito bom que tem que ter continuidade e faz muito bem para as pessoas que participam”, frisa.
FOCUSING
Entre as técnicas adotadas Cleiciane Medeiros utiliza o ‘Focusing’ ou Focalização, trabalhando com o inconsciente, a sabedoria corporal. “Ajuda tanto na recuperação física quanto dores emocionais. Uma abordagem para doenças osteomusculares relacionados ao trabalho e dores crônicas e emocionais”, finaliza Cleiciane Medeiros.
A ergonomista e terapeuta integrativa esta nas redes sociais como o Instagram (@cleicianedemedeiros) e presta atendimento agendado tanto para pessoas físicas e empresas, de forma presencial no ‘Espaço Sim pra Vida’, em Volta Redonda, e/ou à distância.