SUL FLUMINENSE
O novo comandante do 28º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Márcio dos Santos Guimarães, concedeu entrevista ao jornal A VOZ DA CIDADE, para falar sobre suas principais metas à frente do maior batalhão da região, que atende as cidades de Barra Mansa, Pinheiral e Volta Redonda. O policial disse que a principal delas será diminuir os roubos de rua e promover uma aproximação entre a PM e a população, inclusive com a criação de um novo canal de comunicação: o WhatsApp-Denúncia (24) 99839-0460.
“Comandar o 28º BPM é um grande desafio; é um batalhão muito importante, não só na região, mas para toda polícia do estado do Rio de Janeiro por conta da CSN e todo o complexo industrial. A gente foca o Sistema Integrado de Metas (SIM) da Secretaria de Segurança Pública do Estado, pois entendemos que suas metas são realmente os maiores problemas que devemos enfrentar em todo o estado. Elas se resumem em: roubo de rua (assaltos, roubo de celular, coletivo), roubo de veículos e a letalitade violenta, que engloba homicídio, latrocínio e o auto de resistência”, resumiu o comandante, que lidera o 28º BPM desde o último dia 13.
Guimarães disse que neste primeiro momento seu principal foco será a redução de roubo de rua em sua área de atuação, já que segundo ele, este tipo de crime pode provocar assassinatos, inclusive de policiais. No último ano, 132 policiais foram assassinados no estado do Rio de Janeiro.
“Fiz uma reunião com todos do batalhão e mostramos para eles o que está acontecendo no Rio de Janeiro. Os policiais estão morrendo porque estão sendo vítimas de assaltos. Quando o agente é assaltado, ele reage ou é reconhecido como policial e nessas situações ele costuma estar em desvantagem; seja ela numérica, de porte de armamento ou até mesmo pelo efeito surpresa. E desses 132 policiais mortos, a grande maioria estava de folga. Então, o policial acaba sendo surpreendido por aquela situação e a reação dele geralmente não dá conta”, avaliou Guimarães, lembrando a morte do cabo Eleonardo Silva Felix, o Léo, de 31 anos, que foi morto em novembro deste ano por bandidos durante um assalto a um posto de combustíveis em Barra Mansa.
“O SIM mostra que agora o roubo é realmente um problema que nós precisamos enfrentar para proteger não só o cidadão, mas até o próprio policial. Porque aqui nós somos clientes do próprio serviço, ou seja, o policial mora na região e aí se eu tenho um assalto no Centro de Volta Redonda, de Barra Mansa, uma hora a vítima pode ser o PM”, ressaltou.
ESTRATÉGIA
Para combater este tipo de crime, o comandante afirma que é preciso realizar um trabalho estratégico e de integração com a população. “Como faz para combater esse tipo de crime? Policiamento focado na mancha criminal e colaboração da população para identificar os marginais. Então, vamos buscar muita interação com a população. Abrir os canais de denúncia. Já contamos com o Disque Denúncia da Polícia Militar (08000 260 667), onde a ligação é gratuita, e agora temos um serviço de WhatsApp-Denúncia (24) 99839-0460 para os moradores enviarem fotos, vídeos e informações sobre crimes e atitudes suspeitas que possam ajudar a polícia a prender criminosos”, afirmou, garantindo o anonimato do informante.
Após a diminuição do roubo de rua, o foco será a queda no roubo de veículos, conforme adiantou Guimarães. “Resolvendo o problema do roubo de rua, a gente parte para o roubo de veículo que muitas vezes é usado para outros tipos de crime, inclusive homicídios. Temos que identificar os fatores que estão levando a esse tipo de ocorrência nas cidades e combatê-los”, revelou.
Valorização do policial
O comandante revelou ainda que pretende valorizar os 685 membros do 28º BPM, promovendo capacitações internas como aulas de artes marciais e eventos trimestrais para a premiação de policiais. Esse último, Guimarães disse que já conversou com entidades do comércio e empresários da região para que possam ajudar na realização dos eventos e acredita que a ideia será concretizada em breve.
Trabalho integrado e ‘Guardiões da Vida’
Guimarães assumiu o 28º BPM no último dia 13. Dias antes a Polícia Militar do 38º BPM – Três Rios, Paraíba do Sul e Sapucaia -, região pela qual era o responsável, apreendeu duas toneladas de drogas em uma semana. Além do combate ao tráfico, o comandante destacou o trabalho em conjunto que promoveu com a população, Polícia Civil e o Poder Judiciário.
“Lá nós tínhamos esse serviço de WhatsApp-Denúncia, que deu muito certo. A população nos ajudava demais. Chegavam vídeos de pessoas traficando, nos permitindo fazer a identificação. Também promovemos um trabalho de acompanhamento de casos de violência doméstica, depois de perceber que havia uma reincidência de 70% das ocorrências. Na região de Três Rios percebemos que 30% dos homicídios eram frutos de violência doméstica” informou o comandante.
Com base nesses números, o policial explicou que promoveu uma parceria com o judiciário para que policiais pudessem acompanhar audiências dos casais envolvidos e em seguida realizar o acompanhamento dos mesmos, num projeto de prevenção chamado “Guardiões da Vida”. A ação preventiva deu tão certo que os números de reincidência de 70% caíram para 5%.
“O que mais a PM atende em qualquer unidade do estado é a lesão corporal e grande parte dela é a violência doméstica. E essa violência gera homicídios passionais e são crimes que nós não conseguimos atuar com o policiamento ostensivo, porque acontece dentro de casa. Mas nós podemos atuar com uma ação preventiva, fazendo um acompanhamento desse casal por meio de uma indicação judicial; que foi o que fiz em Três Rios e região. Lá havia uma policial mulher e outro homem que faziam o acompanhamento, inclusive com um telefone funcional ligado 24horas, onde a vítima poderia ligar a qualquer momento. Isso transmitia maior segurança à mulher e inibia uma nova agressão”, afirmou.
O policial lembrou que em muitos casos de violência doméstica, a reincidência ocorre pela dependência financeira e emocional que a mulher tem com o agressor. Ele frisou que para combater isso contava com o apoio da prefeitura no encaminhamento desses casos para os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas).
Guimarães revelou que já conversou com o prefeito de Volta Redonda (cidade-sede do 28ºBPM), Samuca Silva (Podemos); e com o de Barra Mansa, Rodrigo Drable (MDB), sobre o assunto. Ele revelou que Drable acenou à possibilidade de já criarem um grupo de trabalho para combater a violência doméstica em Barra Mansa.
Crianças e Jovens
Numa outra vertente do projeto, batizada de “Guardiões da Vida da Juventude”, o comandante do 28º contou que tem como foco crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, onde o objetivo é dar condições e oportunidades àqueles que sofrem com a desigualdade. O projeto realizado no 38º BPM vai também ser promovido no 28º BPM, segundo ele.
“Vamos trabalhar essa questão da proximidade. Atenderemos a criança e jovens que estão em risco social, àquelas que têm envolvimento com drogas, que tem problemas comportamentais no colégio e etc. Lá (na região do 38º BPM) nós atendíamos a 350 crianças onde os policiais já conheciam pelo nome e promovíamos aulas de artes marciais para eles dentro do próprio batalhão. Então você acaba afastando o menino do mundo do crime e aproximando ele da polícia”, falou, logo completando: “Nós acabávamos trabalhando toda essa energia que ele canalizava para coisas ruins para se transformar em boas. Tenho certeza de que vão sair talentos de lá, mesmo que seja um eu já estou satisfeito, porque um garoto que não teria oportunidade de nada passou a ter”, frisou.