Médico cita que atraso da 2ª dose da CoronaVac é preocupante pelas incertezas da doença

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SUL FLUMINENSE

A aplicação da 2ª dose da CoronaVac, uma das vacinas do programa de imunização brasileiro contra a Covid-19, está suspensa em algumas capitais e cidades espalhadas pelo Brasil e também na região. O fato de centenas de milhares de brasileiros não terem voltado para complementar à imunização com a CoronaVac, preocupa especialistas, mesmo autoridades afirmando que  a aplicação fora do prazo não deve anular o efeito da 1ª dose. A orientação de não guardar a vacina para a segunda dose partiu do Ministério da Saúde. Algumas cidades seguiram, outras não e ainda contam com uma pequena reserva que já está acabando.

A CoronaVac é produzida no Brasil pelo Instituto Butantan e tem como orientação que a 2ª dose seja aplicada 28 dias depois da primeira.

De acordo com médico pneumologista de Barra Mansa, Gilmar Zonzin, em uma época de muitas incertezas, não é inteligente, nem conveniente, vacinar a população sem a reserva da 2ª dose. “Não temos certezas, consistências para dizer qual o intervalo ideal entre a 1ª e a 2ª dose dão imunizante. O que temos é a certeza de que na CoronaVac é que a pessoa recebe as duas doses e assim sendo, a atitude de não reservar pra quem tomou a primeira dose e aplicando mais alastradamente sem a preocupação com a segunda dose, não é conveniente e nem inteligente. Pois na ausência dessas informações, de incertezas, não é prudente que se estenda esse intervalo pelo menos não de uma forma exagerada”, avalia, explicando que tudo o que tem sido feito em relação a Covid-19 tem sido mais acelerado, rápido, e até, de certa forma, precipitado, por conta da gravidade da pandemia e da mortalidade associada. “Não tivemos muito tempo para fazer análises comparativas, testes, ou estudos mais aprofundados. O que temos de dados sugere, por exemplo, que as vacinas Pfizer e da Oxford/AstraZeneca seriam capazes de produzir um grau de imunidade mais consistente  com uma primeira dose o que não seria alcançado na 1ª dose da CoraVac. E isso levou uma orientação que a 2ª dose da CoronaVac seria aplicada mais precocemente em comparação a dose de reforço das outras vacinas. Só que isso foi, de certa forma, um pouco empírico, mas não houve estudos que comparassem essa aplicação na data prevista, com prazos maiores posteriores”, informa.

Para ele, é essencial que se priorize a 2ª dose do imunizante. “É necessário fechar a imunização de um grupo. Não é interessante ter um grupo de pessoas meio imunizadas. Ter pessoas imunizadas de forma correta pode se criar barreiras de proteção e segurança razoável, por outro lado, ter pessoas parcialmente imunizadas não deve levar a esse tipo de proteção e continuaria ter a vulnerabilidade do grupo. A classe médica não vê como uma boa ideia ampliar o leque de vacinação da primeira dose e deixar as pessoas meio imunizadas”, aponta.

DESPERTA E REFORÇA

Zonzin explica as diferenças entre as doses do imunizante. “A primeira desperta o sistema imunológico e a 2ª reforça essa resposta imunológica ampliando a capacidade de defesa do corpo ao entrar em contato com Sars-Cov 2 de agir mais eficazmente evitando especialmente os quadros de mais gravidade, os mais fatais, que levam a morte.  A 1ª dose isoladamente, não mostrou essa capacidade para a CoronaVac, os dados isolados de uma dose isolada desta vacina sugerem uma limitação, necessitando da segunda dose e esse intervalo deveria ser respeitado.A Pfizer e a Oxford/AstraZeneca foram mais efetivas em suas primeiras dosagens”, pondera.

VACINA SIM, MESMO COM ATRASO

Para o pneumologista, é aconselhável que, mesmo atrasada, se tome a vacina. “No mundo real não dá pra deixar de fazer a 2ª dose porque ela está atrasada, seria um erro maior ainda. É preciso fazer. Não sabemos qual a eficácia da vacina diante de seu atraso, pode ser que nada seja prejudicado na geração de resposta imunológica, mas pode ser que sim. Temos um reino de incertezas e esta é mais uma. O bom senso pede que se faça a segunda dose o mais rápido possível, quando estiver disponível. O atraso é uma incógnita”.

Um dos problemas possivelmente acarretado pelo atraso da dosagem é a pressão seletiva. “Ou seja, uma pessoa parcialmente imunizada pode ser resistente a vírus de menos agressividade e ser sucessível a vírus mais agressivo. Temos diversas possibilidades em relação a você ter esse tipo de hiato entre uma dose e outra. O fato é que do ponto de vista de gestão não é uma boa estratégia abrir esse leque da primeira dose e deixar a pessoa sem a segunda, pois acaba imunizando de forma não satisfatória a todos”, destaca.

CUIDADOS CONTINUAM

O médico é enfático ao dizer que os cuidados de higienização e prevenção continuam mesmo após a vacinação. “Em termos de cuidados, vemos que na realidade nem com as duas doses podemos ficar absolutamente tranquilos. Imunizados, conseguimos evitar a doença em sua forma grave. Diante de uma doença tão letal e que assumiu um padrão tão agressivo, é preciso se preservar em relação aos cuidados de risco de transmissão e contágio da mesma forma que o indivíduo se comportava antes de se vacinar. Não temos um grau de garantia que teremos uma redução de riscos. E passada a segunda dose, acreditamos que teremos proteção da forma mais grave da doença”, conclui.

 

 

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