As declarações do youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, tiveram repercussão nacional e internacional durante esta semana. Em um podcast, o apresentador defendeu a existência de um partido nazista no Brasil e declarou que se colocar contra judeus é um direito de qualquer pessoa.
É bom lembrar que a última criação legitimada de um órgão político que incitava e patrocinava assassinatos em massa, motivados por discordâncias ideológicas, resultou em um genocídio étnico e racista chamado holocausto. Esse programa sistemático de extermínio matou aproximadamente seis milhões de judeus.
Estamos diante de um bom exemplo de deturpação do sentido da liberdade de expressão, que se configura pela garantia da livre manifestação. Defender a extinção de um povo, assim como aconteceu com os judeus, excede o limite de externar o que se pensa, desrespeita a memória das vítimas e dos sobreviventes.
Combater falas preconceituosas não é censura. É justamente não deixar cair no esquecimento os horrores provocados pelas diversas demonstrações opressoras registradas em nossa história.
Concordar com discursos discriminatórios na atualidade, sobretudo em um país que viveu pelo menos 20 anos de ditadura, e que lutou e ainda luta por igualdade de direitos, é um retrocesso a todas as conquistas contabilizadas até aqui. A liberdade de expressão termina onde a divulgação de um pensamento coloca em risco a vida do outro, seja pela sua etnia, cor de pele, orientação sexual ou religião.
Devemos sim contradizer, contestar e contrapor qualquer expressão que não tenha o respeito às diferenças como premissa básica. Afinal, toda vez que nos calamos e deixamos o silêncio ocupar os espaços de combate ao preconceito, condutas que apoiam a segregação ganham força e podem destruir conquistas que constituem os valores mais sagrados da democracia. Se um governo é do povo, não podemos permitir que se busque aniquilar este povo ou qualquer outro, em nome do princípio da dignidade da pessoa humana.