VOLTA REDONDA
Paulo Celio Soares, de 49 anos, doutor em História, como grande parte dos habitantes de Volta Redonda, é mineiro. Natural de Muriaé (MG), o historiador reside na Cidade do Aço desde 1975 e no aniversário de 67 anos ele mostra um pouco da história da idosa cidade. Sua família repetiu o itinerário de milhares de outras famílias e migrou da Zona da Mata mineira para Volta Redonda, em busca de melhores condições de vida. Embalada pelo sonho do emprego e de uma vida melhor, a família do historiador deixou a roça, transformou-se em mais uma família siderúrgica e fez da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), sua provedora, como a maioria dos moradores do município até os anos de 1990.
Volta Redonda, conhecida como a cidade do Aço, foi modelo para o país. “Aqui se iniciou a industrialização nacional e graças a Getúlio Vargas e seu projeto industrializante, Volta Redonda se tornou um modelo, um exemplo de um Brasil novo que se nascia”, contou. Disse ainda que a cidade estruturou-se em torno da Usina Presidente Vargas (UPV), que iniciou a construção em 1941 e concluiu em 1946.
Conta o historiador, que o pequeno distrito de Santo Antonio, de Volta Redonda, oitavo distrito de Barra Mansa, que até então tinha cerca de cinco mil habitantes vivendo em torno da Igreja Santo Antonio, no atual bairro Niterói, se transformou na primeira cidade industrial do Brasil, a chamada companital, que significa cidade companhia.
Segundo Paulo Celio, o grande fato é que com a implantação da CSN, fruto da política intervencionista e industrializante de Getúlio Vargas, o pequeno distrito se transformou em uma cidade operária. Na construção da CSN, segundo ele, foram mobilizados mais de 20 mil operários, os famosos peões, os arigós que vinham sobre tudo da Zona da Mata Mineira. Ele lembrou que a CSN construiu bairros para os seus operários morarem, como Conforto, Vila Santa Cecília, Sessenta, Laranjal e Bela Vista. Esses bairros faziam parte da chamada Cidade Nova que até 1967 era administrada pela CSN. A empresa cuidava do recolhimento de lixo, iluminação, policiamento e de outros serviços. Já o núcleo que compreendia Niterói, Retiro e adjacências, era chamado de Cidade Velha. Só a partir de 1967 que os dois lados se juntaram e Volta Redonda veio se unificar como uma teia urbana única.
CIDADE OPERÁRIA
Conforme conta o historiador, além de ser companital, Volta Redonda era também uma cidade operária. O Sindicato dos Metalúrgicos, criado nos anos 40, em Barra Mansa, se tornou uma força mobilizadora muito forte e teve diretorias muito combativas nos anos 50 e 60, que representava de forma bastante significativa à classe operária local. Esse sindicato, junto com a Igreja Católica, resistiu à implantação da ditadura em 1964 e particularmente a Igreja de Volta Redonda ocupou um lugar de destaque no País na luta pela redemocratização e contra o autoritarismo da ditadura militar. Travaram-se grandes batalhas encabeçadas pelo bispo Dom Waldyr Calheiros, desde a prisão de vários membros da igreja, sindicalistas, até a morte de quatro militares e outros.
Foram vários confrontos da frente operária contra a ditadura militar nos anos 70, quando a cidade abrigou grande processo de mobilização de luta pela terra, saúde, moradia e muito mais. A cidade permaneceu altamente dependente da CSN até os anos 90, na privatização da empresa, em 1993. A privatização provocou grande baque, mas em 2000 a cidade se tornou um grande polo de serviço, uma cidade regional e não mais industrial. Ela se desenha muito mais como um grande polo de serviços e tem grandes desafios pela frente, principalmente de se tornar uma cidade inclusiva e moderna, que atenda às expectativas dos moradores em relação à saúde, moradia, educação de qualidade, emprego e segurança. “Hoje esse o perfil que Volta Redonda tem. A cidade é desafiada de novo a ser modelo para o Brasil. Este é o grande desafio para o Poder Público e as novas gerações. É desafiada a cumprir esse papel hoje e sair de vez de município indústria”, finalizou.