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Uma nova técnica criada por pesquisadores americanos pode ser a solução para curar a vaginose bacteriana – uma infecção vaginal comum, causada por bactérias que provoca coceira, secreção e odor forte. O método consiste no transplante de fluidos vaginais provindos de uma doadora saudável e transferidos para a paciente através de um dispositivo semelhante a um absorvente interno, indica estudo publicado no periódico Frontiers in Cellular and Infection Microbiology.
De acordo com a equipe da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, o procedimento foi inspirado no transplante fecal. “O transplante de microbiota vaginal tem o potencial de revolucionar a maneira como vemos e tratamos as condições que afetam o trato reprodutivo feminino”, disseram os cientistas no estudo.
A técnica agora deve passar pelos primeiros testes clínicos com a aprovação da Food and Drugs Administration (FDA) – responsável pelo controle de medicamentos nos Estados Unidos. O aval da agência veio depois de estudo piloto analisar 20 participantes (entre 23 e 35 anos) – das quais sete tinham microbiota vaginal indicando que poderiam ser doadoras em potencial. Os primeiros testes clínicos devem envolver 40 participantes: algumas receberão o transplante e outras, placebo, para fins de comparação.
Vaginose bacteriana
Apesar de ser uma infecção bacteriana no sistema reprodutivo feminino, a vaginose não é considerada um doença sexualmente transmissível (DST). Mais comum em mulheres entre 15 a 44 anos, ela ocorre devido a uma mudança no equilíbrio natural das bactérias na vagina. Embora as causas do problema não estejam totalmente esclarecidas, acredita-se que a infecção seja desencadeada por ducha, dieta, medicamentos, alterações hormonais durante o ciclo menstrual ou sexo com múltiplos parceiros.
Na maior parte do tempo, a vaginose não apresenta sintoma, mas pode provocar um forte odor de peixe, além de queimação, coceira e secreção fina e branca. A presença da infecção também pode tornar a mulher mais suscetível à DST’s e doença inflamatória pélvica – problema que surge quando gonorreia ou clamídia não são tratadas, afetando útero, trompas e ovários. A vaginose também pode causar aborto espontâneo e parto prematuro em gestantes. Também já foi associada a câncer de colo de útero.
A atual forma de tratar essa infecção é por meio de antibióticos, mas dados indicam que a doença retorna em até três meses do final do tratamento. “Temos poucas opções de tratamento disponíveis para a vaginose bacteriana e nenhuma delas é totalmente curativa ou restauradora”, comentou Ethel Weld, coautor do estudo, ao Daily Mail.
O transplante
Assim como diversas partes do nosso corpo, a vagina está repleta de microrganismos saudáveis. Eles geralmente preferem um ambiente mais ácido (abaixo de 7) – quando o pH muda para alcalino, as bactérias que causa a vaginose se proliferam. As mudanças no pH vaginal podem acontecer por diversas razões, incluindo sexo já que sêmen e saliva são ligeiramente alcalinos.
Com base nesses dados, os pesquisadores determinaram que as doadoras de fluidos devem ter uma microbiota vaginal mais ácida. O teste inicial, por exemplo, indica que a presença dominante da bactéria Lactobacillus crispatus permite que o ambiente seja mais ácido e, portanto, protege mais a mulher contra a vaginose.
Segundo a equipe, mulheres dentro desse perfil poderiam ser potenciais doadoras. Uma vez selecionadas, elas farão testes para determinar a presença de DST’s (atual ou passada) ou outra condição médica que poderia impossibilitar a doação. As aprovadas podem coletar o fluido por conta própria. Para que a coleta de fluido ocorra, a doadora precisa se abster de sexo por pelo menos um mês para não interferir na microbiota a ser doada.