Greve do transporte coletivo afeta usuários em Resende

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RESENDE

Os usuários do transporte coletivo estão enfrentando muita dificuldade para o deslocamento nesta terça-feira, dia 1º. Teve início no fim da tarde de segunda-feira, dia 30 de novembro, uma greve por tempo indeterminado dos serviços prestados pela Viação São Miguel, empresa responsável pelo transporte coletivo urbano e distrital no município. Com toda a frota na garagem da empresa, localizada no bairro Cidade Alegria, a terça-feira tem sido de desencontro de informações entre os usuários que não sabiam do movimento grevista.

A comerciária Ana Maria Ribeiro, 48, ficou irritada ao saber que nenhum coletivo passaria no terminal do Rodoshopping Graal, no bairro Paraíso. “Preciso chegar ao serviço às 8 horas para limpar a loja e iniciarmos o expediente às 9 horas. Vim para o ponto às 7h30min e vi tudo lotado. Achei que o papo de greve fosse coisa da internet, mas to vendo e vivendo esse momento com muita revolta. Vou dividir uma corrida de aplicativo com minha colega, será o jeito”, comenta a moradora do Castelo Branco que esperava condução para o Manejo. No terminal da Graal muitos usuários que esperavam linhas distritais também foram surpreendidos pela greve. “Não tem ônibus para Mauá? Como eu faço agora? Ninguém avisou nada, como é isso?”, questionava o produtor rural Sebastião Dias, 56. “Acho um absurdo ficar sem ônibus para um local tão longe como Mauá”, disse.

Usuários aguardavam os coletivos no terminal do Rodoshopping Graal, no Paraíso – Idelfonso Pinheiro

Em Campos Elíseos os terminais habitualmente lotados toda manhã de dia útil, ficaram vazios. “É estranho essa calma toda nesse horário. To aguardando ônibus para a Vicentina, mas soube da greve e decidi esperar uma carona ficando aqui no ponto. Vi outras pessoas indo embora frustradas, sem saber como ter uma condução para suas atividades”, comentou a auxiliar de escritório Gabriela Nascimento, 24. A alguns quilômetros dali, na Rodoviária Augusto de Carvalho, no Centro, principal terminal das linhas distritais e urbanas, o fluxo de usuários foi reduzido pela greve. “Vim na verdade conferir se essa greve é verdade, porque não acreditei no que ouvi na rua. Preciso ir para a Fazenda da Barra e vou adiar meus compromissos”, conta o aposentado Paulo Carvalho, 61.

O terminal rodoviário no Centro ficou vazio com a greve da empresa de ônibus em Resende – Idelfonso Pinheiro

TRABALHADORES  EXIGEM BENEFÍCIOS

Em greve os motoristas, mecânicos e outros funcionários se concentraram diante da sede da empresa, no bairro Cidade Alegria. Viaturas da Polícia Militar prestaram segurança contra qualquer adversidade no local, sendo possível registrar que a frota de ônibus permanece estacionada no pátio. Desde o início da noite de segunda-feira os veículos foram recolhidos e os funcionários aguardam uma decisão da Viação São Miguel. A greve por tempo indeterminado foi deflagrada, segundo os trabalhadores, em virtude da decisão da empresa em parcelar o benefício do décimo terceiro salário.

João Carlos tratou das negociações acatando o anseio dos funcionários da empresa – Idelfonso Pinheiro

Segundo João Carlos Cardoso, representante dos funcionários grevistas, a categoria espera uma definição da empresa. “A paralisação foi feita por conta de muitas reivindicações que a empresa adia seus compromissos e agora, não sabemos por qual motivo não pagaram o décimo terceiro salário, então os funcionários decidiram parar. São mais de 80 carros parados, que atende toda a cidade e área rural, são mais de 200 funcionários na mesma situação e muitas linhas paralisadas prejudicando a própria população. Peço desculpas para a população, porque se não fizermos esse movimento a gente já vem sofrendo isso há muitos anos e já estamos com um monte de coisas atrasadas: Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, PLR que não é pago há dois anos; hora-extra que não paga, agora vem o décimo terceiro. Muitos trabalhadores saíram de férias e não receberam o um terço de direito, só recebe após julho. Então, todos estão preocupados com o que pode acontecer pelo histórico de uma empresa que já passou por Resende e foi embora e não pagou os funcionários e processos acontecem até hoje na Justiça. Não queremos viver essa situação com a São Miguel”, informa.

A Polícia Militar manteve viaturas diante do portão principal da empresa, na Cidade Alegria – Idelfonso Pinheiro

Na pauta de reivindicações consta o pedido do um terço de férias para dezembro, o pagamento integral do vale-alimentação que é parcial há seis meses. Os funcionários alegam que recebem R$ 225 e teriam direito a mais R$ 416 sobre esse valor. “A PLR que não é paga há dois anos, FGTS que não é depositado há dois anos; hora-extra ou folga, décimo terceiro e o pessoal que saiu de férias em março, abril e junho que teria agora em dezembro seu um terço de férias e não foi pago”, afirma João Carlos. É consenso entre os trabalhadores que a greve não tem previsão de encerramento até que o décimo terceiro seja pago integralmente. Além disso, a categoria alega que seguirá no apelo para que os demais itens da pauta de reivindicação seja cumprida, sob risco de ocorrer nova paralisação futura. “Estamos aguardando uma posição da direção da empresa sobre o décimo terceiro. Pagando os funcionários voltarão aos seus postos, mas seguindo no apelo para os demais itens atrasados. Não havendo prazo legal para que esses outros itens sejam pagos, podemos novamente entrar em greve. A empresa está em fim de contrato e precisamos garantir nossos direitos”, observa o representante dos trabalhadores.

PREFEITURA CEDE FROTA PARA O SERVIÇO

Por se tratar de uma concessão municipal e serviço essencial, a Prefeitura de Resende informou ao A VOZ DA CIDADE que está desde segunda-feira atuando para minimizar os transtornos causados pela paralisação de ônibus da empresa São Miguel. Na noite desta segunda-feira, enviou vários veículos, entre ônibus, vans e carros de passeio da administração municipal para garantir o retorno para casa da população.

O governo municipal auxiliou a condução de funcionários de unidades de saúde – Idelfonso Pinheiro

Já na manhã desta terça-feira, colocou veículos à disposição dos funcionários municipais das unidades de saúde para que não deixem de trabalhar atendendo a população. “É importante ressaltar que em nenhum momento a prefeitura foi notificada ou avisada sobre uma possível paralisação. Empresas que prestam serviços essenciais, como transporte público, devem avisar paralisações com pelo menos 72 horas de antecedência, conforme determina a lei. A prefeitura vai tomar as medidas administrativas e judiciais cabíveis contra a empresa São Miguel”, informou o governo municipal.

EMPRESA RESSALTA QUE SALÁRIOS ESTÃO EM DIA

Por sua vez, a direção da Viação São Miguel atendeu o A VOZ DA CIDADE e comunicou que a greve foi uma ação isolada. “Comunicamos que a paralisação foi uma atitude isolada de alguns dos nossos colaboradores, não sendo um ato do Sindicato dos empregados, desrespeitando a princípio as condições básicas para um movimento grevista legal de: 1. Obrigação de dar aviso prévio (comunicação) sobre o início da greve com 72 horas de antecedência; 2. Obrigação de recorrer a procedimentos de conciliação, mediação e arbitragem voluntária, como condição prévia à declaração da greve; 3. Celebração de escrutínio secreto para decidir a greve; 4. Adoção de medidas para a observância das normas de segurança e prevenção de acidentes; 5. Manutenção de uma frota operante mínima a ser determinada pelo poder concedente e confirmada pelo poder judiciário; 6. Garantia da liberdade de trabalho dos não grevistas”, ressalta.

Segundo o diretor Rodrigo Camargos, a empresa está com seus salários mensais em dia e atrasou momentaneamente o adiantamento do décimo terceiro salário em razão de uma negociação que estava sendo realizada na base do sindicato funcional. “Após a paralisação, propôs aos colaboradores o pagamento até o dia 2/12/2020 com início imediato das atividades laborais, sendo que alguns dos colaboradores estão no momento irredutíveis. Assim, todos os esforços estão sendo realizados para a normalização dos serviços”, informa a direção da empresa.

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