Nos últimos anos, na região Sul Fluminense o uso de bicicletas como meio de transporte, para a prática esportiva – alguns profissionalmente -, quanto para o lazer segue em grande ascensão. Os números não são precisos, mas estima-se que, mais de cinco mil pessoas utilizem a bicicleta, popularmente conhecida como ‘magrela’ ou ‘bike’ para estes fins.
De acordo com os dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), desde o começo deste ano tem sido constante o ritmo de crescimento.
No mês de julho, houve alta de 31,7% em relação a igual mês de 2017 e, no acumulado de janeiro a agosto de 2018, foram produzidas 496,8 mil unidades, número 14,6% acima do mesmo período de 2017 e já se aproximando da projeção do setor de crescer neste ano, cerca de 15%.
O balanço refere-se apenas às principais empresas do setor que detêm 10 marcas: Caloi, Cannondale, GT, Schwinn, Houston, Audax, Sense, Sense e-bikes (elétricas), Oggi e Ox, que são produzidas no Polo Industrial de Manaus (PIM). Diante disso, acredita-se que, este número possa ser muito maior, uma vez que, ainda existem as importadas e que caíram no gosto do brasileiro, e em alguns casos, devido o preço, ‘cabem no bolso’ dos ciclistas.
Ainda de acordo com dados da Abraciclo, a maior produção é o da versão urbana com uma expansão na comparação mensal de 60,8% (65,2 mil unidades). Só o modelo Mountain Bike, MTB, teve elevação de 22,6% sobre o mês de julho com 31.978 unidades produzidas. Já os modelos voltados para uso em estradas, as conhecidas no meio ciclístico speed, tiveram um crescimento na produção em 36% com 589 unidades. A associação informa, ainda que, foi mantida a meta de um crescimento de 15% neste ano com uma produção de 765 mil unidades. Até julho último, a projeção era bem menor, de 9%. Os dados são apenas da produção, mas pela distribuição dos itens fica implícito que o maior consumo fica concentrado nos estados da região Sudeste para onde são distribuídos mais da metade (54%) dessa produção. Para o Sul do país seguem 19,7%; Nordeste, 14,7%; Centro-Oeste, 6,5%; Norte, 5,1%.
ROTA CICLOTURÍSTICA
E de olho neste crescimento e também, na oportunidade de atrair turistas de outras regiões que, também aderiram ao ciclismo, está sendo criado o ‘Circuito Ciclístico do Médio Paraíba’, que acumulará cerca de 450 quilômetros abrangendo as cidades de Valença, Vassouras, Barra do Piraí, Piraí, Rio Claro, Pinheiral, Volta Redonda, Barra Mansa, Quatis, Porto Real, Resende e Itatiaia.
O projeto está sendo desenvolvido o Núcleo Ciclo Turismo, criado pelos integrantes do eixo Turismo do Programa Liderança para o Desenvolvimento Regional (Lider) que é uma iniciativa do Sebrae Rio na região do Médio Paraíba.
E para que de fato, o projeto saia do papel e, seguindo uma proposta do Sebrae, os integrantes do núcleo programaram a realização de cinco pedais de reconhecimento visando o mapeamento de todo o percurso.
O primeiro foi realizado no dia 27 de outubro, onde um grupo formado por dez ciclistas partiu da Catedral Nossa Senhora da Glória, em Valença, passando pelo Parque da Concórdia, Fazenda da Embrapa, Inea, Barão de Juparanã, Lacerda, Eco Resort, Fazendas São Fernando e Secretário, Centro de Vassouras, Cinco Lagos e Ipiranga com o objetivo de mapear o percurso.
Já o segundo pedal foi realizado no dia 25 de novembro. O grupo percorreu o trecho da região das Agulhas Negras: Serrinha do Alambari, no bairro Penedo, em Itatiaia, Visconde Mauá e Vargem Grande, em Resende.
Evandro Queiroz Glória, um dos integrantes do grupo Lider, disse que os objetivos dos pedais de reconhecimento são de conhecer a rota, identificar os possíveis parceiros, como hotéis e pousadas, restaurantes, bicicletarias e outros serviços afins, e marcar os locais onde serão instalados, ao longo de todos os trajetos os primeiros ‘totens’ com informações para os ciclistas que explorarão a rota. Além dos ‘totens’, o grupo planeja instalar atendimento receptivo em cada um dos municípios que fará parte do trajeto, criando pontos de apoio com serviços para os cicloturistas. “O Programa Líder promove a integração regional das 12 cidades da nossa região nos quatro eixos definidos, educação, mobilidade, tecnologia e turismo. O que estamos fazendo é começar a tirar as ideias do papel para viabilizar ações que possam incentivar e viabilizar essa integração. Definimos uma ação que terá muito sucesso, já que a cultura da bicicleta cresce em todo o mundo e também na nossa região e temos que explorar isso, criar oportunidades para todos e, ainda, proporcionar e oferecer o turismo para todos. Nossa região é muito rica, também nos aspectos turísticos”, explicou Queiroz, acrescentando que para ajudar na divulgação, o circuito utilizará a plataforma ‘Bike Map’ até que seja criado um aplicativo próprio que deverá estar disponível gratuitamente a partir de junho de 2019, quando o grupo acredita que o circuito esteja mapeado. “A ideia é que o ciclista possa começar e finalizar o passeio a partir de qualquer ponto que desejar dentro do circuito, com a indicação dos serviços disponíveis no trajeto. Estamos calculando que, em média, os ciclistas deverão pedalar no mínimo 50 quilômetros por dia conhecendo as belezas naturais e os atrativos da região. Para isso haverá o aplicativo que o auxiliará neste sentido”, acrescentou Evandro.
Entre os participantes, estava o barra-mansense Marco Cambraia que encara o projeto como uma perspectiva de fomento à economia para toda região, através do turismo esportivo. “A secretaria de Juventude de Barra Mansa tem debatido a implantação de projetos direcionados à cultura da bicicleta, como meta de desenvolvimento sustentável. Dessa maneira, vamos começar pelo cicloturismo e na medida do possível avançar para os bairros e o Centro da cidade”, explicou Cambraia.
PRÓXIMOS PASSOS
De acordo com Evandro Queiroz os próximos passos serão definidos no sábado, dia 12, durante um Seminário que acontecerá em local ainda a ser definido pelos integrantes do grupo. Na ocasião, além da apresentação do Projeto Lider, haverá uma palestra com o professor da UFRJ e da UFF, Luiz Saldanha, que é especialista em cicloturismo nacional e internacional e doutor em Turismo. Ainda, de acordo com Evandro, o encontro que contará, também, com a presença do secretário de Desenvolvimento Econômico de Volta Redonda, Joselito Magalhães, no mesmo dia, acontecerá uma reunião, restrita, com os membros do grupo Lider para a definição do calendário dos próximos ‘pedais de reconhecimento’.
DESRESPEITO NO TRÂNSITO
Nas cidades de Barra Mansa, Resende e Volta Redonda, é possível observar este crescimento, seja para o lazer ou como mobilidade urbana. Andando pelas ruas destas cidades, um ou mais ciclistas é visto circulando em meio aos carros, uma vez que, nas áreas de maior circulação, onde se concentra o comércio, não existem ciclovias ou ciclofaixas que possam facilitar a locomoção dessas pessoas que utilizam a bicicleta no dia a dia e acabam ficando exposta a falta de respeito às leis de trânsito, onde muitos deles acabam sendo vítimas, às vezes fatais, de acidentes provocados, na maioria das vezes, por algum motorista que, simplesmente, desrespeita a lei, que determina a distância, lateral mínima de 1,5m do ciclista, pois assim como em muitas outras situações, ele tem a certeza de que não será punido, já que a fiscalização é falha, em todos os sentidos.
O CÓDIGO DE TRÂNSITO
A Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, Institui o Código de Trânsito Brasileiro. E no art. 201 cita que, “Deixar de guardar a distância lateral de um metro e cinquenta centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta, o motorista está cometendo uma infração média, que acarreta em multa”, diz a lei. No entanto, essa lei não é colocada em prática, ou seja, nenhum motorista infrator é multado. Com isso, os acidentes, as mortes seguem acontecendo. Não apenas pela falta de punição aos infratores, mas também, pela falta de conscientização e principalmente, a falta de uma política, mas eficaz de mobilidade urbana.