Pais e neuropsicóloga de Volta Redonda falam sobre diagnóstico tardio do autismo

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VOLTA REDONDA
Abril é o mês de conscientização do autismo. Chamado de Abril Azul, busca debater o Transtorno do Espectro Autista (TEA), dando ainda visibilidade ao assunto. Isso porque muitas pessoas passam a infância, e podem chegar a vida adulta, sem ter um diagnóstico correto para seu desenvolvimento pleno. Segundo a neuropsicóloga Marcele Campos, DSM 5 Tr trouxe revisão nos critérios de diagnósticos do autismo e os sinais já aparecem antes dos três anos, tem com alterações persistentes na comunicação e interação social em vários contextos como déficit na reciprocidade social e como critério B, interesses fixos e repetitivos, manifestados em vários contextos e que podem causar prejuízo significativo. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento, porém eles podem não estar totalmente aparentes até que exista uma demanda social para que essas habilidades sejam exercidas, ou podem ficar mascarados por possíveis estratégias de aprendizado ao longo da vida.
Pais de Henrique, de 16 anos, Gustavo Henrique e Vanessa Carvalho, fizeram a descoberta do TEA do filho um pouco tardiamente, quando ele estava com nove anos. Arteterapeuta, Vanessa diz que Henrique sempre foi um menino que recebeu muito estímulo para seu desenvolvimento, tendo o avanço esperado para a idade dele na primeira infância com alguns atrasos, o que foio percebido antes dos 24 meses. “Henrique falava em casa algumas palavras, mas em outros ambientes ele não interagia de forma adequada, e apresentava uma brincadeira solitária. Porém, foi dentro do processo de alfabetização, quando a demanda aumentou, ele apresentou muita dificuldade na alfabetização”, lembrou a mãe, completando que a família buscou ajuda novamente e a escola encaminhou para uma avaliação neuropsicológica.

Pais de Henrique e Marcele Campos, neuropsicóloga – Foto: Reprodução

A mãe destacou que a escola sempre repassava que ele estava tendo evolução e em casa a família entendia, portanto, que ele estava “preguiçoso” em fazer as atividades. “E aqui quero trazer a importância do olhar do professor, da coordenação. As escolas que ele passou me apontavam que ele estava indo bem, aprendendo a ler e escrever”, lembrou a mãe. Já Gustavo disse que o cenário do seu filho foi mascarado. “Se fossem sinceras, o andar do Henrique na educação seria menos traumático”, completou.
Quando ele estava com oito anos, após um laudo de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (Tdah) e Dislexia, foi que a escola que ele está até hoje – passou por três antes da família encontrar um local que o atendesse como deveria – apontou que ele precisava de outro laudo. A família ainda relutou, pois já tinham um diagnóstico fechado, mas também percebia que ainda faltava algo.
“Henrique chegou para mim no final do terceiro ano do Ensino Fundamental com a hipótese de Tdah e dislexia. E bati o olho e vi que tinha algo, ainda seria necessário fazer uma avaliação para fechar um diagnóstico. Não precisamos fazer avaliação neurospsicológica para diagnosticar o TEA, fechamos de forma clínica, mas em muitos casos os médicos solicitam porque precisamos descrever os perfis da criança, suas forças e fraquezas, e qual é especificamente o perfil neuropsicológico que essa criança tem”, explica, lembrando que na infância essa investigação não é tão difícil, mas exemplificou quando esse diagnóstico acontece de forma tardia na infância ou até na vida adulta.
Segundo Marcele, ao pensar em um adulto de 30 anos que nunca foi diagnosticado com TEA, que não teve o suporte necessário, remontar toda a história da pessoa é trabalhoso porque também existem outros transtornos, síndromes, que não podem ser desconsiderados. “Temos experiência de diagnóstico de adulto com TEA. A pessoa teve um direcionamento errado a vida inteira. Falar sobre autismo muitas pessoas já falam, mas jovens, adultos, precisam de acompanhamento. Existem muitas pessoas que conheci que viveram em sofrimento até se encontrarem. Não é uma coisa fácil de se fazer, mas é de suma importância, se o adulto tem alterações e prejuízos desde a infância que nunca foram tratados”, destaca a neuropsicóloga.
LIBERTADOR
E quando o laudo de Henrique saiu apontando TEA nível 1, os pais contam que foi libertador. E até para Henrique foi importante. Aos nove anos, quando soube o que tinha, disse que fazia sentido então o que ele sentia e passava. Hoje adolescente, continua fazendo acompanhamento. De uma criança que tinha dificuldade na leitura, escreve Histórias em Quadrinhos com animação, lê diversos livros e evoluiu nas habilidades sociais. Tudo isso, segundo os pais e a neuropsicóloga, graças a uma rede de apoio entre profissionais, família e escola.
“Sabemos que para muitas pessoas pode não acontecer assim. Cada um tem experiências únicas. Mas precisamos fazer para que as coisas aconteçam. A mensagem que desejamos passar é desse olhar que precisamos ter juntos, pensando juntos, criando estratégias. Não é um processo rápido, mas ganhos vão acontecendo. Seja qual for a rede de apoio, as famílias precisam buscá-la, seja no órgão público ou particular. Existem diversos projetos públicos que têm um trabalho muito relevante”, argumenta, completando que um diagnóstico precoce é sim fundamental para alterar o prognóstico futuro e corrigir atrasos mais profundos, mas essa rede bem estabelecida, mesmo que tardiamente, faz total diferença.

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