Falta de conhecimento e de diálogo com a família impedem doações

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VOLTA REDONDA

O Hospital São João Batista (HSJB), apto a realizar captação de órgãos e tecidos, conta com a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cidott). Composta por uma equipe multidisciplinar formada por médicos, psicólogo, assistente social e enfermeiros, a comissão é responsável por esclarecer como as pessoas podem ser doadoras, como identificar os pacientes de morte encefálica e as maneiras legais de abordar os familiares oferecendo o devido suporte psicológico. Coordenador da Cidott, o médico Jorge Manes Martins falou sobre os fatores que levam os parentes a resistirem à doação de órgãos e tecidos.

Em entrevista ao A VOZ DA CIDADE, o coordenador da Cidott informou que a falta de esclarecimento sobre os procedimentos para a realização da captação de órgãos e tecidos, a manifestação contrária ainda em vida do paciente, a demora na liberação do corpo e o conflito de opiniões entre os familiares são os principais fatores que impedem a captação. Manes lembrou ainda, que uma vida pode salvar até outras oito e no caso das córneas, um só doador beneficia até quatro pessoas.

PROCESSO LONGO

O médico relatou também o processo é longo à captação dos órgãos. E ainda só é realizada com a autorização de toda a família do paciente. Garantiu que se houver dúvida de um membro apenas da família, a ação não é realizada. Ainda segundo Manes, a captação dos órgãos só é feita com a confirmação total da morte encefálica do paciente. “Desde o momento em que a morte encefálica é constatada, a equipe da Cidott entra em ação e atuam junto com a equipe médica. Após seis horas de constatação da morte encefálica do paciente é realizado exames físicos, com neurocirurgião ou neurologista. No segundo contato, é realizado o exame de imagens”, informou o médico.

Ainda de acordo com o coordenador, constatada a morte encefálica, ou seja, que a interrupção é definitiva, os procedimentos iniciam com a comunicação aos familiares. E se a doação é aceita pela família, uma equipe médica do Programa Estadual de Transplantes (PET) vem de helicóptero do Rio de Janeiro para realizar a cirurgia, juntamente com a equipe do São João Batista. Lembrou que, podem ser doados o fígado, rins, pâncreas, córneas e outros. “Depois dessa ação, os órgãos são levados para o Rio onde são distribuídos entre aqueles que estão na fila. A nossa unidade atende todo o Estado”, explicou.

INTERESSADOS EM DOAR

Manes lembrou que as pessoas interessadas em doar seus órgãos devem, em vida, conversar com a família e mostrar o interesse. Assim, segundo ele, não fica dúvidas e outras vidas podem ser salvas. Ele fez questão de lembrar ainda que se o doador quiser se cadastrar no programa ‘Doe Mais Vida’, pode ligar para o Disque Transplante, através do número 155, e adquirir um carteirinha. Com ela, não fica dúvida. “Esse cadastramento não é uma exigência. Faz quem quer”, explicou Manes, lembrando que para ser um doador o primeiro passo é expor essa vontade para a família, mas mesmo assim ela será abordada antes e receberá os devidos esclarecimentos sobre o processo de captação.

“Em caso de morte cerebral, todos os órgãos e tecidos saudáveis podem ser doados. Também existe a possibilidade de doar alguns órgãos em vida, um rim ou um pedaço do fígado, por exemplo”, completou.

Banco de Tecido Ocular

O HSJB conta ainda com o Banco de Tecido Ocular, que atende 34 municípios da região.  Inaugurado em 2010, o Banco soma 1.169 captações até setembro deste ano e é responsável por 40% dos transplantes de córnea realizados no Estado do Rio de Janeiro. No caso dos outros órgãos, em 2016 foram registradas 13 notificações com uma doação feita – 9 paradas cardíacas e três negativas da família. Já este ano, até setembro, foram realizadas 13 notificações, três doações de vários órgãos, sete paradas, duas negativas da família, uma contra indicação médica.

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