Dia Nacional da Adoção reúne trajetórias de famílias que optaram pelos ‘filhos de coração’

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SUL FLUMINENSE

Um ato que tem como objetivo cumprir propósitos de garantir o direito ao afeto de uma família a milhares de crianças e jovens, a adoção foi a escolha de alguns casais da região Sul Fluminense. Neste dia 25 de maio, quando se comemora o Dia Nacional da Adoção, o A VOZ DA CIDADE conheceu um pouco sobre a trajetória de pais e mães que optaram pelo que eles chamam de “filhos do coração”.

É o caso da pastora Sônia Aparecida Matos Resende, de 59 anos, e o marido, Alexandre da Silva Resende, de 51, que moram em Resende e que já tinham dois filhos quando decidiram adotar mais um. Ela, que realizava um trabalho com crianças carentes e em situação de vulnerabilidade, no bairro onde morava, teve o primeiro contato com o filho Lucas, hoje com 21 anos, em um momento em que ele e a irmã, ainda muito pequenos, enfrentavam as consequências do vício de alcoolismo da mãe biológica.

“A mãe do Lucas acostumada a maltratá-lo junto com a irmã e eles foram hospitalizados. Ao saírem do hospital o Conselho Tutelar pediu para que deixassem os dois na minha casa até que fosse tomada uma providência e aí ficamos como família guardiã. O tempo foi passando e a minha melhor amiga ficou com a irmã do Lucas, a Camila, e eu e meu esposo ficamos com ele, que era menor. Até que o juiz nos chamou e perguntou se não queríamos adotar. Nós não planejamos, mas quando o Senhor proporcionou que ele viesse para nós, o abraçamos com todo amor e carinho”, disse.

Conforme relembra Sônia, um dos motivos que a mobilizou à adoção foi o fato do juiz ter dito, na época, que se as crianças fossem para um abrigo, para a fila de adoção, pelo fato de serem negros e grandes, elas poderiam ser rejeitadas pelas famílias, que dão preferência para bebês e crianças brancas. “De pronto o meu coração bateu forte e eu ganhei um presente de Deus. Ele é um filho que qualquer mãe queria. Eu o vi machucado, ferido, precisando de amor e carinho e isso me motivou porque era isso o que eu tinha para dar a ele. Ele foi recebido de braços abertos pelos meus filhos e é muito amado”, acrescenta a pastora, que também é mãe do casal Edson e Erika.

A amiga em questão, citada pela pastora Sônia, é a cabeleireira Dinéia de Fátima Conceição Gonçalves, chamada pelos amigos de Cristina, de 65 anos, que adotou Camila, hoje com 27 anos. Ela, que já era mãe de Luciano, Luís Fernando e da Larissa, conta que se sensibilizou com a história dos irmãos por ter acompanhando os momentos difíceis que eles enfrentaram na infância. Ela também se recorda que os dois sofriam violência doméstica e que, por esse motivo, muitas foram as idas dos irmãos para um abrigo.

Pastora Sônia, o esposo Alexandre e os filhos – Foto: Divulgação

A família de Cristina – Foto: Divulgação

 

 

 

 

 

 

 

 

“Minha filha Camila e o irmão tiveram uma infância difícil e triste. Fomos autorizados a ficar com ela, e a Sônia com o Lucas, aos finais de semana, e a minha filha Larissa, da mesma idade da Camila, pegou um amor muito grande por ela e pedia para que a gente adotasse. Um dia estávamos na igreja, o Conselho Tutelar foi buscá-los para irem para um abrigo e eles choraram muito porque queriam ficar com a gente”, lembra emocionada a cabeleireira.

De acordo com ela, em um Dia das Mães a   justiça determinou que os irmãos passassem o dia com a mãe biológica e o quadro de agressão voltou a se repetir. Nesse dia, a irmã mais velha das crianças as levou até ela e a amiga, pedindo para que cuidassem delas. “Era uma noite fria e chuvosa e aquelas crianças voltaram após terem sido agredidas. Eu e a Sônia fomos ao Conselho Tutelar, conseguimos um acordo e depois a guarda na justiça. Foi uma benção na minha vida  eu ter ficado com a Camila. Meu coração enche de felicidade quando vejo meus filhos juntos, como aconteceu nesse último Dia das Mães”, disse.

 Dez  anos à espera da ‘filha do coração’

Moradores de Quatis, a autônoma Daniele Maria de Oliveira Peixoto Silva, de 44 anos, e o serralheiro Francisco da Silva, de 46, esperaram por dez anos até conseguirem adotar a filha, que tem sete meses e que eles conheceram com apenas 25 dias após o nascimento. Após terem encontrado dificuldades para engravidar, Daniele conta que teve a ideia da adoção, mas que o esposo não deu muita importância ao assunto.

“Um dia senti uma vontade louca de ir ao fórum e procurar saber como era, peguei um monte de formulários trouxe para casa e eles ficaram lá uns dias até ele ter a curiosidade de saber do que se tratava. Preenchemos juntos. Mas meu processo ficou parado até eu descobrir que precisava renovar sempre e, com isso, se passaram dez anos. Pensei em desistir várias e o meu perfil, que começou de 0 a 2 anos, por fim estava de 0 a 10 anos”, recorda Daniele.

Em abril do ano passado ela ressalta que chegou a falar com a assistente social que se até o final do ano não aparecesse criança, que realmente iria desistir. Mas, em novembro, o telefone tocou com o aviso da disponibilidade de uma criança em um abrigo. “Minha princesa tinha chegado. O bem mais precioso que Deus me deu e que hoje me faz feliz e realizada. O que faltava em minha vida hoje está em meus braços quando fiquei com ela no abrigo, uma semana, foi amor à primeira vista e a partir daí não nos desgrudamos mais”, comemora.

Cinco filhos do coração

Juntos há 30 anos, o casal de Volta Redonda Mauri Francisco da Silva, de 50 anos, que é eletromecânico, e a professora Edna Aparecida dos Santos Silva, de 50 anos, são pais de cinco filhos adotivos, sendo três deles irmãos. As crianças vieram de um abrigo de Minas Gerais e hoje estão com 10, 19, 10, 13, 15 anos, sendo três meninas e dois meninos. Ele conta que antes de se casar ele a esposa já tinha planos de terem um filho biológico e um do coração, porém, após casados viram que não seria possível, mesmo após vários tratamentos. Eles começaram o processo no final de 2013 e a primeira adoção veio em maio de 2015 e a segunda em outubro do mesmo ano.

“Nós decidimos adotar mais um, só que apareceu um grupo de três irmãos que não se separava, aí resolvemos ficar com todos. Nossa rotina mudou muito, mas hoje vivemos para eles. Se nós pudéssemos, com certeza estaríamos mais crianças, pois acreditamos que fizemos a melhor escolha. Não vou mentir: fácil não é, porém, é muito gratificante. Ver o mais velho que adotamos como 12 anos e hoje com 19 anos trabalhando e estudando em busca de um futuro melhor é mais do que esperávamos. Foi juntar o útil ao agradável: eles precisavam de ter a oportunidade de ter pai e mãe, e nós a oportunidade de ser pai e mãe”, concluiu.

 

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