Crise humanitária intensifica apelos por cessar-fogo para permitir ajuda humanitária em Gaza

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NOVA IORQUE

Com a intensificação da crise humanitária em Gaza, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um novo apelo por um cessar-fogo nesta quarta-feira. Tedros Ghebreyesus relatou que a última visita da agência ao Hospital Nasser revelou uma situação alarmante, com o local repleto de lixo, vidros quebrados, animais abandonados e veículos largados.

Em suas redes sociais, o líder da OMS informou que 19 pacientes em estado crítico foram transferidos para outras clínicas ao sul da Faixa de Gaza. Nos últimos três dias, a agência e seus parceiros realizaram várias operações de emergência no complexo médico.

Segundo a OMS, aproximadamente 130 pacientes doentes e feridos, juntamente com pelo menos 15 médicos e enfermeiros, permanecem no hospital, enfrentando as contínuas operações militares israelenses, sem acesso à eletricidade, água corrente e com escassez de suprimentos médicos. O local foi cercado e sofreu ataques nas últimas semanas.

Segundo a equipe da ONU no local, os pacientes foram transferidos para um hospital de campanha e estão passando por triagem para determinar se devem ser encaminhados para outras instalações.

Dados do Escritório para Assuntos Humanitários da ONU indicam que 12 hospitais estão operando parcialmente na Faixa de Gaza, incluindo seis no norte e seis no sul, além de três hospitais de campanha que também operam parcialmente. O Ocha destaca que o norte do enclave está há semanas sem receber assistência humanitária.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa) acrescenta que apenas sete de seus 23 centros de saúde estão em funcionamento. Em suas redes sociais, o comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, destacou também a destruição das escolas da entidade, onde “mais de 300 mil” crianças estavam matriculadas.

Ele ressaltou que aqueles que pedem o desmantelamento da Unrwa estão privando “crianças profundamente traumatizadas de qualquer esperança de um futuro melhor”.

Em um artigo de opinião publicado no jornal Folha de S. Paulo, o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths, fez um apelo aos membros do G20, que estão programados para se reunir no Brasil nesta semana.

O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários e coordenador da Ajuda de Emergência avalia que a situação em Gaza é “incomparável em sua intensidade, brutalidade e alcance” e está sendo documentada por “corajosos jornalistas palestinos”.

Ao destacar também o trabalho das entidades humanitárias no enclave, ele afirmou que nenhum dos pontos do plano para ampliar o fluxo e a distribuição de ajuda em Gaza é “irracional”. Ele mencionou garantias de segurança, melhoria do sistema de notificação humanitária para reduzir os riscos, equipamentos de telecomunicações e remoção de munições não detonadas, além da utilização de todos os pontos de entrada possíveis.

No entanto, ele expressou pouca esperança de que as autoridades forneçam as necessidades mínimas para a execução do trabalho humanitário.

No texto, Martin Griffiths também fez um apelo aos líderes do G20 para que eles “exerçam liderança e influência política para pôr fim a esta guerra e salvar a população de Gaza”.

Ele concluiu declarando que “o silêncio e a falta de ação de vocês só contribuirão para que mais mulheres e crianças sejam lançadas nas valas comuns de Gaza”.

Proposta vetada

Na terça-feira, os Estados Unidos vetaram pela terceira vez uma proposta de resolução para um cessar-fogo no enclave. A embaixadora americana afirmou que o país deve apresentar um novo texto nos próximos dias. Segundo Linda Thomas-Greenfield, o documento deve pressionar o Hamas a aceitar um acordo para liberação dos reféns e ajudar a garantir uma pausa que permita que a assistência humanitária chegue aos civis palestinos.

Também nesta semana, o Brasil se pronunciou na Corte Internacional de Justiça, em Haia.

Segundo a agência de notícias do governo brasileiro, o país pede que a ocupação dos territórios palestinos por forças militares de Israel seja declarada como ilegal. A representante brasileira, Maria Clara de Paula Tusco, acrescentou que as “práticas persistentes de ocupação de Israel nas terras palestinas” equivalem à anexação.

O governo brasileiro se manifestou em uma audiência pública na CIJ, principal órgão judicial das Nações Unidas. A Corte realiza audiências públicas até a próxima segunda-feira, dia 26, para ouvir 52 países sobre a consulta feita pela Assembleia Geral da ONU aos juízes do tribunal internacional em 2022.

*-Luciano R. Pançardes – Editor-chefe

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