Quem tem recursos mais limitados, geralmente percebe melhor os custos de algo. Alguém com menos dinheiro é mais propenso a ir a uma loja mais distante se puder economizar R$ 100 na compra de uma televisão ou um celular, enquanto as pessoas com mais dinheiro em geral preferem pagar mais caro a se deslocar.
As dificuldades financeiras aumentam nosso foco no valor material das coisas, e nos ajudam a extrair o máximo do que foi gasto. Mas isso se inverte quando as decisões são de longo prazo. Os mais pobres geralmente ignoram os juros mais altos nos empréstimos e preferem parcelar uma compra, muitas vezes pagando mais pelo produto, a economizar o dinheiro e obter um desconto à vista. E, além disso, guardam menos dinheiro, ficando mais expostos a imprevistos. O dano causado por esse padrão de escolha acaba sendo muito maior.
Quando é preciso se preocupar com o que se vai comer ou como pagar o aluguel, as outras necessidades são menos urgentes. O foco na sobrevivência cria uma sobrecarga mental e dificulta planejar o futuro. Os mais pobres não conseguem dar atenção a outras decisões, que poderiam tirá-los da pobreza. É como se eles decidissem depois de uma noite sem dormir, explica um artigo, publicado pelos economistas Anuj K. Shah, Eldar Shafir e Sendhil Mullainathan na revista Science em 2013.
Em um experimento, 101 frequentadores de um shopping foram separados por faixa de renda e responderam a questões como “Seu carro está com um barulho estranho e o conserto custará X. Você pode pagar ou tentar a sorte e não pagar nada. O que decide?”.
Os preços variavam da condição ‘fácil’, um custo de US$ 1,50 pelo conserto, a ‘difícil’, US$ 1,5 mil. Essa diferença se refletiu no desempenho nos testes de pessoas com renda mais alta ou mais baixa.
Ricos e pobres deram respostas iguais quando decidiam sobre um gasto mais baixo, mas o valor mais alto derrubou a performance dos mais pobres. Quase todo o foco estava no dilema de fazer ou não o gasto imediato, e não em analisar o risco envolvido, como um acidente, ou um possível gasto maior no futuro.
Algumas pessoas atribuem a pobreza às más decisões financeiras dos pobres. Os estudos mostram que não é verdade.
Não estou ignorando os fatos históricos que construíram as desigualdades sociais, mas a pobreza muitas vezes é resultado da dificuldade maior de fazer um planejamento, já que o nosso foco tende sempre à sobrevivência. Algo que os programas de assistência deveriam considerar.