Quando entrei na sala para minha primeira aula de Psicologia Econômica, ouvi a professora dizendo que o cartão se transforma em uma navalha que faz a conta corrente sangrar. Achei a afirmação forte e na hora pensei: “Isso não é para mim, é para quem é descontrolado”. Mas qual é o limite que faz uma pessoa ser descontrolada?
O cartão de crédito foi criado em 1920, na época era aceito somente por alguns restaurantes de Nova York, mas de lá para cá vem mudando bastante o nosso jeito de consumir, principalmente quando o assunto é o impulso pela compra. Os economistas vinham se perguntando se o novo método de pagamento mudou alguma coisa na decisão de comprar, e as primeiras pessoas a estudar o assunto só apareceram em 2001. Drazen Prelec e Duncan Simester leiloaram ingressos de jogos da NBA para estudantes, metade podia pagar com cartão e a outra metade só com dinheiro. Quem pagou em espécie, aceitou o valor de U$28 enquanto o outro grupo pagou um valor 113% maior. E o problema não está só no crédito, nossa experiência financeira é bem parecida quando usamos o cartão de débito. Um outro estudo, inspirado neste leiloou café, e os participantes eram divididos em três grupos: os que só podiam pagar em dinheiro, os que tinham a opção do cartão de débito e o último podia pagar através de uma conta no PayPal. O resultado foi que os que pagaram com o cartão de débito gastaram 22% a mais em seus lances.
A resposta da impulsividade vem da ausência da ‘dor de pagar’. Quando vemos o dinheiro sendo gasto, sofremos por isso, quando o dinheiro não aparece em cena, fica mais fácil. Quando se precisa tirar uma nota alta da carteira, a gente avalia mais a necessidade do produto na hora da decisão de compra, já o cartão faz qualquer valor ter a mesma aparência, aquela estampada no plástico. Para justificar nosso impulso, nosso cérebro se torna bem criativo, tenta nos convencer que estamos juntando milhas, organizando os gastos porque vem tudo em uma única data, mas a verdade é que todos nós temos a tendência de comprar coisas não planejadas se tivermos um cartão na mão. Faça a experiência de deixar os cartões em casa e usar apenas dinheiro vivo, o autocontrole vai ficar mais aflorado.
Se você se assusta na hora que a fatura do cartão chega, está na hora de reavaliar sua maneira de consumir. Se o cartão está te levando ao descontrole, ele deixa de ser um aliado e não há programa de recompensa que compense o que você está perdendo. As onças e os peixes vão te ajudar a ter medo de por a mão na carteira e a consequência será uma grande economia. No longo prazo você só tem a ganhar com a sua vida financeira no rumo certo.