O bairro do Flamengo fica localizado na Zona Sul do Rio de Janeiro. Quem passa por lá, percebe logo “de cara” um ar tradicional e familiar. Ruas arborizadas, calçadas amplas e construções que chamam atenção pela beleza arquitetônica. Esse mesmo local, que encanta pelo cenário incrível, ganhou destaque nos noticiários em razão de um crime bárbaro, que chocou a todos pela brutalidade. Martha Maria Lopes Pontes, de 77 anos, e sua diarista, Alice Fernandes da Silva, de 51 anos, foram encontradas mortas em um apartamento de luxo, na tarde do dia 09 de junho. As duas tiveram o pescoço cortado e o corpo da idosa foi carbonizado. Os criminosos também atearam fogo no imóvel.
Em menos de 24 horas, a Polícia Civil prendeu um dos suspeitos, Jonatan Correia Damasceno, apontado como mentor do crime. Ele trabalhou por um período como pintor na casa da idosa, entre os meses de março e abril, fato utilizado para chegar até o apartamento sem despertar suspeita. Em maio, Jonatan voltou a procurar Martha buscando outros serviços. A partir daí, começou a extorquir a idosa, chegando a ameaçá-la, até que decidiu planejar o crime. O que mais causa espanto é a motivação do duplo homicídio, que teria sido cometido para que Jonatan pagasse dívidas contraídas com um agiota.
Segundo depoimentos, ele teria ligado para Martha e a informado que passaria em sua residência para entregar um currículo. Eles estavam de máscaras e usavam bonés, para dificultar a identificação. O porteiro liberou a entrada da dupla, após autorização de Martha. Câmeras de segurança registraram a entrada deles no prédio.
Jonatan foi capturado em uma operação cirúrgica, sem confronto, realizada na tarde do dia 10 de junho, em Acari, na Zona Norte do Rio. Segundo os agentes, ele não resistiu à prisão. Seu comparsa, Willian Oliveira Fonseca se entregou no dia seguinte e confessou ter sido o autor dos assassinatos, acrescentando em seu depoimento que as duas vítimas imploraram para não serem mortas.
A idosa foi forçada a assinar três cheques, cada um no valor de R$ 5 mil reais, que foram descontados por Jonatan, enquanto Willian ficou com Martha e Alice no apartamento. A funcionária da agência bancária, que atendeu Jonatan, disse que como os valores eram altos, ligou para a dona da conta, que autorizou o pagamento. Ela contou, ainda, que não notou nada de anormal na voz da cliente.
Os dois suspeitos serão autuados pelo crime de latrocínio, roubo seguido de morte, além do crime de incêndio e por extorsão.
É necessário destacar o trabalho desempenhado pela Polícia Civil nesse caso. As primeiras horas de investigação são fundamentais para que provas e indícios sejam obtidos e haja maior possibilidade de elucidação do homicídio. Como delegado posso afirmar que, conforme os dias passam, as chances do crime ser solucionado diminuem. Isso porque, as testemunhas podem esquecer detalhes importantes ou, até mesmo, serem coagidas ou se sentirem inseguras. Além disso, os criminosos podem encobrir provas e optarem pela fuga. Todos esses fatores dificultam a prisão. Adotar medidas para acelerar a investigação é determinante para que a justiça seja feita e criminosos covardes recebam a reclusão como resposta das forças de segurança.
Outro ponto que me chamou atenção foi o fato de que os criminosos não esperavam ser atendidos pela diarista. Ou seja, eles acreditavam que a idosa estaria sozinha em casa. A vulnerabilidade de uma pessoa com 77 anos certamente seria um facilitador na cabeça de Jonatan e Willian. Segundo dados do governo federal, entre os tipos de violência cometidos contra os idosos, o que acarreta danos financeiros é o terceiro maior.
Aproveito para fazer um importante alerta. Não espere que o pior aconteça. Diante de qualquer ameaça ou tentativa de extorsão, denuncie. Não permita que estranhos ou pessoas que não sejam do círculo familiar e de amigos tenham acesso à casa de um idoso. Acredite e não esqueça: criminosos são capazes de atrocidades e crimes brutais para conseguirem o que buscam. Se você convive com algum idoso, oriente-o a não confiar em pessoas que mal conhece. Cuidar de quem já cuidou tanto de nós não é só, muitas vezes, uma obrigação legal, mas um ato de amor e gratidão. Assim colabora-se para evitar a crueldade de bandidos sem alma e cuja existência é um fardo social pesado de carregar. E, mesmo que alguns considerem irrelevante, parabenizo a Polícia Civil do Rio pela ação rápida e exitosa. Meu orgulho em saber que a prisão desses delinquentes pune dois monstros e salvará incontáveis mulheres de sua voracidade assassina.