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A dor invisível da exclusão

Por Carol Macedo
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Por trás de comportamentos desafiadores na infância, quase sempre há uma história que ainda não foi escutada com atenção. E, muitas vezes, o que falta não é disciplina, mas compreensão.

Crianças com comportamentos considerados “difíceis” — inquietas, impulsivas, desafiadoras, agressivas ou desatentas — estão entre as mais vulneráveis à exclusão silenciosa no ambiente escolar. Não raro, são afastadas das atividades, ignoradas, punidas ou rotuladas desde muito cedo. Mas o que muitos não percebem é que essa exclusão dói — e muito.

A ciência já comprovou: o cérebro humano reage à rejeição social de forma semelhante a dor física. Estudos em neurociência, mostraram que ser excluído ativa as mesmas áreas cerebrais envolvidas na dor corporal. Em outras palavras, ser ignorado, rejeitado ou deixado de lado machuca — e machuca de verdade.

Agora imagine essa dor sendo vivida todos os dias por uma criança de seis, sete, oito anos, ainda em formação emocional e neurológica. Imagine o impacto disso em sua autoestima, em sua motivação para aprender, em sua relação com a escola e com os adultos.

Muitas dessas crianças não são “problemáticas” — estão simplesmente tentando lidar com desafios reais e complexos: transtornos do neurodesenvolvimento ainda não diagnosticados, como TDAH ou autismo; dificuldades de linguagem ou processamento sensorial; vivências de trauma ou instabilidade emocional. O que é visto como birra ou desobediência pode ser, na verdade, um pedido de ajuda mal expressado.


É justamente por isso que o papel do professor e da escola é fundamental. Não para “corrigir” o aluno a qualquer custo, mas para compreender o que está por trás do comportamento e oferecer suporte adequado.

Algumas estratégias simples, mas eficazes, podem fazer a diferença:

  • Criar rotinas claras e previsíveis;
  • Reduzir estímulos que gerem sobrecarga sensorial ou emocional;
  • Estabelecer vínculos de confiança com a criança, oferecendo atenção individualizada sempre que possível;
  • Reconhecer pequenas conquistas, valorizando o esforço, não apenas o resultado;
  • Corrigir com firmeza, mas também com empatia, acolhendo o sentimento que vem antes da explosão.

É claro que a escola tem limites, e o educador, sozinho, não pode resolver tudo. Mas a mudança de olhar é um primeiro passo poderoso. Quando deixamos de perguntar “como faço para essa criança se comportar?” e passamos a refletir “do que ela precisa para conseguir participar?”, abrimos espaço para práticas mais humanas e efetivas.

Incluir não é fazer de conta que todos são iguais. É reconhecer que cada criança tem um ritmo, um jeito de sentir o mundo — e que todas merecem ser vistas, compreendidas e acolhidas.

Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.

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