A adolescência é uma fase marcada por mudanças intensas — no corpo, na mente e, principalmente, nas relações. É um período em que os amigos passam a ocupar um lugar central na vida do jovem. Construir vínculos, pertencer a um grupo, ser aceito… tudo isso ganha um peso emocional enorme.
Mas, na contemporaneidade, a vida social do adolescente acontece em cenários mais complexos do que no passado. Redes sociais, exposição digital, cyberbullying, comparações constantes e uma sensação de urgência para “performar” felicidade e sucesso podem tornar as interações sociais arriscadas ou até prejudiciais. Diante disso, família e escola têm papéis fundamentais para ajudar os adolescentes a viverem relações mais seguras, saudáveis e significativas.
Tanto em casa quanto na escola, é importante que os adolescentes aprendam a reconhecer e nomear suas emoções, a lidar com frustrações e a se colocarem no lugar do outro. Desenvolver empatia, escuta ativa e assertividade ajuda a construir vínculos mais respeitosos e menos impulsivos. Isso pode acontecer em conversas do dia a dia, em rodas de diálogo, em projetos escolares, ou até em momentos simples, como um jantar em família.
O adolescente precisa sentir que pode falar com adultos — pais, mães, professores, coordenadores — sem medo de ser repreendido ou ridicularizado. Isso não significa concordar com tudo, mas mostrar que ele será escutado com respeito. Ter alguém de confiança com quem conversar é um fator de proteção emocional poderoso.
Redes sociais
A vida social dos adolescentes não está mais restrita ao recreio ou aos fins de semana. Ela está presente 24 horas por dia, dentro do bolso ou da mochila. É fundamental que a família converse sobre o uso das redes: o que é seguro compartilhar? O que pode afetar a autoestima? O que é exposição demais? Não se trata de proibir, mas de orientar e acompanhar de perto, com interesse genuíno, não com controle excessivo.
Na escola, esse tema também pode e deve ser discutido em sala de aula. Falar sobre cyberbullying, privacidade, reputação digital e comparação nas redes é essencial para formar cidadãos mais críticos e conscientes.
Nada substitui a presença. Por isso, incentivar atividades presenciais com amigos — esportes, arte, grupos culturais, projetos sociais — é uma forma de fortalecer laços reais. A escola pode criar mais momentos de interação não competitiva, como oficinas, rodas de conversa, trabalhos colaborativos e eventos que valorizem a diversidade.
Nosso Papel
Família e escola devem ser exemplos de respeito às diferenças. Ensinar — mais pelo exemplo do que pelas palavras — que ninguém deve ser excluído por ser diferente, seja na forma de pensar, de se expressar, pelo corpo que tem ou pelas condições que vive, é essencial. A cultura da inclusão protege e fortalece as relações sociais entre adolescentes.
Por fim, é fundamental estar atento aos sinais de sofrimento emocional. Mudanças bruscas de comportamento, isolamento, queda no rendimento escolar ou explosões de humor podem indicar que algo não vai bem. Pais e educadores não precisam dar conta de tudo sozinhos — procurar ajuda de profissionais da saúde mental não é sinal de fracasso, e sim de cuidado.
Adolescentes precisam de liberdade para viverem suas relações, mas também de presença, orientação e escuta. Quando família e escola se unem para construir um ambiente seguro, afetuoso e respeitoso, os adolescentes têm mais chances de desenvolver não só boas amizades, mas também autonomia, autoestima e equilíbrio emocional.
Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.