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Projeto Ronda escolar completa um ano com saldo positivo

Por Franciele Aleixo
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PARA TODA AÇÃO HÁ UMA REAÇÃO!

MÔNICA VIEIRA

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De um tempo para cá, é cada vez mais comum ouvir que a equipe da Ronda Escolar apreendeu material ilícito dentro ou arredor de alguma escola. Que alunos, na maioria das vezes menores, foram encaminhados para a 90ª Delegacia de Polícia de Barra Mansa com algum tipo de droga ou com arma branca. Mas e você, sabe o que o que é a Ronda Escolar? Desde quando ela atua na cidade, qual sua função e quais seus limites? O A VOZ DA CIDADE conversou com quem está por trás deste trabalho para explicar quais os objetivos do serviço e o que pode e o que não pode por quem o exerce; e também o que melhorou em Barra Mansa no ambiente escolar após o trabalho realizado. Para as autoridades de segurança, essa disciplina é um sucesso e já tem nota 10!

Segundo diretores, o ambiente de ensino melhorou 90% após o início do projeto; relatos dão conta de que tráfico não se contenta somente em atuar fora dos muros das instituições

O projeto Ronda Escolar tem por objetivo levar segurança em toda a rede de ensino e estabelecer uma relação mais amistosa entre os estudantes e os professores. Formada pela Guarda Municipal e pela Polícia Militar, ela foi criada no dia 3 de julho de 2016, há cerca de um ano, pelo 28° Batalhão da Polícia Militar, Guarda Municipal de Barra Mansa e órgãos ligados aos direitos e deveres da criança e do adolescente. Ela é composta por duas viaturas, seis guardas municipais e três policiais militares e atua nas 95 instituições de ensino de Barra Mansa, sendo 72 escolas municipais (contando com as creches), 23 unidades particulares e no Centro Universitário de Barra Mansa (UBM).

No total, a cidade conta hoje com 35 mil estudantes matriculados e só nos primeiros meses de 2018, segundo dados da Guarda Municipal, foram 88 intervenções. Nas ações, o aluno é encaminhado para a 90ª Delegacia de Polícia, acompanhado dos responsáveis e do Conselho Tutelar, onde é feito pelos agentes um Termo de Declaração; depois, o jovem passa por novo depoimento na Justiça, onde é lavrada alguma medida socioeducativa.

A abordagem dos agentes é assegurada e prevista no artigo 244 do Código de Processo Penal (CPP), que diz que “a busca pessoal independerá de mandado de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja de posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar”.

UM PEDIDO DE SOCORRO!

O A VOZ DA CIDADE conversou na última semana com as diretoras gerais Sandra Emília Botelho Procópio e Regina Dornas Messias, respectivamente do Colégio Estadual Barão de Aiuruoca (Centro) e o C.E Baldomero Barbará (Barbará). Elas, que são consideradas pelas autoridades policiais como as ‘madrinhas’ da Ronda Escolar, explicaram como tudo começou. “Foi um pedido de socorro!”, expressaram.

A entrevista aconteceu no Barão, onde as professoras explicaram que participam mensalmente da reunião de segurança promovida pelo 28° BPM, que tem o comando do tenente-coronel Júlio César Veras Vieira. Esse encontro acontece de forma alternada em Volta Redonda e Barra Mansa (por vezes na unidade do 28° BPM e/ou nas próprias escolas), onde são tratados assuntos ligados à segurança dos municípios e, também de Pinheiral, que também é área de atuação do batalhão. “No encontro acabou se formando uma rede importante para debater e criar ações voltadas dentro das circunstâncias da vida, no geral, das crianças e do adolescente”, comentou Sandra, frisando que entre os envolvidos estão o Ministério Público, 90ª Delegacia de Polícia (delegado titular Ronaldo Aparecido de Brito e pelo adjunto, Antônio Furtado), Conselho Tutelar, o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Criad), 5° Comando de Policiamento de Área (CPA), comandada pelo coronel Antônio Jorge Goulart, entre outros órgãos.

“Estávamos com muitos problemas nas nossas escolas e pedimos ajuda ao comandante da Guarda Municipal de Barra Mansa, Joel Valcir Pereira, e para o então subcomandante do 28°BPM, tenente-coronel Mauro (que hoje está no comando do 33° BPM de Angra dos Reis, atuante também em Mangaratiba, Paraty e Rio Claro)”, disse Sandra, explicando que entre as dificuldades, estavam a iniciação do tráfico de drogas dentro das escolas, constantes brigas (muitas, inclusive, protagonizadas por meninas), encontro de bebidas alcoólicas e de objetos cortantes dentro das dependências das unidades.

TRÁFICO OUSADO

E se no Centro da cidade, mesmo em meio a tanta movimentação, lutar contra o crescimento do tráfico de drogas é um desafio diário, imagina para os docentes do C.E. Baldomero Barbará, que fica em um lugar ermo? No ano de 2016, recém-chegada na instituição, Regina Dornas teve, talvez, um dos maiores desafios de sua carreira como educadora.  Foi descoberto que um grupo de cinco a seis alunos estavam traficando dentro e fora da escola. “Tivemos que recorrer à polícia e pedir ajuda. Logo, os alunos foram identificados, pois com a presença da Ronda Escolar, eles começaram a se sentir acuados, preocupados com o flagrante. Se antes ostentavam nas redes sociais o que para eles é curtição, poder, passaram a reclamar das represálias. Aos poucos, foram saindo do colégio”, esclareceu Regina, dizendo que o local hoje já está mais seguro e que conta, ao todo nos três turnos, com 1,4 mil alunos.


Sandra e Regina explicam que os policiais e os guardas podem entrar nas escolas e fazer as abordagens dos estudantes, em sua maioria menores. No caso das meninas, existe uma agente mulher para fazer a revista pessoal.

AMBIENTE DESINTOXICADO

As professoras garantem que com a presença da Ronda Escolar, a segurança nas escolas melhorou cerca de 90%. “A mudança foi grande a melhoria, mas ainda não podemos dizer que foi de 100%, pois estamos falando de drogas, cujo crescimento é global. Entretanto, tudo dentro do possível está sendo feito, não só nas nossas escolas, mas também nas demais de Barra Mansa”, explicou Sandra, finalizando: “Também trabalhamos com várias ações e projetos de prevenção, onde conversamos abertamente com os alunos sobre os malefícios, e nos reunimos com os pais para explicarmos a importância da família também falar sobre o assunto”, concluiu a diretora do Barão de Aiuruoca, que hoje tem 1,7 mil alunos matriculados na instituição.

É melhor pegar na escola e disciplinar, do que depois no morro como traficante. Comandantes falam do trabalho em equipe da GM e da PM, mas cobram mais atenção dos pais sobre o dia a dia dos filhos

O A VOZ DA CIDADE conversou também com o comandante da 2° Companhia do 28° BPM, tenente Alcimar Videira, e com o comandante da GMBM, Joel Valcir Pereira, que são os responsáveis diretos do patrulhamento. Eles explicaram sobre a importância da Ronda Escolar em Barra Mansa, que hoje é referência em outros municípios do Sul Fluminense (onde muitos pretendem copiar o modelo do projeto) e falaram da importância do trabalho em conjunto. Eles anteciparam que o serviço será aperfeiçoado, aumentando o número na equipe e de viaturas nas ruas da cidade.

Videira, que assumiu a 2° Cia em dezembro do ano passado, explica que a companhia hoje conta com 176 policiais militares atuando na segurança de Barra Mansa. “E mais de 90% da equipe mora aqui na cidade. Posso garantir que esse é um dos motivos do sucesso do serviço, que reflete diretamente na queda da criminalidade em Barra Mansa”, disse o tenente, completando que a Ronda Escolar é a ‘Menina dos olhos’ do comandante do 28° BPM, tenente-coronel Júlio César Veras Vieira e do coronel do 5° Comando de Policiamento de Área (5° CPA), Antônio Jorge Goulart Matos.

Recentemente, o prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable (MDB), em reunião em seu gabinete, elogiou o trabalho da ronda e anunciou a compra de duas novas viaturas para o aperfeiçoamento no trabalho. Na ocasião, o tenente-coronel Veras disse que o trabalho com a guarda tem sido fundamental. “Combater o tráfico de drogas, preservar a vida e garantir o direito de ir e vir são as nossas prioridades. Me coloco à disposição dos moradores barra-mansenses e dos representantes da sociedade para atuarmos em conjunto, cooperando para a preservação da sociedade”, declarou o tenente-coronel.

Pai vê o filho como filho, mas traficante, o vê como cliente

Joel Valcir

O comandante da GM, Joel Valcir, lembra que Barra Mansa hoje tem 180 mil habitantes e que 35 mil estão dentro das escolas. “É o número muito expressivo e ultrapassa até ao número de habitantes de alguns municípios pequenos do Sul Fluminense”, comenta.

De acordo com Joel, só em 2018 foram 88 intervenções dentro das instituições de ensino. Entre as maiores, ele destaca a apreensão de 37 cigarros de maconha, 49 papelotes de cocaína e até mesmo um simulacro de revólver.

“Quando fomos alertados pelas diretoras sobre esse crescimento, estivemos no Ministério Publico, na Vara da Infância de da Juventude, para saber o que podíamos fazer sem ferir os direitos constitucionais do jovem”, disse, lembrando que esse início foi todo acompanhado pelo tenente-coronel Mauro (na época do 28°BPM) e hoje comandante do 33° BPM de Angra. “A partir daí, com apoio e respaldo de outros órgãos, como a prefeitura, a Secretaria de Ordem Pública, Conselho Antidroga (Compod), Assistência Social, e outros, conseguimos colocar o nosso projeto para atuar nas ruas”, lembrou.

Joel explica que quando a equipe da Ronda Escolar chega à escola, os diretores são informados antes que eles entrarão, e os agentes já têm um suposto alvo. “As informações chegam por meio de denúncias, ora dos pais, ora dos próprios alunos que estão presenciando e tem medo”, explicou.

Entrando na escola, Joel explica que o segundo passo é conduzir o adolescente para a direção, onde a abordagem é feita. “Ela não é feita de forma a ofender e nem de humilhar o aluno. A revista só acontece na presença dos pais, ou de algum outro responsável, e também de um representante do Conselho Tutelar”, declarou.

Em seguida o jovem é levado para a delegacia, onde a família assina um termo de declaração em levar o adolescente em data que será determinada pela Justiça, para a presença do juiz; lá, ele toma um novo depoimento e amputa a lei prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que o conduzirá para alguma medida socioeducativa.

O comandante finaliza explicando da importância do papel da família nesses casos para evitar que os filhos entrem no mundo das drogas. “Devemos sempre lembrar que se o tráfico existe, é porque existe o consumidor. O pai sempre vê o filho como filho, mas o traficante o vê como consumidor. E são clientes em potenciais”, definiu.

 

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