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Nos 130 anos da Lei Áurea, Fátima Lima destaca necessidade de políticas de igualdade

Por sergiocjr
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BARRA MANSA

“Está extinta a escravidão no Brasil”. Em 14 de maio de 1888, essa era a manchete exposta em diversos jornais do país, mas o dia seguinte, também considerado “o dia que nunca acabou” revela ainda uma face de racismo e discriminação racial. Neste domingo, dia 13, completou-se 130 anos da abolição da escravatura no país, mas segundo a vice-prefeita de Barra Mansa, Fátima Lima, ainda há muito que se avançar em políticas públicas de igualdade racial no Brasil. “É uma abolição inacabada porque ela não existe. Não trouxe dignidade para o povo negro, porque libertaram, mas não se preocuparam em criar políticas para introduzir essas pessoas na sociedade. Muitos voltavam para as fazendas para garantir o sustento dos filhos e não morrerem de fome. Para aqueles que ficavam nas zonas urbanas a única forma de moradia era em subúrbios e favelas, com precariedade no saneamento básico e falta de oportunidades”, disse.

O desafio hoje, segundo a vice-prefeita, é tratar a ferida da exclusão social na estrutura da sociedade. “O racismo ainda impera. Construir artifícios para superar as brutalizações causadas pela opressão se tornam um instrumento de libertação. Uma das maiores dificuldades na construção dessas estratégias é o olhar que ainda existe sobre nós, como naturalmente fortes. Do povo negro foi exigido que ele fosse essa fortaleza, para que pudesse sobreviver. A dignidade da pessoa humana lhe foi negada e o Estado foi omisso para as suas necessidades. Precisamos garantir transformações na sociedade que nos permitam viver plenamente, que possamos ser frágeis, fortes, alegres, tristes. Que possamos ter a liberdade de sentir as contradições do ser humano”, afirmou.

LEIS DE INCLUSÃO E ASCENSÃO SOCIAL

Segundo ela, as leis de inclusão como as cotas raciais e sociais facilitaram a entrada desse público em universidades e o acesso ao emprego, mas não foram suficientes para garantir a igualdade de direitos e o fim do racismo. “Muito se discute de forma preconceituosa as cotas, mas é uma questão muito importante. As cotas raciais têm garantido cada vez mais a inclusão social do povo negro. O estudante negro que ingressa em uma universidade através da cota racial precisa provar a sua capacidade para garantir a sua classificação e se formar como qualquer outra pessoa”, explicou.

Ela ainda completa. “A lei diz que todos somos iguais e somos mesmo, mas na realidade não é o que vivemos. É muito difícil ser negro numa sociedade que não te aceita. Mesmo sendo tão capacitado como outras pessoas, você tem que se esforçar ainda mais para provar que você é capaz. Assim como acontece com as mulheres em relação aos homens. Acredito que, para resolver essa questão, são necessárias políticas públicas para combater essa desigualdade. A lei não resolve sozinha, ela precisa ser aplicada por pessoas e governantes preocupados com essa questão”.


Com a atuação da Gerência de Promoção da Igualdade Racial (GEPIR) e através da aplicação de leis como a municipal nº 3592/2006 e a federal 10.639/2003, Barra Mansa tem avançado nesses quesitos e já é possível perceber principalmente na Educação, que, segundo Fátima Lima, é o portão para uma nova conscientização da sociedade. “A Educação é o melhor caminho para trabalhar ações contra a desigualdade incluindo essas leis no currículo dos alunos. É importante que os professores, pais e coordenação escolar estejam preocupados para uma pedagogia não discriminatória”, afirma Fátima, que vê no projeto de ensino em tempo integral uma oportunidade de se trabalhar melhor a temática sobre igualdade racial e propiciar aos alunos carentes chances únicas como estudo de línguas como inglês, francês, alemão e espanhol, além de empreendedorismo e robótica.

No campo da Saúde, existe um trabalho específico para a saúde da população negra com capacitação, palestras e orientações no tratamento de doenças mais comuns em negros como Diabetes Mellitus e anemia falciforme. A Cultura também tem sido uma ferramenta de transformação. Com o objetivo de promover a difusão da cultura afro por meio da ampliação da voz e do conhecimento sobre a cultura negra em Barra Mansa, o projeto Afro Saberes conquistou a população com palestras e discussões sobre a igualdade racial. “Nesse ano, o projeto passa por uma reformulação, em vez de ser realizado em locais específicos, o projeto será levado para as escolas”, diz a vice-prefeita.  O projeto é desenvolvido pela Coordenadoria do setor de Formação da Fundação Cultura Barra Mansa – FCBM em parceria com a GEPIR.

REPRESENTATIVIDADE

Professora por mais de 40 anos, Fátima também é mãe de três filhos e enxerga a vice-prefeitura de Barra Mansa como um grande desafio e símbolo de representatividade, como mulher e negra. “É um desafio ser vice-prefeita, é a primeira vez que uma mulher negra ocupa esse cargo. Importante para representar um povo que é a maioria em quantidade, mas minoria na representatividade social. Restituir as humanidades negadas pelo passado de escravização e racismo é um passo importante para entender a importância da luta pela valorização do povo negro”, revelou.

Com ênfase à mulher negra, de acordo com a vice-prefeita, que nesses processos foi tratada com ódio e negada a viver o amor. “O cargo que ocupo hoje pode influenciar meninas negras e outras mulheres que pensam em conquistar os sonhos. Quero mostrar que é possível. Quando nos amamos, desejamos viver plenamente. Esse apoio precisa estar presente nas nossas vidas, precisamos cuidar das relações entre nós. Somos dignas de amor, e somos capazes de estar em todos os lugares”, concluiu.

 

 

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