Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. Com certeza você já ouviu essa frase e acreditou que se manter imparcial, em casos de violência contra a mulher, é o melhor a se fazer. Invadir a rotina de terceiros pode ser realmente uma atitude constrangedora, considerada inadequada, mas a neutralidade pode colocar a vida de alguém em risco. Quando o assunto é violência contra a mulher, o silêncio pode ser fatal e determinante para que as agressões se tornem ainda mais frequentes, fortalecendo a sensação de impunidade por parte do agressor.
Ao falar de relacionamento abusivo e práticas violentas, pensamos logo na agressão física ou no abuso sexual, no entanto, os tipos de violência contra a mulher são diversos, como ataques psicológicos, à moral e ao patrimônio. E por isso, podem passar despercebidos porque nem sempre deixam marcas. E pior, a própria vítima ou as pessoas mais próximas, não conseguem identificar a violência sofrida ou se recusam a admitir. Enquanto isso, as situações se agravam e podem chegar a níveis insustentáveis, com consequências irreversíveis.
Os dados de violência contra a mulher no Brasil são alarmantes. De acordo com o Instituto Datafolha, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência em 2020, período de intenso isolamento em razão da pandemia. Os números representam que aproximadamente 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual naquele ano.
Embora seja difícil reconhecer o caráter abusivo do relacionamento, algumas atitudes podem ajudar na identificação. Seja em um casamento ou namoro, note as ameaças, pressões psicológicas, privações financeiras, humilhações, restrições de contato com amigos e familiares. Essas são características de uma relação abusiva, onde a violência está presente. O excesso de ciúmes nem sempre é amor, mas sim um detalhe possessivo de personalidade e um alerta para que você perceba alguma anormalidade.
Fique de olho em atitudes exageradas, perceba o modo que seu companheiro fala com você e te trata, não seja tolerante a ações violentas e intimidadoras e se atente às reações manifestadas por ele. Caso você tenha sido vítima de violência, ignore desculpas mesmo que seja a primeira vez, denuncie, busque auxílio psicológico para enfrentar a situação e, caso necessário, encerre o relacionamento. Essas dicas podem parecer rígidas demais, mas alguns crimes mais graves começam anos antes, com pequenas demonstrações de violência.
Sair de uma relação tóxica e violenta quase nunca é uma tarefa fácil. A vítima geralmente sente vergonha e receio dos julgamentos, desconfiança quanto à rigidez das leis de proteção, descrença no perfil violento do companheiro e, sobretudo, confiança no discurso de arrependimento do agressor.
Uma relação saudável deve fazer ambas as partes felizes. Se abala a sua autoestima, se te agride de alguma forma, avalie. Vale deixar claro que muitos homens também são vítimas de violência, mas os casos com mulheres lideram as estatísticas.
Em defesa às mulheres, a lei nº 11.340 (Maria da Penha) tem como objetivos o enfrentamento à violência doméstica e a preservação da vida das mulheres. Na prática, essa proteção nem sempre acontece como deveria. Em 2022 a lei completa 16 anos e, junto, surge a necessidade de submetê-la a uma revisão, onde a punição se torne mais rígida e garanta mais segurança às vítimas.
A Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) também é uma importante ferramenta de acolhimento às vítimas de violência. O serviço é gratuito e funciona 24 horas por dia, atendendo todo o território nacional, atuando no registro e encaminhamento de denúncias, além do fornecimento de informações dos direitos garantidos.
Uma certeza que mais de 10 anos trabalhando em Delegacias no Estado do Rio de Janeiro me deram: em matéria de violência contra a mulher, nunca se deve cruzar os braços. Agir pode ser a diferença entre viver e morrer. E para agir, basta um pedido de ajuda!