BARRA MANSA
Os efeitos da intervenção militar federal no interior, após início da determinação federal no estado do Rio de Janeiro, foram discutidos na manhã desta sexta-feira, dia 2, em reunião realizada no Centro Educacional Integral (CEI) Vieira da Silva, no Centro. O encontro foi o segundo do Observatório Legislativo da Intervenção Federal na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (Olerj) criado pelo deputado federal e presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Maia (DEM). Além dele, outros colegas de bancada na Câmara estiveram presentes, como Aureo (SD-RJ), Deley de Oliveira (PTB) e Alexandre Serfiotis (MDB). Prefeitos da região, vereadores de Barra Mansa e membros de órgãos de segurança pública do estado também participaram.
A migração de criminosos da capital para o Sul Fluminense, o aumento do efetivo policial e o investimento na melhoria das condições de trabalho das polícias foram alguns dos temas levantados na segunda reunião do Olerj. O trabalho de prevenção ao aumento da violência com a utilização da Educação, com as escolas integrais, também foi discutido na ocasião.
Segundo Maia, além da fiscalização da intervenção, o Observatório acompanhará a situação da Educação no Rio. “O Observatório é também um instrumento para analisar e entender a origem da violência e seus impactos na sociedade. Vamos acompanhar, a médio e longo prazo, para que possamos cuidar melhor da nossa juventude, que é hoje a mais vulnerável ao tráfico de armas e drogas. Analisar quais são os caminhos e os problemas atualmente na Educação. De que formas podemos construir soluções para que o Brasil, de fato, volte a gerar empregos. Acho que esse é o desafio. Esse não é um problema só do Rio de Janeiro, outros estados já solicitaram intervenção, então é um tema nacional que está em pauta de 2014 para cá, com o aumento dos números da violência”, afirmou Maia.
O encontro aconteceu no CEI Vieira da Silva, escola que já atende ao plano de Educação Integral implantado pela Secretaria Municipal de Educação este ano em Barra Mansa. A escola em tempo integral atende, atualmente, 2.600 dos 19,9 mil estudantes do município, mas que a meta é chegar a 50% em 2020. O secretário de Educação de Barra Mansa, Vantoil de Souza, detalhou que são oferecidas aos estudantes atividades que contribuam para a formação cidadã e profissional dos jovens, como aulas de línguas estrangeiras, robótica, informática com foco no desenvolvimento de jogos, empreendedorismo, teatro e música.
“A gente acredita que é possível promover essas mudanças através da Educação e da escola pública, mas é preciso que esse investimento seja produtivo. Não adianta aumentar a carga horária do aluno e ele ter somente atividades recreativas, porque isso é terapia ocupacional, é dinheiro jogado fora. Nós precisamos preencher o tempo dela com atividades que a façam ter mais oportunidades e que sejam atrativas para ela. Educação não pode ser mero passatempo” afirmou Vantoil.
POLÍCIA E JUSTIÇA
O prefeito de Barra Mansa e presidente do Consórcio Intermunicipal de Segurança do Médio Vale do Paraíba Fluminense (Cisegci), Rodrigo Drable (MDB), lembrou a precariedade das viaturas policiais, falou do pouco efetivo policial para a região, e deu voz às reclamações do Cisegci sobre a atuação da Justiça.
“É preciso que essa intervenção também olhe para o interior, porque nos últimos anos houve um aumento da criminalidade e um processo migratório de bandidos para as cidades da região. Quando Angra dos Reis precisou, policiais de Barra Mansa foram deslocados para lá e nós ficamos desguarnecidos, porque não há homens suficientes. A situação das viaturas é outro problema. É preciso novos veículos para o interior. O prefeito de Pinheiral, Ednardo Barbosa (MDB), levantou a questão da polícia técnica, que é preciso reforçar. E outro assunto levantado, e que penso que é essencial, é com relação à atuação do Judiciário. Nós em Barra Mansa sentimos isso na pele, onde criminosos perigosos são colocados em liberdade pouco tempo depois de presos pela polícia”, disse Rodrigo.
O prefeito defendeu ainda o porte e uso de arma de fogo pelas Guardas Municipais, que segundo ele foi retirado há dois anos.
“A Guarda Municipal é um braço importante da segurança pública e é preciso que sejam mais bem aparelhados”, avaliou.
INTERVENÇÃO NAS RUAS
Perguntado sobre quando teria início a intervenção militar de forma efetiva, com a presença das Forças Armadas nas ruas de todo o estado, Maia disse que aguarda uma posição do general do Exército Walter Souza Braga Netto. “Nossa expectativa é que o interventor apresente o mais rápido possível o planejamento. Ele mesmo disse na semana passada que foi pego de surpresa e que ainda estava estudando. A gente espera que com a integração entre as Forças Armadas e as polícias Civil e Militar possamos ver resultados entre 30 e 40 dias”, disse o deputado.
Questionado na saída da reunião sobre o diagnóstico que fazia do encontro, Maia se mostrou otimista na solução dos problemas apresentados pelos prefeitos e representantes da segurança pública, principalmente com relação às leis e a atuação da Justiça.
“Acho que dá para dialogar com o Judiciário. Uma parte pode ser culpa do Judiciário, mas outra pode ser das leis. Muita gente reclama que as leis são muito flexíveis e a gente vai discutir isso. O bandido comete um crime grave e poucos meses depois ganha a liberdade. Mas tem também os problemas estruturais, a falta de recursos, que está em todas as áreas do estado pela crise financeira que o Brasil viveu, mas acho que nos próximos meses vamos poder retomar alguns projetos com a recuperação da arrecadação do Governo Federal”, declarou Maia.
O deputado Aureo (SD-RJ) também se posicionou a favor da intervenção militar. Ele disse que a ação é a única esperança do morador fluminense na melhoria da qualidade de vida e que não se pode pensar em outro resultado que não seja a solução do problema da segurança pública.
“Hoje o crime organizado tomou conta de todas as regiões do estado e tirou o direito do cidadão até de arrumar um emprego, porque não pode chegar em casa tarde, ou então porque não pode sair de madrugada. Tira a oportunidade das crianças estudarem, porque há tiroteios e as aulas são suspensas. É um momento muito crítico. Então a intervenção é importante para o Rio de Janeiro e também para o Brasil. O Rio recebe 40% do turismo internacional e a nossa imagem é estampada no mundo todo”, desabafou o deputado, defendendo a atuação do Observatório de forma integrada com o aspecto social.
EDUCAÇÃO NO COMBATE AO CRIME
O deputado Deley de Oliveira (PTB) elogiou a atuação do presidente da Câmara e a preocupação dele na criação do Observatório. “Parabenizo a atuação do Rodrigo que vem tendo muita sabedoria e maturidade na condução dos trabalhos no Congresso Nacional. E não há nada de oportunismo eleitoral. A intervenção é necessária, principalmente pelo Rio de Janeiro ter uma ressonância muito grande. Isso pode ser levado para outros estados. Talvez a gente consiga, como foi com Darcy Ribeiro lá atrás, deixar um legado”, afirmou Deley, lembrando, que como ex-jogador de futebol, acredita que o esporte e a educação sejam instrumentos de prevenção da violência.
OLERJ
Além de promover a transparência dos resultados da intervenção, o observatório tem como objetivo incentivar a produção de estudos e avaliações da situação de violência no estado do Rio em parceria com institutos de pesquisa e universidades, funcionando como uma ferramenta digital de debates e fóruns para ouvir a população. A previsão de funcionamento é que vá até o dia 31 de janeiro de 2019.