SUL FLUMINENSE
Um levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela que em novembro de 2019, em cada dez brasileiros que tentaram fazer uma compra a prazo, dois (21%) tiveram o pedido negado pelo credor. As principais razões da negativa foram o fato de o consumidor estar com nome inscrito em cadastros de devedores (31%) e a falta de comprovação de renda para realizar a compra (17%). Há ainda 15% que não conseguiram parcelar por renda insuficiente e outros 15% que já haviam excedido o seu limite de crédito com outras aquisições. Já 19% não souberam a razão do pedido não ter sido atendido.
Na avaliação do presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, os modelos atuais de análise de crédito são limitados porque entregam uma visão parcial sobre a vida financeira do consumidor, dando um peso maior aos apontamentos de inadimplência do que ao histórico de pagamentos como um todo. “A tendência é que o Cadastro Positivo mude essa cultura e uma parcela maior de consumidores, que hoje estão à margem do mercado de crédito, possa ter acesso a empréstimos e financiamentos com condições adequadas ao seu perfil de risco”, explica Pellizzaro Junior.
Segundo ele, com o Cadastro Positivo, os credores poderão visualizar não apenas as contas que os consumidores têm em atraso, mas também aquelas que estão sendo pagas em dia. “Isso significa que aquela parcela da população de renda mais baixa, que normalmente possui poucas garantias para fornecer em operações de crédito ou possuem registros pontuais de inadimplência, também poderá mostrar que é boa pagadora”, afirma.
Na região é comum encontrar pessoas insatisfeitas pela restrição ao crédito. Samuel da Silva, 29, tem parcelas em atraso de um empréstimo bancário e não consegue realizar compras parceladas. “É uma dificuldade sim, porque o valor no banco cresce e não consigo renegociar pagando as prestações da forma que eles propõem. Daí, para comprar algo tenho que pagar à vista”, frisa o morador de Penedo, em Itatiaia.
ROTATIVO DO CARTÃO DE CRÉDITO
De forma geral, 57% dos brasileiros não utilizaram modalidade de crédito no mês de novembro, como empréstimos, linhas de financiamento, crediários ou cartões de crédito. Outros 43% mencionaram ter recorrido, ao menos a uma modalidade no período, número inferior aos 50% observados no mês anterior. O cartão de crédito (37%) e o crediário (11%) foram as modalidades mais usadas no último mês. Já o cheque especial foi citado por 7% da amostra. Há ainda 6% de consumidores que contrataram empréstimos e 4% entraram em financiamentos.
O levantamento mostra ainda que as despesas correntes do dia a dia foram as mais realizadas via cartão de crédito, como as compras de supermercado (65%) e a aquisição de remédios (42%). Em terceiro lugar aparecem a compra de combustíveis (40%), seguida da aquisição de roupas e calçados (37%). “Meu calcanhar de Aquiles é o cartão. Pago e uso de novo, às vezes me enrolo, mas não consigo deixar de utilizar. Os juros são elevados e diversas vezes utilizo o rotativo, pagando mais caro”, comenta a dona de casa Aparecida Braga, 49, de Porto Real.
Um dado preocupante é que quase um quarto (23%) dos usuários de cartão de crédito não conseguiu pagar integralmente a fatura no último mês de novembro e entrou no chamado ‘rotativo’, que cobra os juros mais caros do mercado. Os que honraram os compromissos em dia somam 75% da amostra. Em média, o valor da fatura do cartão de crédito ficou em R$ 855,79, sendo que a maior parte (46%) dos entrevistados disse que manteve um valor de gasto parecido ao do mês anterior. Já 33% viram o tamanho da fatura aumentar em novembro, enquanto 15% diminuíram os gastos via cartão.
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, a cada compra no cartão, o consumidor deve avaliar o quanto a prestação comprometerá a sua renda para evitar o risco de atrasos e pagamento de juros. “Passar as compras no cartão é algo prático, mas é preciso estar atento se o pagamento dessas parcelas não comprometerá a renda e o pagamento de outras despesas. Com a facilidade do parcelamento via cartão, corre-se o risco de exagerar nas compras por impulso ou sem planejamento e ter de arcar com altos juros”, alerta a economista.