Resultado de pesquisa alerta para situação de saúde mental dos bancários na região

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VOLTA REDONDA
O resultado da pesquisa que investigou a saúde mental dos bancários que integram a base do Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense foi divulgado nesta semana pela entidade sindical e o Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), campus Volta Redonda. O estudo apontou para os graves acometimentos psicossociais entre os trabalhadores do ramo financeiro.
A apresentação do relatório foi realizada no auditório da universidade e acompanhada pela presidenta da Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores no Ramo Financeiro do Rio de Janeiro (Federa-RJ), Adriana Nalesso, pelo professor adjunto da UFF e líder do Laboratório de Pesquisa Laposte, Fernando Faleiros, integrantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro Contraf-CUT) e  representantes da Secretaria de Saúde de Volta Redonda (SMS-VR).
A pesquisa envolveu cerca de 800 bancários ativos de instituições públicas e privadas. O objetivo foi caracterizar o quadro atual de riscos e adoecimentos relacionados à saúde mental, descrever o perfil sociodemográfico ocupacional da amostra pesquisada, determinar indicadores de riscos, adoecimento e saúde mental para o desenvolvimento de ações sobre os resultados e articular ações com outros atores para construir relações de trabalho, mais justas e saudáveis que confrontam os indicadores de agravo advindos do contexto laboral. De acordo com a direção do Sindicato, os bancários já acometidos pela doença e afastados do trabalho serão ouvidos em oportunidade específica.
METADE DO QUANTITATIVO DE BANCÁRIOS
Durante a apresentação do resultado, o presidente do Sindicato, Júlio Cunha, revelou a existência de agência em Barra Mansa que está operando com a metade do quantitativo de bancários, em função de afastamento provocados por distúrbios mentais. “ Doenças como depressão e ansiedade acometem até 6% da população brasileira, enquanto quadros mais graves, como esquizofrenia, 3%. Quando a gente traça um comparativo com os afastamentos dos bancários, as doenças psiquiátricas  representam 20% sobre a categoria. É um número muito expressivo e que precisa ser enfrentado com ações que não naturalizam a doença, mas tenham como foco a vida e a saúde”, declarou o presidente.
Ainda e acordo com o preside3nte, a análise da organização do trabalho nos cinco bancos pesquisados revelou-se crítica. No quesito relações socioprofissionais, o cenário também é crítico em todos os bancos. A escala de indicadores de prazer e sofrimento no trabalho mostrou situação crítica para danos físicos em dois bancos, e suportável nas demais instituições. Os danos psicológicos foram considerados suportáveis em outros três, enquanto os danos sociais foram vistos como suportáveis em todas as instituições.
DANOS PSICOLÓGICOS E ESGOTAMENTO PROFISSIONAL
Os estudos apontaram ainda, que os bancários da área comercial são os mais afetados, apresentando níveis superiores de danos psicológicos e esgotamento profissional. Aqueles com mais de 40 anos sofrem mais com piores condições de trabalho e maiores danos físicos.
Segundo o secretário de Promoção Social do Sindicato, Miguel Pereira, a saúde dos trabalhadores bancários vem sendo monitorada desde 2013. “Observamos um aumento nos casos de adoecimento e afastamentos por licença junto ao INSS, devido a problemas psíquicos como ansiedade generalizada, depressão e Síndrome de Burnout, que é a exaustão causada pelo trabalho. Como os bancários procuram o Sindicato para orientações e emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho, tivemos a chance de perceber esse quadro preocupante e constatar que eles estão diretamente ligados à pressão para atingir metas cada vez mais difíceis. Quando os objetivos não são alcançados, os bancários sofrem com menor remuneração, perda de função e até demissões. Essa pressão constante é desumana”, explicou Miguel.
IMPORTÂNCIA DO DEBATE
A presidente da Federa-RJ, Adriana Nalesso, disse da importância do debate. “Precisamos combater o negacionismo que existe no ambiente bancário e que busca tornar invisível esse quadro de doenças entre a categoria. Para descaracterizar esse processo, temos a ciência e pesquisa ao nosso favor, nos auxiliando no enfrentamento nas ações judiciais, na sociedade e na mesa de negociação com os bancos”, frisou.
Fernando Faleiro ressaltou que a pesquisa constatou outro dado extremamente relevante: Do total de entrevistados 49,2% já tinham sido afastados de suas atividades por motivos de doença, sendo 36,9% por doenças psíquicas. Destes, 19,6% com diagnóstico médico comprovando o distúrbio mental. “Mesmo assim, o temor de perder o emprego impediu que 36,9% dos bancários apresentassem atestado médico. O resultado dessa pesquisa marca o início de uma série de avaliações e desdobramentos que precisam ser feitos diante do panorama identificado na região”.
Encerrando a apresentação, Júlio Cunha enfatizou que  a pesquisa não teve como foco estabelecer qualquer tipo de quadro comparativo entre empresas e nem os dados apurados permitem tal  exercício. Mas o que o estudo provou é que de fato a forma como o trabalho bancário está organizado é a grande causa dos adoecimentos psíquicos entre a categoria e, que quando isso ocorre os adoecidos ainda são punidos com a demissão ou a perda de função. E nos quadros mais graves os trabalhadores tentam o suicídio. “Precisamos falar e denunciar essa situação grave e agir preventivamente para que o trabalho deixe de ser causa de adoecimento e sofrimento”, destacou Júlio Cunha.

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