Fazer o bem sem olhar a quem e nem esperar nada em troca. Com este pensamento, a técnica em contabilidade, Cássia Aparecida Caminha Sampaio, cedeu parte de sua casa e implantou o projeto social “De Nós, Tudo Um Pouco”. Prestes há completar três anos em agosto, o projeto oferece 42 tipos de cursos profissionalizantes e atendimento no setor de saúde alternativa. Todo o atendimento é gratuito.
Criado por Cássia, o projeto social ‘De Nós, Tudo Um Pouco’ foi fundado em 3 de agosto de 2015 e funciona na sua casa, na Rua das Acácias, 836, no bairro Cidade Alegria. Ela conta que o projeto surgiu com a proposta de ajudar ao próximo, no sentido educacional, profissionalizante e cultural. “A intenção é ajudar, principalmente as pessoas mais carentes a terem uma oportunidade na área educacional oferecendo cursos profissionalizantes e atendimento na área de medicina alternativa”, disse a fundadora, que teve como maior incentivadora a mãe, Sílvia Caminha Sampaio, já falecida. “Criei coragem de fazer o projeto após a morte da minha mãe em março. Trabalhei como voluntária no projeto ‘Brilho Para Todos’, da Nézia Seabra. Eu ajudava aos sábados porque tinha que cuidar da minha mãe que estava com problemas de saúde. Um dia conversando com ela, falei que queria fazer um projeto diferente voltado para a área educacional. Mesmo acamada, minha mãe me incentivava e, após sua morte, resolvi concretizar meu sonho”, explicou Cássia.
A fundadora do projeto conta que, atualmente, o projeto atende, gratuitamente, cerca de 400 pessoas. “Somos uma entidade sem fins lucrativos e antipartidária. Nosso objetivo é proporcionar o desenvolvimento humano, educacional, social, artístico e cultural de crianças, adolescentes, adultos e idosos, bem como da comunidade em geral de Resende.Hoje, com a ajuda de 60 professores voluntários e de pessoas que contribuem com doações, atendemos aproximadamente 400 pessoas em 42 cursos livres gratuitos”, explicou à fundadora e presidente do projeto, que transformou a própria casa em salas de aulas improvisadas. “Contamos apenas com doações de voluntários e comunidade em geral, sem subsídios dos governos municipal, estadual ou federal. Antigamente usava espaços cedidos. Como estava difícil manter as atividades em outro local, resolvi transformar minha casa em salas de aula, mesmo que improvisadas. Para isso, iniciei uma reforma na casa e que até hoje está inacabada. Construí duas salas. Na verdade, uma delas, era um cômodo que estava construindo para minha mãe ficar, mas ela acabou morrendo e não havia terminado. Então, resolvi fazer a sala de reforço de português e de alfabetização para adultos. Já a outra sala, antes um dos quartos, virou a segunda sala da frente. Nos fundos da casa, improvisei uma sala de dança e arte marcial, onde acontecem aulas de balé clássico, dança do ventre e de kickboxing. Também construímos um local para guardar materiais, assim, a copa virou sala de atendimento do projeto. Enquanto que o quarto onde eu dormia, virou a sala dos atendimentos de saúde como o auriculoterapia, fisioterapia e depilação. Só sobrou a cozinha que a utilizo, pois o banheiro divido com os participantes do projeto. Hoje, só as aulas de manicure e corte e costura que acontecem na Associação de Moradores da Cidade Alegria (Amcha)”, explica Cássia, que contou com a ajuda da comunidade para iniciar as obras. “Tudo aqui foi feito com a ajuda das pessoas. Com muita solidariedade conseguimos improvisar as salas de aula. Para se ter uma ideia, na sala de dança e de artes marciais, uma professora doou os espelhos. Mas não me arrependo de transformar minha casa em salas de aula. Sobrevivo com a ajuda das pessoas que são voluntárias. A água e a energia elétrica são pagas por um voluntário. A minha recompensa é ver a alegria nos olhos das mães e de suas crianças que frequentam nosso projeto gratuitamente. Isso é uma dádiva de Deus!”, completa.
Cássia comenta que mensalmente recorre ao comércio e a comunidade para continuar com o projeto. “Nós precisamos de todo tipo de ajuda, desde voluntários para ministrarem as aulas como de material de limpeza, escolar e de construção para ajudar na reforma das salas de aula, até a de mão de obra, como a de eletricista e pedreiro”, disse a presidente, informando que quem puder ajudar no projeto “De Nós, Tudo Um Pouco” pode entrar em contato pelos telefones (24) 99952-1243 e 99266-4396 ou pelo e-mail: [email protected].
Este ano, Cássia está correndo atrás para juntar dinheiro para obter a inscrição de Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) Social. Para isso, a presidente precisa arrecadar cerca de R$ 2 mil. “Com este documento eu consigo registrar o projeto como Uma Organização Não Governamental (ONG) que vai facilitar a busca de apoio junto às empresas. Até o ano passado, este documento ficava em torno de R$ 2 mil. Nós não temos condições de arca com esta documentação”, reforçou Cássia, lembrando que o projeto é protegido pela Lei Federal N.º 9.394/96 do Curso Livre, que prevê que a educação é direito de todos e será incentivada pela sociedade.
CURSOS E VOLUNTÁRIOS
As atividades educacionais no projeto “De Nós, Tudo Um Pouco” acontecem sempre de segunda a sábado. Ao todo são 42 cursos: Inglês; Espanhol; Operador de Check-out (antigo operador de caixa); reforço de português e matemática de primeira a sexta série; alfabetização para adultos; violão; dança gospel; balé clássico e contemporâneo; Hip Hop; Jazz; Kickboxing; cabeleireiro; depilação; designer de sobrancelhas; auto maquiagem; manicure; pedicuro; artesanato na garrafa de vidro; corte e costura; bordado; E.V. A; ponto de cruz; crochê; Recursos Humanos; Empreendedorismo; Rotinas Administrativas; Marcenaria; Direito Trabalhista;Estética Facial; Logística; Pintura em tecido; Mega hair; Segurança do Trabalho; Assistente Administrativo; Departamento Pessoal; Fluxo de loja; Garçom; Libras (Língua Brasileira de Sinais) e artesanato em geral. “Nestes três anos de funcionamento já formamos e certificamos mais de 500 pessoas. Isso é muito gratificante, saber que tem pessoas que já passaram por aqui e, hoje estão no mercado profissional e tiveram um desenvolvimento cultural e educacional com a nossa ajuda. Sem contar com os voluntários que gratuitamente oferecem um pouco de sua sabedora em sua área profissional para ajudar as pessoas, principalmente as mais carentes. Afinal, aqui oferecemos cursos de alto padrão e de graça”, disse Cássia Sampaio, destacando que só nos cursos de Cabelereiro e de Marcenaria são cobrados uma taxa simbólica mensal para ajudar no pagamento das contas de energia elétrica e de água. “Estes cursos são de longa duração, em média de seis a dez meses. Cobro uma taxa simbólica de R$ 10 por mês para ajudar nas despesas. O restante dos cursos é gratuito”, ressaltou Cássia.
Falando sobre um dos cursos do projeto, Elaine Cris Silvia Brandão, que é aluna do curso de cabeleireiro, elogiou a iniciativa dizendo que sempre teve aptidão para a profissão. “Desde que conheci o projeto não larguei mais. Como tenho aptidão para mexer com cabelos, escolhi o curso de cabeleireiro desde o ano passado. Pago uma taxa para ajudar nas despesas de luz e da água. Se fosse a outro lugar não poderia fazer o curso”, afirmou.
ATENDIMENTO NA ÁREA DA SAÚDE ALTERNATIVA
Além dos cursos, o projeto “De Nós Tudo Um Pouco” oferece atendimento na área da saúde alternativa como auriculoterapia; fisioterapia; nutricionista; psicólogo e assistente social. Os atendimentos são gratuitos e feitos com hora marcada. “Nós mantemos o atendimento semanal e com hora marcada. Tudo é feito com muito carinho para manter a qualidade”, informaa fundadora do projeto Cássia Sampaio.
Um dos atendimentos que chama atenção é o de auriculoterapia ou auriculopunctura, que é uma forma de medicina alternativa baseada na crença de que o pavilhão auditivo da orelha, ou aurícula, é um microssistema em que todo o corpo é representado por um mapa.
Os praticantes alegam que é possível tratar problemas de saúde física, mental ou emocional exclusivamente mediante estimulação da superfície da orelha.
A psicóloga e terapeuta Alessandra Tamiozo é a responsável por este atendimento. “Conheci o projeto quando acompanhava minha filha para fazer um curso de japonês. Como o curso era à noite, passei a acompanha-la sempre. Conversando com a Cássia, vi que a procura é grande e ofereci meu serviço de Terapia Auricular e, depois que me formei estou fazendo atendimento de Psicologia. Simplesmente me apaixonei pelo projeto e também estou dando minha contribuição na parte administrativa e para correr atrás de recursos. Aqui, oferecemos cursos que outro lugar não tem e tudo gratuito. Isso ajuda muito, principalmente as pessoas que estão desempregadas e precisam se qualificar para retornarem ao mercado de trabalho”, narra Alessandra, lembrando que os professores voluntários são profissionais gabaritados. “Tem professores que saem direto de sues trabalhos e vem pra cá para doar um pouco de sua sabedoria para ensinar as pessoas carentes gratuitamente”, destaca.
A procura é grande para o atendimento de Terapia Auricular que a terapeuta não tem vaga tão cedo para novos pacientes. “Todo o atendimento é gratuito. Única coisa que peço que o paciente comprem as sementes de mostardas que custam cerca de R$15,00 a cartela. Se uma pessoa fosse fazer o atendimento fora, cada sessão sairia em média R$ 45,00. Aqui é de graça”, disse a terapeuta.
Já a dona de casa Sílvia Eletice é professora de crochê. “Vim para o projeto para ver os cursos de cabeleireira e de sobrancelhas. Sempre trazia meu crochê para fazer enquanto as aulas não começavam. A Cássia se interessou pelo meu trabalho e me convidou para ser professora voluntária. Agora, além de aluna nos dois cursos também sou professora dando aulas todas às quintas-feiras das 9 às 11 horas”, explicou Sílvia.
“Conheci o projeto ano passado, por indicação de uma amiga. Eu queria começar a dar aulas. Falei com a Cássia e fechamos a parceria para aulas de rotinas de Recursos Humanos,Atendimento ao Cliente e Técnicas de Vendas, além de oficinas de Coaching de Carreira, que visa contribuir para a escolha profissional ou transição de carreira, apresentando elementos essências para esta decisão.O projeto tem uma importância social muito grande, pois oferece capacitação gratuita aos interessados. Ele também é uma forma de resgatar a autoestima das pessoas, através do levar conhecimento”, conta a coach e consultora de Recursos Humanos, Heidi Dias.