Esta semana, recebi algumas solicitações para falar para adolescentes sobre o uso da Internet, então resolvi escrever sobre os riscos reais para nossos jovens. A internet faz parte da vida dos nossos filhos. É ali que eles estudam, se divertem, constroem relações e se expressam. Mas, ao mesmo tempo em que essa conectividade abre portas para o mundo, também escancara janelas para riscos que nem sempre são visíveis a olho nu.
Como psicóloga, tenho acompanhado cada vez mais adolescentes sobrecarregados emocionalmente, ansiosos, inseguros e, muitas vezes, solitários — mesmo cercados por centenas de “amigos” virtuais. E isso nos leva a uma pergunta urgente: estamos atentos ao que eles vivem nas redes?
Plataformas como TikTok, Instagram e YouTube são desenhadas para prender o usuário por horas, entregando doses constantes de dopamina — o neurotransmissor ligado ao prazer e à recompensa. O problema? Essa busca constante por curtidas, visualizações e “engajamento” pode virar um ciclo viciante. O jovem perde o sono, a concentração e o prazer em atividades do mundo real.
A vida nas redes sociais é altamente editada. Corpos perfeitos, viagens dos sonhos, vidas sempre felizes. O resultado é uma geração de adolescentes se comparando com o inalcançável, sentindo-se insuficiente, inadequada, e, em muitos casos, entrando em quadros de ansiedade e depressão.
Desafios que viralizam entre os jovens — alguns inofensivos, outros extremamente perigosos — circulam sem filtros. Há brincadeiras envolvendo automutilação, sufocamento, ingestão de substâncias… Tudo em nome da aceitação ou da fama virtual. Muitos adolescentes aceitam o risco sem compreender suas consequências.
O ambiente digital também é palco de agressões silenciosas. O cyberbullying é tão cruel quanto o presencial, e seus efeitos podem ser devastadores. Além disso, há o risco do grooming — quando adultos se passam por jovens para seduzir adolescentes com intenções abusivas. Isso acontece, muitas vezes, em jogos online e aplicativos de mensagens, longe do olhar dos pais.
O que fazer?
A resposta não está só no controle do uso, mas no monitoramento dos nossos filhos, na educação digital e emocional. Precisamos ensinar nossos jovens a navegar com senso crítico, a reconhecer situações de risco e a pedir ajuda quando necessário. E isso só é possível com diálogo aberto, presença ativa e vínculos fortalecidos.
A internet não é o vilão. Mas o uso sem orientação, sem limites e sem apoio pode ser perigoso — especialmente para uma geração em formação. É hora de olhar com mais atenção para o que nossos adolescentes estão vivendo dentro das telas.
Vamos juntos acompanhar e proteger nossas crianças e adolescentes!
Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.