Estamos chegando na metade do ano, e o dólar já acumula valorização superior a 40% ante o real, fechando o mês de maio a R$ 5,34. Mas diferente do que sempre ocorreu no Brasil, a alta da moeda americana dessa vez não se transformou em inflação mais elevada no país. Ao contrário, os índices de preços estão caindo. A inflação no Brasil sempre subiu puxada pelo dólar mais caro, isso porque muitos produtos consumidos aqui chegam do exterior e mesmo itens fabricados no Brasil, como a carne e o petróleo, têm suas cotações definidas em dólar.
As necessárias medidas de isolamento social para conter o novo coronavírus jogaram a economia em uma recessão. Com menos clientes comprando, as empresas não conseguem repassar o aumento de custos, sem contar que o estoque tem validade, e não se pode simplesmente deixá-lo parado esperando que a demanda retome seu curso natural. Pouco consumo e muito estoque. A relação direta entre dólar e inflação não mudou, o que acontece agora é que não existe renda.
As projeções feitas pelo mercado para os próximos anos mostram uma inflação dentro das metas do Banco Central, assim como juros mais baixos. Por isso, é menor a possibilidade de que alguém aceite pagar mais por um produto se o reajuste pedido ficar fora do que é o esperado para os índices de preços. Até quando esse novo normal prevalecer,o dólar não deve ceder tanto. A incerteza sobre a economia global ainda faz com que muitos investidores continuem procurando a moeda americana para proteger suas reservas.
Um cuidado que todos devemos ter é saber que a inflação pode voltar a ser alimentada pelo dólar, assim que a economia se aquecer novamente. Enquanto estivermos nessa recessão, a dupla câmbio alto e inflação baixa podem coexistir, mas assim que a atividade econômica começar a dar sinais de recuperação, as empresas poderão ajustar os preços que praticam.