BARRA MANSA
Nesta sexta-feira os deputados federal Wadih Damous e o estadual Waldeck Carneiro, ambos do Partido dos Trabalhadores, participaram do evento Memória, Verdade e Justiça, promovido no espaço do antigo arquivo no Parque da Cidade Natanael Geremias. A realização foi do Centro de Memória do Sul Fluminense (Cemesf) Genival Luis da Silva, que foi criado para resgatar a memória das prisões, torturas e assassinatos ocorridos no período da ditadura militar, no 1º Batalhão de Infantaria Blindada (BIB), em Barra Mansa. O centro de memória teve uma emenda no valor de R$ 300 mil feita pelo deputado Waldih e que está tramitando. Ele disse que se empenhará para que neste ano ainda seja liberada.
Se isso acontecer, a coordenadora da Comissão de Apoio ao GT do BIB e membro do Cemesf, Alejandra Esteves, disse que o Parque da Cidade terá uma espécie de museu no local identificado como onde ocorreram as torturas e mortes e uma praça em frente. “A ideia é que seja abrigado um acervo do que aconteceu e que possamos realizar atividades. Aqui aconteceram graves violações dos direitos humanos e ainda precisamos dar visibilidade as histórias porque muitas pessoas desconhecem”, disse, lembrando que a liberação da emenda será a primeira de quatro etapas que foram elaboradas. Segundo ela, depois serão buscados participação em editais públicos para concretizar o projeto que é pensando há muitos anos.
Uma roda de conversa entre os presentes foi realizada. Uma das que usou a palavra foi Geralzélia Ribeiro da Silva, irmã de Geomar Ribeiro da Silva, soldado assassinado no BIB, em 1972 em Barra Mansa. “Chegaram com o corpo dele na minha casa dizendo que tinha morrido de insuficiência cardíaca, mas ele estava esmagado. Não tinha nenhum envolvimento com questões políticas, mas sabia de coisas erradas que aconteciam lá dentro. Junto com ele, na ocasião, mais três homens foram mortos. Foi tudo uma loucura e acabou com a vida de muitas famílias que ainda não tiveram retratação alguma”, lembrou.
O deputado federal Wadih Damous disse que ele mesmo não sabia da existência desse lugar até ser procurado para entrar com pedido de emenda. E, de acordo com ele, é um grande interessado por assuntos de repressão na ditadura, tendo diversos acervos. Aconselhou que isso seja registrado em livro por Geralzélia, porque existe uma lacuna na história em Barra Mansa que não pode ser esquecida. Ele, que foi presidente da Comissão Estadual da Verdade, mencionou o esforço da comissão de Volta Redonda, representada no evento pelo ex-presidente e atual presidente da OAB da cidade do Aço, Alex Martins. “Meu mandato parlamentar é comprometido com a luta pelos direitos humanos e vou me empenhar para que a emenda para o centro de memória seja liberada efetivamente para que a história não fique escondida e mostrar como muitas pessoas morreram”, frisou.
O deputado estadual Waldeck Carneiro também colocou seu mandato à disposição para o que for preciso a respeito do tema. Ele mencionou que atual situação vivida no país não está sendo muito diferente do que acontecia na ditadura. Falou do golpe de estado que está sendo dado, na retirada de riquezas nacionais e no cerceamento da democracia no caso da prisão do ex-presidente Lula. “A Comissão da Verdade representa o processo de transição de democracia e é fundamental essa luta que sei que é antiga, mas muito necessária nos dias atuais”, destacou.
HISTÓRIA
Para quem não sabe da história, o 1º BIB localizado em Barra Mansa se tornou um centro de torturas, segundo levantamento da Comissão da Verdade de Volta Redonda, que atuava de maneira integrada ao sistema DOI-CODI, que funcionava na capital. Há relatos de sobreviventes que foram torturados no local e existem ainda pessoas que são consideradas desaparecidas depois de terem sido presas na época da ditadura.