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Consumo, logo existo

Por Franciele Aleixo

 

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Na semana passada o Brasil já registrava mais de 40.000 mortes por corona vírus, atingimos o 2º lugar no número de óbitos no mundo. A Covid-19 mudou radicalmente nossos hábitos, de repente temos medo de compartilhar o elevador com um desconhecido, lavamos os sacos de biscoito antes de consumir, espalhamos álcool em tudo, e não saímos sem máscara de jeito nenhum. Tudo isso para nos proteger de uma ameaça tão próxima e tão perigosa. Também na semana passada, apesar de inúmeras orientações contrárias de conselhos de saúde, grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo reabriram parte do comércio, e mesmo com todo apelo para evitar aglomerações, o resultado foi uma concentração de pessoas que se amontoavam nas filas para entrar nos shoppings. Com todo esse perigo nos rondando, que força é essa que o consumo tem de banir o medo?

Desde março que todos nós precisamos nos reinventar, e com isso, é comum se sentir angustiado.Para resolver isso, nada melhor do que um tapa na autoestima gerado por algumas comprinhas. A angustia é a ausência de prazer, para cessar esse sentimento desconfortável, nosso inconsciente se esforça atrás de uma solução. Esforço é um recurso escasso, que a gente sempre tende a poupar, logo comprar, pode ser um ato de sobrevivência das nossas funções cognitivas.


Pode parecer um exagero, mas o episódio da semana passada mostra que temos mais medo de morrer de esforço mental do que de Coronavirus. A primeira reação que eu tive ao ver os vídeos de shoppings lotados, foi julgar a extensão da ignorância do ser-humano, mas depois de refletir um pouco, passei a lamentar pela aflição coletiva por qual estamos passando. Quem nunca foi às compras por estar estressado ou precisando de um ânimo? Eu já fiz isso algumas vezes, e lamento informar, as compras não vão curar definitivamente a angústia, e muito menos o Coronavirus. A sensação de bem-estar trazido pelo consumo dura um tempo limitado, e cada dia que passa, esse tempo fica menor nos levando a comprar novamente até que se torna um vício, e como todos os outros, não faz bem.

A solução padrão para toda e qualquer angústia do mundo ainda não foi inventada, mas o que conhecemos até aqui é adquirir novas fontes de prazer, que não adoeçam as finanças pessoais e nem outra parte da vida. A minha saga atrás da tal nova fonte de prazer passou por vários caminhos, tentei correr, pedalar, aprender a nadar, pintar, nada me arrebatava, até que descobri os exercícios de força. Comecei a levantar 30 kg nas costas, treinava todo dia, e cada vez que conseguia aumentar a carga ficava feliz, sentia que eu tinha me superado, eu percebi que pra ter força e levantar mais peso eu deveria manter uma rotina de outros exercícios euma alimentação saudável, e assim eu fiz, cada dia que passava eu estava mais bem-disposta e bem-humorada o que me fazia manter meu compromisso com o treino. Hoje eu levanto 100 kg e toda vez que faço isso, me mantenho concentrada na força que faço, e não consigo pensar em mais nada, funciona como uma meditação. Encontrar essa fonte de prazer é uma tarefa difícil, mas se eu posso dar um conselho é, não desista! É esse prazer que nos ajuda ter autocontrole, e quando ele surge, não é só sobre as finanças, é na vida toda.

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