NOVA IORQUE
O número de jornalistas assassinados aumentou 18% em cinco anos, entre 2014 e 2018. E quase 90% dos responsáveis por essas mortes ainda não foram condenados.
A informação consta de um novo relatório da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco.
Este sábado, 2 de novembro, a agência marca o Dia Internacional para Acabar com a Impunidade de Crimes contra Jornalistas.
Escala
Em mensagem, o secretário-geral da ONU disse que as “liberdades de expressão e imprensa são essenciais para aumentar a compreensão no mundo, fortalecer a democracia e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”.
António Guterres lembrou o aumento na escala e no número de ataques incluindo ameaças, prisão e falhas para investigar os casos. A proporção de mulheres que são vítimas também aumentou.
Em novo relatório na véspera do Dia Internacional para Acabar com a Impunidade de Crimes contra Jornalistas, agência diz que de 2006 a 2018, 1109 jornalistas foram mortos; até 30 de outubro, houve 43 assassinatos de profissionais de mídia e imprensa; no mesmo período do ano passado, foram 90 mortes.
Impunidade
Em entrevista à ONU News, a relatora* sobre execuções sumárias e arbitrárias, Agnes Callamard, falou sobre um desses casos, o do jornalista saudita, Jamal Khasgoggi.
Segundo a especialista, “quando se começa a entender os motivos da impunidade, percebe-se que são investigações malfeitas, que receberam pressões políticas”.
Callamard propôs a criação de uma Força Especial de Procedimentos para Missões de Resposta Rápida. Para ela, as primeiras 48 horas são fundamentais na elucidação do caso, e que se o mesmo não for resolvido na primeira semana, será mais difícil encontrar o responsável.
Vítimas
A ONU News também conversou com Marie Solange Poinsot, a mãe da jornalista francesa Ghislaine Dupont, assassinada no Mali em 2013 ao lado do operador de rádio, Claude Verlon. O Dia Internacional para Acabar com a Impunidade a Crimes contra Jornalistas foi criado em honra dos dois profissionais de mídia.
Poinsot espera que o Dia Internacional “dê frutos em todo o mundo e em todos os países onde jornalistas estão perdendo suas vidas para informar a verdade”.
Regiões
Segundo o relatório da Unesco, os Estados árabes foram os países mais perigosos para jornalistas, com 30% de todos os assassinatos. Depois deles, os países latino-americanos e caribenhos que concentram 26% dos casos, seguidos da África Pacífico que concentra 24% dos assassinatos.
A pesquisa também mostra que, nos últimos dois anos, 55% dos assassinatos ocorreram em zonas sem conflito.
Segundo a Unesco, isso mostra como estes profissionais “são frequentemente alvo por causa de suas reportagens sobre política, crime e corrupção”.
Até agora, a agência registrou 43 assassinatos de jornalistas em 2019. No mesmo período do ano passado, tinham acontecido 90.
Em nota, a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, disse que a agência “condena todos os que colocam jornalistas em risco, todos os que matam jornalistas e todos os que não fazem nada para impedir essa violência.”
Azoulay também afirmou que, apesar da tragédia da morte, “o fim da vida de um jornalista nunca deve ser o fim da busca pela verdade.”
Campanha
A Unesco também está lançando uma campanha de mídia social com a hashtag #KeepTruthAlive, mantenha a verdade viva, numa tradução livre para português.
A campanha destaca o fato de que 93% dos jornalistas perdem a vida nos locais onde vivem, cobrindo temas locais.
Um mapa foi desenvolvido com o Google Maps para localizar todos os assassinatos condenados pela Unesco desde 1993. Os usuários têm acesso às informações de cada caso e podem compartilhar o mapa nas redes sociais pedindo justiça.
Eventos
Em 2019, o evento principal do dia internacional acontece na Cidade do México. Em colaboração com a Unesco, o governo do México organiza em 7 de novembro um seminário internacional sobre fortalecimento da cooperação regional para acabar com a impunidade por crimes e ataques contra jornalistas na América Latina.
Outras comemorações acontecem em mais de 15 países. Na sede da ONU, em Nova Iorque, decorre uma exposição com o trabalho de 17 cartunistas de imprensa. Os trabalhos podem ser vistos até 8 de novembro.
*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não falam em nome da organização. Eles não recebem salário pelo trabalho realizado.