“O debate sobre as drogas no país tem de ser uma ação rápida”. A afirmação é do responsável pela Coordenadoria de Políticas Públicas sobre Drogas (Compod), órgão vinculado a Secretaria de Ordem Pública de Barra Mansa, que trabalha na prevenção às drogas, César Thomé. Em recente entrevista ao jornal A VOZ DA CIDADE, ele, acompanhado de representantes de vários órgãos ligados a políticas públicas voltadas a prevenção às drogas, falou da importância de articular, prevenir e tratar do assunto, unindo forças com autoridades municipais de toda a região Sul Fluminense para conseguir criar um consórcio intermunicipal para tratar dependentes químicos e dar ênfase à temática que hoje destrói cada vez mais os lares e as vidas de muitos brasileiros.
Estiveram no A VOZ DA CIDADE, a pedagoga da Secretaria Municipal de Educação de Barra Mansa, Maria Inês Malvão; Nádia Santana, psicoterapeuta, e Elizabeth de Oliveira, secretária do Conselho Municipal Antidrogas (Comadpi); Juan Pablo, diretor de Gestão Administrativa de Porto Real; e Maicon Almeida de Oliveira, Guarda Civil e da Secretaria de Ordem Pública de Porto Real.
Eles discutem a necessidade de criar um grupo de prevenção e atuação no assunto. Assim como o Consórcio Intermunicipal de Segurança Pública do Médio Vale do Paraíba, que envolve 13 municípios do Sul Fluminense: Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Valença, Vassouras e Volta Redonda.
O objetivo, segundo César Thomé, é montar uma unidade terapêutica para dependentes químicos e conseguir reunir, por meios das prefeituras, uma forma de conseguir o montante existente no Estado, por meio de uma verba retida em Brasília de bens recuperados durante as operações da Justiça. “A demanda sobre as drogas, é muito grande. Isso engloba várias questões. O crescimento do número de usuários é constante, então é preciso cortar o mal pela raiz. É necessário prevenir que mais pessoas entrem nesse universo e que as que já entraram, consigam uma oportunidade de tirar esse vício de suas vidas”, explicou César Tomé.
Para a pedagoga Maria Inês Galvão, prevenir o uso indevido de álcool e drogas, constitui ação de inquestionável relevância nos mais diversos contextos sociais, em razão da complexibilidade da questão e dos prejuízos associados ao abuso e à dependência a essas subestâncias psicoativas.
IMPRESSIONADOS
Durante a visita ao A VOZ DA CIDADE, os representantes dos municípios vizinhos disseram que já conheciam o trabalho que vem sendo realizado pela prefeitura, por meio de suas secretarias, na conscientização, principalmente nas escolas, às drogas. Muitos, inclusive, são realizados também em seus municípios de origem. Contudo, um dos trabalhos foi muito elogiado durante o encontro, o da Ronda Escolar, formada pelas equipes da Guarda Municipal de Barra Mansa e da Polícia Militar (2° Companhia do 28° Batalhão da Polícia Militar).
Eles elogiaram o trabalho que vem sendo realizado pelo secretário de Ordem Pública de Barra Mansa, Luiz Furlani, do comandante da GM, Joel Valcir, que também é responsável pela parte operacional do Centro de Monitoramento Estratégico de Segurança Pública (Cesp), e do comandante da 2° Cia, tenente Alcimar Videira. A ideia, inclusive, é encaminhar o trabalho e começar a montar um projeto para que o mesmo seja feito nas demais cidades.
FORÇA E FOCO
O trabalho que vem sendo realizado pelo coordenador César Thomé também foi muito elogiado pelos visitantes. Ele está a frente do Compod, que fica no Parque da Cidade Natanael Geremias, desde o governo anterior, mas explica que a coordenadoria só ganhou mesmo força no governo do prefeito Rodrigo Drable (MDB). “Com a nova administração conseguimos reestruturar o Compod e ampliar mais o leque do nosso trabalho e temos mais espaço para atuar dentro e fora das escolas, levando o conhecimento, por meio de palestras, nas instituições de ensino mostrando que a vida de usuário ou traficante não é uma vida de bônus, muito diferente do que quem usa ou vende tenta insinuar para que não usa. É uma vida de ônus, solitária, de humilhação”, defende, explicando que acompanha, também o trabalho que vem sendo realizados dentro das instituições, por meio dos professores; e que acompanha as apreensões da Ronda Escolar. “Quando observo um crescimento de drogas apreendidas ou de traficantes sendo presos próximos aos colégios, eu sempre me reúno com a direção, pois se tem tráfico, tem usuário, e não podemos deixar que isso se alastre”, ponderou.
Thomé expôs para o A VOZ DA CIDADE que viveu na pele o inferno das drogas e que por isso hoje trabalha incansavelmente para que outras pessoas não passem pelo que ele já passou, nem outras famílias sofram a que a dele já sofreu. “Hoje tenho 53 anos e me lembro de que a primeira droga que experimentei foi à bebida, aos dez anos, dentro de casa, escondidos dos meus pais. Aos 13, comecei com a maconha e aos 18, com a cocaína. Fui detido várias vezes e chegava a furtar objetos de dentro de casa para sustentar meu vício”, falou, dizendo que nesse período, muitas pessoas que passaram pela vida dele, os ‘amigos’, ou morreram ou estão presos.
As drogas começaram a prejudicar César no emprego, na família, nos relacionamentos. Depois de três dias usando direto e com ameaças de overdose, ele resolveu pedir ajuda. “Foram 15 anos de sofrimento. Mas consegui me recuperar. Consegui sair dessa e digo, sem ajuda não é possível. Encontrei a ajuda de Deus, mas também tive ajuda de pessoas especializadas, que trabalham com isso. Por isso, amo o que faço e quero evitar que as pessoas tenham que ir nesse inferno para saber das consequências. Aos que já foram eles precisam de ajuda”, concluiu o coordenador do Compod, César Thomé.