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JONGO: Cultura e resistência da história dos negros podem ser resgatadas com aprendizagem da dança

Por Andre
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SUL FLUMINENSE

O jongo ou caxambu é um ritmo que teve suas origens na região africana do Congo Angola. Chegou ao Brasil colônia com os negros de origem bantu – constituem um grupo etnolinguístico localizado principalmente na África subsariana – antes, impropriamente chamada de África negra, corresponde à parte do continente africano situada ao sul do Deserto do Saara. Chamada de subsaariana por estar ao sul do Saara. É constituída de 48 estados, cujas fronteiras resultaram da descolonização -, e que engloba cerca de 400 subgrupos étnicos diferentes -, que foram trazidos para o trabalho forçado no Brasil. No Sul Fluminense, o jongo ainda resiste em algumas comunidades, mas pode ser criado um espaço para ensinamento da dança.

O jongo é, ainda hoje, bastante praticado em diversas cidades de sua região original: o Vale do Paraíba na Região Sudeste do Brasil, ao sul do estado do Rio de Janeiro e ao norte do estado de São Paulo e na região das fazendas de café em Minas Gerais, onde também é chamado “Caxambu”.

Ao falar sobre o jongo, Aldjane Prata, que é pedagoga, pós-graduada em docência, superior, pós-graduada em supervisão escolar, pós-graduanda em orientação educacional e psicopedagogia e especialista Applied Behavior Analysis (ABBA) – Análise do Comportamento Aplicada, conta que há um projeto, ainda em fase de conclusão que apresentará um espaço para aprender o jongo. E isso, segundo ela, aconteceria independente de cor, raça, crença, etnia, formação ou idade, que propõe a equidade à coletividade e a representatividade pelo entendimento que todos somos iguais. Um resgate da tradição.

“Trata-se do Projeto ‘Vem para roda’, onde buscaremos mostrar que a importância do trabalho do jongo nas escolas não só se manifesta na valorização da cultura afrodescendente, como também uma ação afirmativa no sentido de buscar a raiz, a história e todas as coisas positivas que os negros escravizados deixaram e como também, desmistificar toda uma lenda, todo encantamento que é colocado em torno desta cultura”, comentou a professora.

Ela conta que o jogo sempre deixou claro que havia uma comunicação secreta entre os escravos e que também se trabalha a educação, o respeito. “A estrutura do jongo, a fala, o ponto, deixa claro que ali havia um ‘código secreto’ que os senhores dos escravos não conseguiram decifrar. Percebe-se um processo educativo forte, o respeito aos mais velhos e a ancestralidade. Então o jongo nos dá a possibilidade de fazer uma ação afirmativa de valorizar a cultura afrodescendente, de reparar e ter uma interpretação errônea do que essa dança representa”, citou Aldjane.

A psicopedagoga disse ainda que é uma oportunidade para, além de ensinar, resgatar a cultura do jogo educando, principalmente as crianças para que tenhamos uma sociedade melhor, tanto culturalmente quanto socialmente. “Desponta a oportunidade de mostrar para as pessoas, principalmente as crianças, uma dança espetacular, cujo ritual tem como premissa ensinar, educar. Ensina também que elas tenham sabedoria, a respeitar os mais velhos, valorizar a amizade e desperta o espírito solidário, a criatividade, sabedoria. São vertentes a serem trabalhadas desde a infância até a adolescência. Destaca-se a importância de ensinar o jongo e também desse projeto tão especial que está sendo desenvolvendo como uma ação afirmativa, uma reparação e valorização da cultura legada pelos negros escravizados”, enumerou.

O jongo no estado

No Estado do Rio de Janeiro são encontrados alguns grupos que mantém viva a cultura de seus antepassados. São eles: Caxambu de Miracema; Caxambu de Pádua; Caxambu de Vassouras; Jongo da Serrinha, Madureira, Rio de Janeiro; Jongo de Arrozal, Piraí; Jongo de Barra do Piraí; Jongo de Pinheiral; Jongo de Porciúncula; Jongo do Bracuí, Angra dos Reis; Jongo do Quilombo São José da Serra – Valença.

NO SUL FLUMIENSE


O Centro de Referência de Estudo Afro do Sul Fluminense (CREASF) foi fundado em 1998, para preservar o jongo e suas tradições, patrimônio cultural imaterial tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2005. O espaço que é coordenado por Maria de Fátima da Silveira Santos, a Fatinha, uma das criadoras do Centro, recebe estudantes, professores e o público em geral com interesse pela cultura afro do Vale do Café. A casa possui uma biblioteca especializada em cultura afro-brasileira, com centenas de livros. No terreno ao fundo são realizadas as rodas de jongo. Ponto de Cultura desde 2008, o Centro também preserva a culinária típica.
Na visita a casa, é contada a história do jongo e são exibidos filmes sobre a tradição jongueira e no fim da visitação, acontece uma pequena roda de jongo no final.

A cada 15 dias, nos fins de semana, acontece a tradicional roda de jongo do grupo à noite. São mais de quatro gerações de jongueiros que descendem de escravos da Fazenda do Pinheiro, propriedade do comendador José de Souza Breves.

Atualmente o espaço está passando por uma reforma para uma melhor estruturação e catalogação de todo seu acervo.

O Centro de Referência de Estudo Afro do Sul Fluminense está localizado na Rua Bulhões de Carvalho, 146, Pinheiral – RJ. Mais informações e ainda agendamento de visitas ao local podem ser obtidas através do endereço eletrônico: [email protected].

HISTÓRIA DO JONGO

A Região Sudeste do Brasil, por causa da decadência econômica foi alvo de muitos escravizados que imigraram para ela. Em alguns momentos da história, mais da metade da população era formada por africanos a maioria de ascendência, influenciando assim de forma fundamental a cultura brasileira. Para conter a revolta e acalmar o sofrimento pela escravidão como também distrair o tédio dos brancos, os donos das fazendas permitiram que seus escravos dançassem jongo nos dias em que eram celebrados os santos da Igreja Católica. Para os negros e seus filhos, a permissão para dançar o jogo promoveu a confraternização e a harmonização.

Numa atitude educativa, só os mais velhos entravam na roda. Com rigidez ímpar com os mais novos, eles – os mais velhos exigiam muita dedicação e respeito dos mais novos para lhes fossem passado os ‘segredos’ ou ‘mirongas’ do jongo e os fundamentos de seus pontos. A ação permitida aos jovens era a observação da roda e a aprendizagem.

Os jongueiros se desafiavam na roda para disputar a sabedoria. Encantavam o outro por meio de poesia do ponto de jongo. Quem recebe o ponto tem que decifrá-lo na hora de desatar o ponto e o respondendo, caso contrário ficava amarrado sobre o efeito de um encantamento. Atualmente os encantamentos não acontecem mais.

No Brasil, tradicionalmente, dança-se o jongo no dia 13 de maio, quando é celebrada a assinatura da Lei Áurea – Abolição da Escravatura -, que decretava a libertação dos escravos, no ano de 1888, pela princesa Isabel.

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