Quando falamos que o Brasil é um país sem esportes, muitos podem pensar: “Ah, mas o Brasil é o país do futebol”. Sim, e é exatamente isso! O Brasil é apenas o país do futebol. Mas como ficam os atletas que não fazem parte do mundo do futebol, ou mesmo aqueles que não conseguem a ascensão desejada no mundo da bola? Como fica a carreira dos atletas amadores dos outros esportes coletivos, e também os atletas dos esportes individuais, que para representar sua cidade, ou até mesmo o país precisam quase que mendigar ajuda, e ainda assim, os governantes não acenam com qualquer ajuda financeira, ou mesmo um lugar digno e adequado para a preparação desses atletas ou das equipes?
Se o país não faz investimentos nas áreas da saúde ou na educação, não fará no esporte, isso é fato
(Fernando Marlos)
A cada dia que passa, a situação fica pior! É assim que podemos definir a situação do esporte educacional, social e de rendimento no Brasil. Após o fiasco do tão falado “legado olímpico”, em que instalações esportivas, novos centros de treinamentos, a falta de patrocínio e incentivo para o esporte estão cada vez mais longe do atleta brasileiro, e aliado a tudo isso, a surge à queda do país no cenário do esportivo. Atualmente muitos atletas olímpicos e de rendimento estão à mercê de apoio dos governantes e de empresários que poderiam apoiar as ações esportivas e educacionais, porém, não o fazem.
Não existe movimentação dos “líderes” e mentores de projetos para sair dos seus gabinetes em busca de recursos para as suas cidades. A região Sul Fluminense está longe de, sequer, se aproximar das cidades paulistas de Ribeirão Preto, Franca, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul que possuem altos investimentos para desenvolvimento do esporte com apoio do governo federal e das empresas instaladas na região e estão sempre figurando no cenário esportivo nacional.
Na nossa região não existe nenhuma equipe de rendimento profissional de futsal, basquete, voleibol, handebol, ginástica, atletismo ou natação. A região conta com diversas empresas, entre elas a CSN, Ambev, Vigor, Nissan e Michelin e muitas outras, de menor porte, porém em condições de oferecer algum tipo de apoio, e nenhum clube ou prefeitura se movimenta para a captação de recursos financeiros junto a elas ou ao Ministério dos Esportes, que conta com projeto específico para esse fim – Projeto Segundo Tempo – que distribui verbas para a cidade que desejar incentivar e desenvolver o esporte educacional e social.
Consultado sobre a importância do investimento no esporte nas escolas, o professor de Educação Física, especialista em Ensino de Ciências (com projetos na área de educação ambiental), Fernando Marlos, disse que promover atividades esportivas nas escolas, vai além de fornecer apenas uma bola. “Alguns acreditam que o esporte social é só fazer com que a criança ou adolescente tenham um espaço com algumas bolas para jogar. Não é só isso. O esporte social tem que oferecer aos seus alunos opções para que transformem suas vidas de alguma maneira. Tem que haver treinamentos específicos, capacitação para os profissionais de educação física, oferecer materiais de qualidade e locais adequados para os treinamentos e jogos”, pontuou o especialista, lembrando que no esporte educacional, a situação é ainda pior. “As escolas geralmente não possuem os treinamentos desportivos de cada modalidade para que as crianças e adolescentes possam estar no contraturno escolar. Fala-se tanto em escola integral. No entanto, a maioria das escolas não possui estrutura para isso, porém, se esquecem de que com o treinamento desportivo de várias modalidades já estaria ajudando. Logicamente os treinamentos iriam ajudar a escola trabalhar a socialização dos alunos, o respeito às regras, impedir a evasão escolar, estimulá-los a estudar mais, combater o sedentarismo infantil/juvenil e a, ainda, desenvolver o trabalho em equipe. Mas podemos contar nos dedos os municípios do estado do Rio de Janeiro que incentivam o esporte nas escolas. São poucos”, lamentou o professor acrescentando que os que dão esta oportunidade aos alunos dão um salto na frente. Mas para muitos realizar treinamento na escola é apenas gastos aos cofres públicos. Esquecem que seria um investimento enorme que, no futuro, geraria uma economia aos cofres públicos. “Quando se ocupa a mente dos jovens com atividades prazerosas, como por exemplo, o esporte, a tendência é de que eles não corram para o caminho errado, ao uso de drogas, sedentarismo, sexo precoce, entrar no mundo das drogas. E o governo federal, junto com os governos estaduais e municipais irão economizar muito com pílulas anticoncepcionais, cadeias públicas e reformatórios”, exemplificou Fernando Marlos.
Ele citou, ainda, que no Brasil, para alguns governantes, quanto pior, melhor para eles. “Se o país não faz investimentos nas áreas da saúde ou na educação, não fará no esporte, isso é fato. Existem alguns gestores com inteligência suficiente para entender que o esporte pode salvar vidas e realizar a inclusão social. Quantos atletas brasileiros não saíram dos projetos sociais e educacionais? E para esses gestores que incentivam e acreditam que continuem a incentivar o esporte de rendimento, social e educacional. O Brasil precisa mudar, e para que isso possa acontecer, é necessário um apoio maior ao esporte”, comentou.
Por conta da falta de projeto, em que os governos municipais possam captar recursos junto ao governo federal, constantemente o A VOZ DA CIDADE tem veiculado matérias com pedido de ajuda de atletas e de equipes de diversas modalidades, para que possam disputar alguma competição representando suas cidades ou até mesmo o país. No mês de julho desse ano, a equipe juvenil de futebol americano, o Volta Redonda Falcons, iniciou uma campanha pelas redes sociais em busca de um patrocínio de R$ 2 mil, para arcar com transporte e inscrição em um torneio 7 x 7, na categoria Flag, uma das variáveis do futebol americano, que aconteceu no dia 5 de agosto, em São Paulo. Mesmo com a ampla divulgação, com a venda de rifas e algumas poucas doações, o grupo não conseguiu arrecadar o valor pretendido, e mesmo assim, o grupo viajou. Com o pouco que foi arrecadado nas campanhas, foi o suficiente para ser utilizado na alimentação do grupo que foi até São Paulo e ainda teve dois atletas como destaque da competição. Jordan Fromholz, que atuou no ataque e na defesa e Yuri da Silva que jogou na defesa, liderando a equipe nas interceptações. Já as despesas com o transporte e a inscrição na competição foram divididas entre os próprios atletas e seus familiares.
Mesmo com tantas dificuldades, com poucos recursos financeiros, e realizando seus treinamentos, sempre no fim da noite, início da madrugada, a equipe principal dos Falcons, que apenas a partir desse ano, conseguiu um patrocinador máster, a Chicken in House, conseguiu a façanha de ser a primeira equipe do Sul Fluminense de futebol americano a chegar aos playoffs da Liga Nacional, disputando de igual para igual com os grandes da modalidade no país. Entre eles o Fluminense Guerreiros, Botafogo Challengers, Palmeiras Locomotives, Ponte Preta Gorilas, e o São José do Rio Preto Weiler, que no último domingo, dia 8, venceu a equipe da Cidade do Aço e a eliminou da competição nacional. Paralelamente, a disputa da competição nacional, os Guerreiros da Curva do Rio, disputavam a Liga Estadual, e também, com muita dedicação conquistaram uma das vagas para os playoffs da competição.
Outro caso, também divulgado pelo A VOZ DA CIDADE, é o da ginasta barra-mansense, Bárbara Bock, que no último mês de julho, ao participar do Campeonato Brasileiro de Trampolim, realizado em Ouro Preto (MG), ela garantiu vaga para o Mundial Age Group, da modalidade, que acontecerá em Sófia, na Bulgária entre os dias 9 e 12 de novembro desse ano. E devido à crise econômica, que assola os municípios do estado do Rio, a Prefeitura de Piraí, que mantém a escola de ginastica a qual a atletas faz parte, está impossibilitada de arcar com as despesas da viagem, que beira os R$ 10 mil. E para que a jovem possa participar da competição, sua família, com a ajuda de muitos amigos está realizando almoços, vendendo rifas, promovendo a chamada “vaquinha virtual” para arcar com os custos da viagem da jovem atleta para a Bulgária.
E mesmo com toda a correria para conseguir os valores necessários para arcar com as despesas, a atleta segue sua rotina de estudos, treinamentos e competição. Bárbara Bock, conquistou o Campeonato Brasileiro no Duplo Mini Trampolim, na categoria Junior. A competição foi realizada em Goiânia (GO), entre os dias 14 e 15 de outubro.
A situação do país é complicada, porém o Ministério dos Esportes conta com verba própria para esses e outros projetos, que possibilita a participação de atletas de rendimento nas mais diversas competições em nível regional, nacional e até mesmo internacional, e para que essa verba chegue até os atletas, é necessário que os governantes apresentem os projetos que pretendem desenvolver em suas cidades para que ele seja analisado visando à liberação desses recursos.