O Setembro Amarelo é um movimento internacional da prevenção contra o suicídio. O Posto de Atendimento do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Resende está intensificando neste mês uma campanha de panfletagem e de palestras com um objetivo de conscientizar e alertar as pessoas sobre a valorização da vida, além de fazer uma reflexão sobre o assunto.
De acordo com o Ministério da Saúde, o suicídio é considerado um problema de saúde pública, pois acaba tirando a vida de uma pessoa em menos de uma hora no Brasil; sendo que neste mesmo espaço de tempo outras três tentaram se matar sem sucesso. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 32 pessoas se suicidam por dia no Brasil, ou uma a cada 45 minutos, o que faz do país o oitavo com mais suicídios do planeta.
Segundo a OMS, esta é a segunda maior causa de mortes evitáveis de jovens em todo o mundo, atrás apenas de acidentes de trânsito, e superando as vítimas de HIV ou da violência. De acordo com o Mapa da Violência, entre 2002 e 2012, o total de suicídios passou de 7.726 para 10.321; representando um aumento de 33,6% – o triplo da taxa de crescimento da população, que ficou em 11,1%. A taxa é de 5,3 casos para cada 100 mil habitantes. O índice também fica acima do aumento nas taxas das outras principais formas de mortes violentas no mesmo período, como homicídios (2,1%) e acidentes de trânsito (24,5%).
CALAMIDADE MUNDIAL
No dia 10 de setembro foi celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A data tem o objetivo de alertar a população a respeito desta realidade do suicídio no Brasil e no mundo e quais as suas formas de prevenção. Com este intuito, o Posto de Atendimento do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Resende intensificou a campanha de panfletagem e de palestras em toda a cidade. “Este mês estamos realizando a campanha Setembro Amarelo aqui em Resende visando à prevenção do suicídio. A nossa proposta é de acabar com o tabu que existe sobre o assunto que é considerado proibido entre as pessoas. Temos que conscientizar a população que o suicídio é uma calamidade mundial e atinge todas as classes sociais sem distinção”, disse o coordenador do Posto do CVV Resende, Orlando da Silva Paulo, informando que a panfletagem foi mais intensificada no último dia 10, no Parque das Águas, no bairro Jardim Jalisco. “Aproveitamos a data para distribuir a cartilha que explica o que é o suicídio e as pessoas que são propensas em tirar a própria vida. Também promovemos palestras para falar sobre a prevenção do suicídio. Existe uma forma de prevenir que uma pessoa cometa o suicídio. Basta apenas valorizar o cidadão, respeitando-o como ser humano, fazendo o acolhimento e dando atenção”, completa.
Autodestruição
O coordenador salientou que o suicídio é um gesto de autodestruição e deve ser debatido. “Temos que falar sobre o assunto suicídio para mostrar que este mal existe. A depressão é um dos principais fatores que leva uma pessoa a tirar a própria vida. A conversa de uma pessoa com a outra é fundamental para que seja evitado o suicídio. O suicida não quer morrer. Ele quer fugir da situação. Às vezes o desespero é tanto que ele só vê na morte a única solução. Por isso, é importante ele desabafar o que está sentindo”, destaca Paulo. Ele lembra que o CVV veio para que a pessoa que está pensando em cometer um ato de tirar a vida tenha um local onde ela possa conversar sem se identificar. “Aqui nos só ouvimos e deixamos as pessoas desabafarem. Nós não interferimos na vida da pessoa dando algum tipo de conselho. Prestamos um serviço voluntário e gratuito de apoio emocional para as pessoas que querem e precisam conversar. Temos o total sigilo. Nem queremos saber a identificação da pessoa. Nós voluntários não damos ‘pitacos’ durante os atendimentos. Costumo dizer que ouvimos mais do que falamos”, explicou Orlando, lembrando que a cada dez suicídios oito poderiam ser evitados. “Basta uma conversa para mudar a estatística e iluminar aquilo que assombra a outra pessoa” .
ATENDIMENTO
A sede do CVV Resende está localizada em um anexo na Rua Jornalista Ademar Vieira, no prédio onde funcionava o antigo Asilo Nicolino Gulhot, no Centro Histórico de Resende. O atendimento diário é feito pelo telefone 3360-9685 ou 141, no período das 7h às 11horas.
Atualmente o Posto de Atendimento do CVV Resende atende mensalmente100 atendimentos. Segundo o coordenador do Posto, Orlando da Silva Paulo, a falta de voluntários não tem contribuído para a ampliação do horário de atendimento. “Ainda não estamos fazendo o atendimento de 24 horas diário. Esbarrando na falta de voluntários para fechar o quadro de atendimento. Hoje temos 19 voluntários que fazem atendimento fixo de segunda-feira a domingo de 7h às 11 horas”, disse o coordenador, informando que para ampliar o atendimento gratuito de apoio emocional, procurando valorizar a vida e prevenindo o suicídio para 24 horas seriam necessário 42 voluntários. “Com este número de voluntários teríamos condições de o CVV Resende funcionar 24 horas ininterruptas. No entanto, estamos funcionando com menos da metade do número ideal de atendentes o que possibilita apenas o atendimento diário de por quatro horas. Para ser voluntário tem que ter disponibilidade e coração para atender o próximo”, desabafa Paulo, que é voluntário desde 2005. “Vi um cartaz pedindo voluntários e por ser criado dentro de uma filosofia de ajudar o próximo, resolvi procurar o CVV Resende para ver no que podia ajudar. Estou aqui, contribuindo um pouquinho para tentar salvar uma vida”, completa.
CURSO DE VOLUNTARIADO
O coordenador explica ainda que anualmente, o CVV Resende realiza curso de voluntariado. “Por ano nos costumamos promover dois treinamentos, um em março e outro em agosto. Agora mesmo, estamos na terceira semana do curso de voluntariado”, conta Orlando, que antes de participar do treinamento, o voluntário participa de palestras para conhecer toda a filosofia do CVV. “Explicamos como é feito o trabalho de atendimento no CVV. Neste curso, quem se identifica a ser voluntário,aceita a participar do treinamento. A partir daí, inicia o curso de plantonista do CVV que é realizado em aproximadamente sete encontros. Após é feito o treinamento do novo plantonista”, explica.
Quem quiser ser um voluntário do CVV tem que ser maior de 18 anos, alfabetizado, ter boa vontade para o trabalho voluntário, ter disponibilidade de tempo, identificar-se com a filosofia do trabalho e participar do curso de seleção e capacitação de voluntários. “Não precisa ter escolaridade para ser um voluntário do CVV. Queremos pessoas que tenham sensibilidade em ajudar o próximo, ouvindo-o”, informa Orlando, acrescentando que todos os voluntários sempre passam pornovos treinamentos e cursos, além de participarem de palestras com psicólogos.
CVV Resende funcionando há 17 anos
Este ano, o Posto de Atendimento do Centro de Valorização da Vida completou 17 anos de funcionamento em Resende . Ele foi implantado em Resende em abril de 2.000 pelos fundadores Cláudio Machado e Valdemir Freitas que sentiram a necessidade de cuidar do emocional das pessoas com o objetivo de prevenir o suicídio. O atendimento é feito pelos números 3360-9685 (Resende e região), além do telefone 141, o CVV também pelo site www.cvv.org.br
De acordo com Orlando, o CVV recebe ligações não só de Resende como de outras cidades e até estados. “As pessoas ligam de todas as cidades e estados do país e de classes sociais. Recebemos ligações de ricos e pobres, crianças e adultos. Hoje em dia todo mundo tem problemas para tentar resolver. Já recebemos ligações de uma criança de seis anos, querendo conversar sobre seus problemas”, contou o coordenador, lembrando que o maior número de atendimentos ocorre em datas festivas como Dias dos Pais, das Mães, Natal e ano Novo. “Nestas datas os números de telefonemas crescem cerca de 40%”, informa.
A aposentada Sônia Maria da Silva, 59 anos, é uma das voluntária do Posto de Atendimento. Ela está na entidade há dois anos. Atualmente, ela é plantonista. “Já tinha ouvido falar do CVV há algum tempo e sempre chamava minha atenção este tipo de trabalho de ajudar as pessoas. Há quase dois anos eu resolvi me apresentar como voluntária e ver no que eu poderia ajudar. Queria doar um pouco do meu tempo para quem está precisando de uma ajuda emocional. Fiz a capacitação, os estágios e há cerca de um ano estou como plantonista de atendimento do CVV Resende”, conta a aposentada, que também foi motivada para ajudar no atendimento o anonimato. “Não existe a identificação do voluntário e muito menos de quem está ligando para procurar atendimento”, destaca Sônia que neste período de atendimento, o caso mais inusitado e que mais chamou sua atenção foi de uma pessoa que estava próxima de tentar contra a própria vida.