De volta ao local onde sua história começou. Esse é o sentimento expressado pelo historiador e presidente do Arquivo Histórico de Resende, Claudionor Rosa, ao falar sobre o retorno da Biblioteca Municipal, também conhecida como Biblioteca Pública Dr. Jandyr César Sampaio, que no último dia 6 de junho, passou a funcionar no seu primeiro endereço como há 70 anos.
O imóvel está situado na Praça do Centenário, número 37, no Centro Histórico de Resende, local cercado de construções que contam o passado da cidade. “A Praça do Centenário é um local cheio de simbolismo históricos tristes e alegres para Resende. Era o local onde os escravos eram açoitados no período da escravidão. Mas também foi local de recepção à Princesa Isabel, durante sua passagem pela região do Vale do Paraíba”, conta Claudionor.
A Biblioteca foi fundada em 22 de agosto 1948 e teve como primeira diretora, a educadora Wanda Brasil Sampaio. A sua inauguração fez parte da programação festiva do primeiro Centenário de Resende. O Arquivo Histórico possui, inclusive, um cartaz da época com toda a programação que durou uma semana. Outra curiosidade deste evento é que a comissão organizadora era presidida pelo prefeito da época, Geraldo da Cunha Rodrigues, representando o Executivo e pelos vereadores João dos Santos Viana, Elmio Guimarães e Graciema Silveira Cotrim, pelo Legislativo. Graciema era, até então, a primeira mulher eleita para a Câmara de Vereadores de Resende.
Em 1964, o espaço de pesquisa para estudantes e professores e apreciadores da boa leitura passou a se chamar Biblioteca Pública Dr. Jandyr César Sampaio, uma homenagem a um reconhecido juiz de direito e escritor que atuou na cidade, que havia falecido no ano anterior.
A reportagem não conseguiu informações do ano e os motivos que levaram a Biblioteca Pública a deixar o endereço na Praça do Centenário. Mas após sua saída da primeira sede, ocupou pelos menos mais três endereços diferentes, sempre bastante frequentado por um público que buscavam conhecimento por meio do seu acervo de mais de 20 mil títulos entre livros didáticos, técnicos e de literatura adulta e infantil. .
PASSADO E FUTURO
Tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal, no retorno a sua sede original e tendo ao seu redor a rica história de Resende representada por prédios e monumentos antigos, a Biblioteca Pública Dr. Jandyr César Sampaio busca agora adaptar esse passado a modernidade dos dias atuais. Para isso, o local passou por obras mas sempre mantendo as suas características arquitetônicas originas. Foram trocados todo o sistema elétrico, construído rampa de acesso e a adequação da área interna, com a criação de um espaço infantil com palco, destinado à contação de histórias. Além disso, acompanhando os tempos modernos, o espaço também foi dotado de área específica para consultas e pesquisas via wi-fi. Além de uma sala de leitura ampla e com bom sistema de ventilação e iluminação, a Biblioteca disponibiliza quatro computadores onde o público pode recorrer a pesquisas.
De acordo com a coordenadora da Biblioteca, Mônica Carelli, para o futuro há um estudo para diversificar os serviços a serem oferecidos ao público. Uma delas é a criação de uma videoteca para onde escolas poderão utilizar como videoaulas de assuntos variados. Também está em estudo a implantação de um acervo de livros digitais que irá ampliar a gama de títulos a serem oferecidos ao público. “Também queremos levar os serviços da Biblioteca para fora de seu espaço físico aproveitando, por exemplo, a Praça do Centenário para atividades externas de incentivo a leitura como a Árvore do Saber, voltado ao público infanto-juvenil e a realização de saraus literários”, explica a Mônica, que disse ainda que a nova sede também abrirá espaço para que escritores façam o lançamento de suas obras literárias.
O horário de funcionamento da Biblioteca será de segunda a sexta-feira, das 8 às 19 horas.
PRAÇA DO CENTENÁRIO
Além da nova sede, a própria Praça do Centenário passou por uma revitalização onde foram trocados o piso, construídas rampas de acesso para deficientes, as calçadas foram refeitas, os bancos foram reformados e foram instalados novas lixeiras.
No livro “Resende 1801-2001: Crônica dos Duzentos anos”, elaborado pela Academia Resendense de História (Ardhis), conta um pouco dos acontecimentos que teve a Praça do Centenário como cenário: “Chamava-se Largo da Cadeia pois ali funcionou a Cadeia Pública até 1956. No centro da Praça levantava-se o pelourinho, onde eram amarrados os escravos faltosos condenados à pena de açoite. Em 1869 passou a denominar-se largo da Constituição, embora o juramento da Carta Magna outorgada por D. Pedro I não tenha sido prestado neste local e sim na Câmara Municipal. Após a comemoração dos Cem anos de Resende (1901) foi rebatizada para Praça do Centenário”. Em outro trecho diz: “Essa praça foi palco de grandes acontecimentos: dali partiu a notícia da abdicação de D. Pedro I. Durante a Guerra do Paraguai ali se festejava cada vitória de nossas armas. A Abolição da Escravidão também foi comemorada nessa praça por três noites consecutivas”.
Para o presidente o Arquivo Histórico de Resende, a Praça do Centenário carrega uma carga histórica de grande relevância para entender a histórica de Resende. “Costumo dizer que a Praça Oliveira Botelho, onde fica a igreja Matriz é o nosso espaço lúdico e de manifestações religiosas. Já a Praça do Centenário praticamente presenciou todos os acontecimentos que ajudaram a moldar a Resende de hoje”, afirmou o historiador.