De acordo com o dicionário Aurélio ter ciúmes é ‘receio ou despeito de certos afetos alheios não serem exclusivamente para nós; inveja’.
O ciúme é um sentimento que aparece em maior ou menor grau em todos os relacionamentos. Ele tem sua origem no medo de perder a pessoa que amamos. Pode-se dizer que na maior parte das vezes é normal. No entanto, quando o ciúme é desproporcional, aparece constantemente ou é infundado, torna-se obsessivo? Esse tipo de ciúmes está mais relacionado à necessidade de controle e desconfiança do amor.
Todo mundo já ficou com ciúmes em algum momento de sua vida, mas quando isso se torna patológico, fora de controle, há um problema real que pode ser considerado um transtorno obsessivo. Nestes casos, o pensamento sobre uma possível infidelidade por parte do parceiro se torna recorrente, invade totalmente a mente da pessoa ciumenta e ela passa a viver com um contínuo sofrimento e dúvida.
De acordo com a psicóloga Betânia Pires Mangelli, existe sim, uma dose normal para o ciúme. “É o medo de perder alguém ou a relação, o ciúme normal acontece quando há um motivo, um fato real. Já o ciúme patológico pode afetar as relações, é a preocupação irracional e sem contexto, sem fato real, a pessoa tem obsessão pelo par, sente-se ameaçada, a pessoa é insegura e controladora. O sentimento em excesso afeta qualquer relação seja amorosa ou de amizade. As duas pessoas sofrem, quem está do outro lado vive sendo cobrado, enclausurado, com medo de seus atos, está sob pressão e constante desconfiança. Nenhum dos dois consegue aproveitar momentos sadios, pois estão em constante pressão. É bom lembrar, que atualmente, o ciúme é um dos maiores motivos de homicídios contra mulheres”, citou.
Uma dona de casa que preferiu não se identificar sofre com suas crises de ciúmes e já foi protagonista de diversas cenas e ‘barracos’. “Não sei de onde sai tanto ciúme, tenho ciúmes de pai, mãe, marido, cachorro, amizade e até de bens materiais. Desde criança tenho esse apego pelo o que é meu. Já briguei com prima do meu pai por ciúmes dele, pois achei que estava intima de mais. Outra vez me falaram que um ex-namorado estava numa festa com outra. Não pensei duas vezes, fui lá e fiz aquela cena, bati, e arrastei ele pela rua até chegar em casa”, relembra.
Ela disse que não procurou ajuda médica, mas fez uma reflexão e hoje está mais controlada. “Tento ser cada dia melhor, é um sentimento desgastante. Refleti é um sentimento ruim, por que às vezes, nada está acontecendo e a mente acha que está. Posso dizer que hoje tenho ciúmes moderado”, destaca.
Perguntada sobre seu nível de ciúmes, a estudante Luana Gomes diz que de 0 a 10, ela é 11. “Sou uma pessoa muito carente, aí se eu vejo uma amiga minha ou familiar se relacionando com alguém, acho que vou perder essa pessoa e isso me causa ciúmes. Às vezes fico possessiva e acaba atrapalhando as relações, já que tem gente que não gosta e isso acaba em briga. Acabo demonstrando meu descontentamento ficando mais fria com a pessoa, ignorando”, citou, acrescentando que nunca fez cenas de ciúmes.
Por outras questões, a estudante está em tratamento psicológico e o ciúme acaba sendo tratado também. “Já melhorei bastante, era muito mais ciumenta, mudei porque tem gente que não merece nosso ciúme. Eu tenho isso, não faço por mal, porque eu me apego muito nas minhas amizades”, destaca.
Quando se torna perigoso
Um parceiro ciumento pode começar a acusar o seu parceiro de dormir com outras pessoas e pode enviar e-mails ou cartas para amigos, familiares ou empregadores que façam acusações explícitas, com detalhes constrangedores e humilhantes.
Esses indivíduos podem se tornar perigosos porque acreditam em suas acusações com convicção absoluta e estão além da razão. Ameaças e atos de violência podem ocorrer. Normalmente, esse comportamento levará ao fim do relacionamento, bem como ordens de restrição e outras tentativas de impedir o crescente assédio. Nos piores cenários, pode acabar em violência, pois os indivíduos psicóticos podem prejudicar ou matar aqueles que acreditam estar agindo contra eles. Em suas mentes, isso seria homicídio justificável.
Tratamento
De acordo com a psicóloga é essencial procurar ajuda profissional, não apenas para salvar o relacionamento, mas para superar definitivamente a desordem. Mesmo que no futuro um novo relacionamento comece, o problema ainda estará lá. “Caso a pessoa perceba que a situação esteja saindo do controle e colocando vidas em risco é preciso procurar ajuda psicológica, o ciúme patológico é considerado transtorno, caso necessário, pode ser encaminhado para psiquiatra para tratamento medicamentoso”, avalia.
Para obter ajuda com o ciúme patológico, é essencial entrar em contato com um psicólogo, um psiquiatra ou até mesmo um sexólogo. Em alguns casos, uma terapia que inclua ambos os membros do casal pode oferecer grandes benefícios. Um profissional de saúde poderá fazer uma avaliação completa para determinar as causas e, assim, indicar o melhor tratamento.
Ciúmes saudáveis x ciúmes patológicos
Os ciúmes saudáveis são aqueles em que a preocupação ou medo de perder a pessoa amada não nos faz perder nossa capacidade de raciocinar. Podemos sentir alguma preocupação, mas isso não faz perder a nossa mente ou nos leva a tirar conclusões irracionais ou até mesmo imaginar situações inexistentes. A pessoa que sente ciúme saudável quer que seu parceiro fique ao seu lado, mas não tentará controlá-lo. Além disso, esse ciúme não causa desconforto no parceiro nem afeta seriamente o relacionamento.
No entanto, o ciúme patológico vai um passo além, a tal ponto que pode ser classificado como um distúrbio. Esse tipo de ciúmes é infundado e pode obcecar a pessoa que sofre, tornando-se o centro em torno do qual seu mundo gira. Como resultado, eles têm um impacto negativo em seu comportamento e geram hostilidade, autopiedade e profunda insegurança.
Características
O ciúme quando obsessivo tem como característica fundamental a dúvida permanente e é baseado em suposições (na maioria das vezes absurdas, raciocínio ilógicos) e nenhuma evidência, porque se existissem elementos de prova deixaria de ser patológico. Como exemplo, poderíamos falar sobre o marido que sofre e faz sua esposa sofrer pelo simples fato de que ela se maquia ao sair de casa. O marido questiona o motivo da maquiagem: “Se ela não está usando maquiagem em casa, por que ela deveria fazer quando sai de casa? Os outros não devem importar, só eu tenho que ser o mais importante para ela. Pelo visto não é assim, porque se eu fosse o mais importante, ela não estaria se enfeitando toda vez que saísse de casa…”. Esses pensamentos são absurdos, irracionais e sem lógica.
A pessoa que experimenta ciúme obsessivo chega a exigir que seu parceiro não se envolva emocionalmente com ninguém, nem mesmo com seus amigos. Para evitar que isso aconteça, ele se dedica a observar cada um dos movimentos do parceiro até mesmo impondo regras absurdas. Essa pressão constante acaba se tornando uma bomba-relógio para o relacionamento porque a outra pessoa se sente presa e sufocada.
Sintomas do ciúme obsessivo
A pessoa que sofre com o ciúme obsessivo nem sempre está ciente de seu problema, geralmente pensa que suas atitudes são normais. No entanto, o primeiro passo para superar a doença é reconhecer sua existência. Veja aqui alguns dos principais sintomas:
– Medo excessivo de perder a pessoa amada, a ponto de se sentir mal;
– Pensamentos de traição;
– Analisa meticulosamente o comportamento do parceiro procurando sinais que confirmem uma possível infidelidade;
– Violação de privacidade como por exemplo, olhar para as mensagens ou e-mails do celular sem permissão;
– Controlar em excesso o dia a dia do parceiro;
– Ódio dos amigos e colegas do parceiro;
– Ciúmes sem base real, baseado em situações imaginárias ou conclusões tiradas de pequenos detalhes;
– O ciúme afeta a vida do ciumento a ponto de não poder dormir ou sofrer quando a pessoa amada não está ao lado;
– O pensamento de uma possível infidelidade ou abandono impede que viva plenamente;
– Busca de pistas que revelem uma possível traição;
– Ligações e mensagens frequentes para descobrir o que o outro está fazendo; Quando não responde, imagina que está traindo com outra pessoa;
– Quais são as causas do ciúme obsessivo?
Dicas
Se você for um ciumento obsessivo, não se deixe obedecer aos pensamentos ciumentos: deixar-se levar pela euforia do momento é o estopim que aciona toda a lista de atitudes “loucas” que uma pessoa pode fazer. Se algum pensamento negativo cruzar sua mente, pare e não aja se você não tiver 100% de certeza.
– Confesse: direta e diretamente, discuta o assunto com seu parceiro. Não vale a pena admitir para si mesmo se você continuar a negar aos outros. – Revele seus verdadeiros sentimentos e converse sobre o que está te angustiando: o que esperar de seu parceiro, os planos para o futuro próximo e distante. Isso fará com que você se sinta mais confiante sobre o que pode acontecer e seus sentimentos.
– Extravase sua ansiedade através de outras atividades: ciúme é também um sinal de estresse, ansiedade e atividade. Use essa energia para fazer as coisas que você gosta, praticar um novo hobby, manter-se ocupado e trabalhar para sua projeção como pessoa, tanto no profissional quanto no trabalho.
– Estabeleça limites: reconheça junto com seu namorado/marido quais são as coisas que o incomodam e se tantas objeções realmente têm justificativa. Depois de determinar os limites, esteja aberta ao que ele lhe pede.
– Não peça explicações desnecessárias e pare de questioná-los por tudo que fazem. Compartilhe, fale sobre o seu dia, mas não peça cada detalhe para saber um pouco mais.
– Pedir um tempo: não tenha medo desta palavra. Um tempo separado não significa acabar para sempre o relacionamento. Estar sozinho não apenas refresca o relacionamento, ele permite que você analise as consequências de suas ações e veja se você exagerou ou não em certas situações.