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Adolescência na era digital: entre likes, expectativas e o sofrimento silencioso

Por Andre
marcele campos
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A adolescência sempre foi um período de descobertas, conflitos e transformações, mas nunca antes os jovens estiveram tão expostos a influências externas como na era digital. A minissérie Adolescência, da Netflix, escancara uma realidade que muitos pais e educadores ainda hesitam em enxergar: o impacto das redes sociais na formação emocional dos adolescentes. Se, por um lado, o ambiente digital oferece conexão e pertencimento, por outro, é também um terreno fértil para comparações destrutivas, cyberbullying e consumo de conteúdos tóxicos que moldam a forma como os jovens enxergam a si mesmos e ao mundo.

Do ponto de vista da neurociência, o cérebro adolescente ainda está em desenvolvimento. A região responsável pelo controle emocional e pelo pensamento crítico, o córtex pré-frontal, só atinge a maturidade plena por volta dos 25 anos. Já o sistema límbico, que regula as emoções e a busca por recompensas, é altamente ativo nessa fase. Isso explica por que os adolescentes são tão suscetíveis às redes sociais: curtidas, comentários e seguidores ativam os mesmos circuitos de prazer que alimentos ou substâncias viciantes, criando uma dependência emocional e da validação externa.

Mas o que acontece quando essa validação nunca vem, ou quando a exposição gera sofrimento? Muitos adolescentes internalizam padrões irreais de beleza, sucesso e felicidade, criando um abismo entre quem são e quem sentem que deveriam ser. A sensação de inadequação, intensificada pelo contato constante com vidas “perfeitas” nas redes, pode levar a quadros de ansiedade, depressão e baixa autoestima. Para um cérebro ainda em formação, lidar com essas emoções sem o suporte adequado pode ser devastador.

É preciso lembrar que o sofrimento na adolescência tem características próprias. Diferente dos adultos, que já desenvolveram mecanismos mais sofisticados de autorregulação emocional, os jovens sentem tudo de forma intensa e, muitas vezes, não conseguem nomear ou processar suas dores. O isolamento, a irritabilidade e as mudanças bruscas de humor são, muitas vezes, pedidos de ajuda disfarçados. Infelizmente, em muitos lares, essas manifestações são vistas como “rebeldia” ou “drama”, o que só agrava o sentimento de solidão e incompreensão.

O papel dos pais e educadores não é demonizar a internet, mas mediar o contato dos jovens com o mundo digital, ajudando-os a desenvolver um olhar crítico sobre o que consomem e como isso impacta sua autoimagem e bem-estar. Monitoramento não é invasão de privacidade – é proteção. Estabelecer limites para o uso de telas, incentivar momentos de conexão offline e, principalmente, criar um espaço seguro para o diálogo são medidas essenciais para ajudar os adolescentes a elaborarem seus sentimentos de maneira saudável.


Se queremos jovens mais resilientes e emocionalmente saudáveis, precisamos estar dispostos a enxergar sua dor sem minimizá-la, a oferecer acolhimento sem superproteção e a guiá-los sem controle excessivo. A adolescência já é um período desafiador por si só – não podemos deixar que a solidão digital agrave ainda mais esse percurso. O sofrimento dos nossos jovens não pode ser ignorado.

A pergunta que fica é: estamos realmente ouvindo o que eles têm a dizer?

E a responsabilidade sobre a saúde metal dos nossos jovens é minha, sua e de todos nós!

Vamos juntos!

Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.

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