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Como as pessoas passam pela fase mais difícil da vida?

Por Franciele Aleixo
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BARRA MANSA

FRANCIELE ALEIXO

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Perder alguém significativo nunca é fácil. Geralmente, a falta física vem acompanhada de muito sofrimento, medo e até culpa; sentimentos que podem desequilibrar a rotina de qualquer pessoa. O luto, não é exclusivo de momentos de morte de pessoas próximas: Ele acontece, principalmente, no dia a dia, quando a falta do ente querido se faz ainda mais presente. Ficar confuso, triste e abatido a partir é um processo normal e, até esperado, de reação frente a uma situação difícil.

De acordo com a psicóloga Betânia Pires Mangelli, o ser humano não sabe lidar com o desconhecido, com o novo, e isso, gera impacto. “Com a morte não é diferente. O luto é um estado de profunda tristeza, negação, onde nada tem sentido nessa fase da vida, onde tudo parece ser um grande vazio. Luto é normal, aceitável e saudável. O contrário que é preocupante, a morte é aceitável”, destaca Betânia.

De acordo com a psicóloga, o luto não tem prazo de validade, cada pessoa reage de forma diferente. “Quando o luto se estende por um período muito longo ou impede a realização de atividades cotidianas como trabalhar, sair de casa, não ter mais convivência social, ai sim, pode virar patologia, e há a necessidade de procurar uma ajuda profissional. Cada um tem seu tempo, ninguém reage da mesma forma ou tem os mesmos sentimentos, cada um tem sua percepção, não se pode comparar as pessoas”, destaca.

A família é ponto primordial para ajudar o individuo a passar pelo luto. “Diálogo é importante, falar das coisas boas na questão da saudade. Se o familiar perceber que a rotina foi alterada é indicado procurar o psicólogo. Luto é um processo, atividades físicas, sociais são boas para mudar o foco, diminuir o pensamento daquilo que tanto causa sofrimento”, citou, acrescentando que os psicólogos tem um estudo que classifica o luto em cinco etapas.

De acordo com a psicóloga o luto não tem prazo de validade, cada pessoa reage de forma diferente

 

FASES DO LUTO

Negação

A dor e o sofrimento da perda é insuportável a ponto de ser entendido pela pessoa como algo irreal, ou seja, não é possível admitir a morte.

Raiva

É comum o seguinte pensamento ‘por que a mim?’ ou ‘por que comigo?’. Surgem sentimentos de raiva e até ódio. Uma fase conflituosa e bastante agitada por conta da mistura de inúmeros sentimentos negativos.

Negociação ou barganha

Surge quando a pessoa passa a cogitar e reconhecer a perda. Diante disso, surgem as tentativas de negociar, na maioria das vezes com Deus, para que esta não seja verdade.


Depressão

Acontece quando o indivíduo toma consciência, de fato, da perda, e, portanto, da ausência do outro que se foi.

Aceitação

Esta fase é quando a pessoa aceita a perda, conforma-se com a morte de maneira serena, sem desespero e menos conflitiva. A tendência é que nesta fase, a pessoa consiga preencher as lacunas e ‘buracos emocionais’ deixados pela pessoa que morreu.

“A duração das fases é muito relativa e depende de como a pessoa vivencia o luto. O processo é muito pessoal e não se tem uma precisão ou um padrão de duração das fases. O que se sabe é que da fase de depressão para a aceitação leva-se mais tempo, justamente porque requer uma conscientização e uma reflexão mais aprofundada e elaborada da pessoa”, aponta Betânia.

 

 

‘A gente nunca deveria ver partir aquele que vimos nascer’

No dia 17 de outubro de 2017 a Relações Públicas Lívia Nitole viu seu mundo cair. Sua filha Alice Nitole faleceu por conta de um aneurisma de tronco encefálico. A menina estava em consulta médica quando tudo aconteceu. “Alice era um sonho para mim, foi planejada, aguardada e sonhada. Após algumas tentativas, em 2014 consegui engravidar, ela nasceu totalmente saudável, era uma criança animada, alegre, adorava uma foto, sempre com sorriso aberto. Dedicava 24 horas a ela, fazíamos exames regulares, sempre com bons resultados. Certo dia, uma quarta-feira ela estava com sinais de gripe, tomou antibióticos, e já estava com uma consulta no otorrino marcada para terça-feira, já sem os tais sinais de gripe. O dia estava lindo, mas ao mesmo tempo estranho. Meu coração sabia que algo estava errado. Fomos ao médico, e como, ia demorar para ser atendida, Alice quis sair para comprar chocolates para a professora da creche. Compramos e voltamos ao consultório, onde ela dormiu no meu colo, assistindo vídeos no celular. Notei que ela começou a resmungar, parecia que estava tendo pesadelos, ficou inquieta mas não acordava. O otorrino realizou os primeiros socorros, chamamos o Samu e ela foi levada a Santa Casa. No final da noite veio a notícia do falecimento. Fizemos autópsia e a causa foi a ruptura de um aneurisma. Não tem explicação, ela nunca havia reclamado de nada”, relembra Lívia.

Alice faleceu em decorrer da ruptura de um aneurisma de tronco encefálico

O sentimento de gratidão tem marcado os dias de Lívia e do marido Wellington. A rotina está aos poucos, voltando. “Sou grata ao médico, a todos que atenderam e cuidaram da Alice. Nossa tendência é culpar alguém, mas não existe algo para culpar. Claro, penso todos os dias que poderia ter pedido alguma tomografia nesses exames de rotina, mas quem vai imaginar? Ela não apresentava sinais. Não foi e não tem sido fácil. Por muito menos as pessoas se entregam a depressão, se estou de pé, é porque tenho fé. Choro, questiono Deus. Mas se Ele me desse a opção de viver outros 3,8 anos com Alice, eu iria querer, viveria tudo de novo, ela era minha força, minha vida. E continua sendo. Nosso relacionamento era intenso demais. Tem uma frase que resume bem o sentimento ‘A gente nunca deveria ver partir aquele que vimos nascer’”, destaca Lívia.

A incompreensão do luto é uma das reclamações da RP.  “As pessoas não querem falar sobre morte. Luto é um tabu. Gosto de falar, lembrar da minha filha, não e porque ela morreu que deixou de existir, não deixei de ser mãe. Sempre me perguntam se vou ter outro filho, é uma questão delicada, um amor não substitui o outro. É uma possibilidade a longo prazo, não tenho planos, eles foram encerrados quando ela se foi. Hoje, eu e Wellington estamos nos dando uma nova oportunidade de ser um casal, tudo é novo de novo. Nos apoiamos e vivemos um dia de cada vez. Temos amigos que nos ajudam, temos acompanhamento psicológico e contato com outros pais que passaram pelo mesmo”, citou.

Da dor nasceu o projeto #ParaSempreAliceNitole, através dele, Lívia, o marido e amigos realizam ações sociais, visando  ajudar entidades carentes e fazer o bem ao próximo. “Sempre em datas especificas e difíceis, como Dia das Mães, Natal, e o aniversário dela realizamos alguma ação, já fizemos um carnaval no asilo para celebrar o aniversário dela, que é seis de fevereiro, no dia das mães realizamos uma caminhada e no Natal recolhemos fraldas e artigos de necessidade para outro asilo. Dia dos Pais e um ano de falecimento ainda estamos pensando em qual ação vamos fazer. A campanha partiu da indicação de uma amiga de infância e pediatra Amanda Amaral. É uma forma de manter a alegria da Alice viva, ela sempre estará conosco”, conclui.

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Campanha é uma forma de manter viva a alegria de Alice

 

 

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