O polonês Nicolau Copérnico e o italiano Galileu Galilei guardam muitas semelhanças. Ambos nasceram na idade média, Nicolau em 1473 e Galileu em 1564. Ambos, pendurados nas mãos de suas parteiras, soluçaram e choraram forte pela primeira vez no mês de fevereiro, dias 19 e 15. Já cinquentões, os dois também choraram muitas vezes, mas por outro motivo; coincidentemente o mesmo motivo.
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Jurista, médico e astrônomo, o bom Nicolau descobriu que o Sol era o centro do sistema solar, contrariando a então Teoria Geocêntrica que considerava a Terra como o Centro. Como também era cônego da Igreja Católica, ao perceber que o Papa torceu o nariz diante das suas observações, Nicolau Copérnico tirou momentaneamente seu time de campo.
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A comunidade científica da época também torcia o nariz para a teoria de Nicolau Copérnico exceto Galileu Galilei, matemático, engenheiro e astrônomo, que voltou a desenvolver o assunto dando-lhe o nome de heliocentrismo. Por sua ousadia, apanhou mais do que Neymar na Copa do Mundo de 2014 e foi acusado mais do que o goleiro Barbosa na Copa de 1950.
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O cartão vermelho para o assustado Galileu não tardou, foi ainda no primeiro tempo do século XVII. Investigado pela Inquisição Romana em 1615, que concluiu que o heliocentrismo era “tolo e absurdo em filosofia e formalmente herético, pois contradiz explicitamente em muitos lugares o sentido da Sagrada Escritura”, ele foi condenado e passou o resto da vida em prisão domiciliar.
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Guardadas as proporções, o mesmo sentimento de tristeza sofre na atualidade o técnico Lisca do América Mineiro. Preocupado com o potencial de transmissão que a Copa do Brasil pode ocasionar, ele pede que o torneio seja cancelado e expõe publicamente sua opinião. Indiferente ao apelo, na semana passada a CBF divulgou as datas e horários da Copa com os primeiros jogos amanhã – Madureira/RJ x Paysandu/PA, no Rio, e Moto Club/MA x Botafogo/RJ em São Luiz.
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A Copa do Brasil é atraente. Dá visibilidade a pequenos ou isolados clubes do interior do país e oferece generosa bolsa financeira entre prêmios de 560 mil reais e de quase 72 milhões de reais. Seria tudo isso muito bom e muito bem não estivéssemos vivendo uma cruel pandemia. Com 92 clubes, 80 nas duas primeiras fases e mais doze na segunda, a Copa do Brasil poderá ter cerca de 122 partidas, com os clubes cruzando o país na direção de todos os seus pontos cardeais.
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122 jogos podem ser 122 viagens aéreas, 488 viagens ou pequenos percursos de ônibus, centenas de hospedagens, cafés da manhã e almoços nos hotéis. Como as viagens não serão em aviões exclusivos, atletas, comissões técnicas e dirigentes irão transitar com várias pessoas nos aeroportos e passageiros nas aeronaves. Como cada delegação tem em média 30 pessoas, é fácil fazer o seguinte cálculo: 122 viagens x 50 pessoas diversas x 30: 183.000 contatos diretos, no mínimo.
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Mas, como Nicolau e Galileu, Lisca está sozinho na sua opinião. Tite, técnico da seleção brasileira, diz que o treinador do América Mineiro “vai morrer rouco e doido”. Mais comedido, Renato Gaúcho declara seu carinho ao colega, afirmando que cada um tem sua opinião. Mas deixa claro que o futebol é o local mais seguro. “Estamos fazendo um favor para o povo porque, quando jogamos, é um motivo para o torcedor ficar em casa”.
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E a amiga, o amigo leitor, o que pensam a respeito?
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